A questão das moradias irregulares e desordenadas é um problema das grandes cidades e decorre principalmente do aumento do fluxo migratório campo-cidade. Estudo realizado pelo Laboratório de Realização de Ensaios do Solo, da Escola Politécnica, busca avaliar as condições de estabilidade das encostas da cidade de Salvador e identificar as áreas de risco de ocupação.
POR MARILÚCIA LEAL*
lealmarilucia@gmail.com
Professor titular da UFBA, mestre em Engenharia Civil, Luís Edmundo Prado de Campos coordena duas linhas de pesquisa – estabilidade de encostas e áreas de risco e outra sobre pavimentação, na qual pretende utilizar materiais reciclados na prática. O trabalho busca avaliar as condições de estabilidade das encostas da cidade de Salvador e identificar as áreas de risco de ocupação. São utilizados dados do Laboratório de Realização de Ensaios do Solo e o levantamento topográfico disponível pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder).
Salvador tem hoje uma média de 500 áreas com risco de desabamento de encostas, segundo estudo realizado pelo Laboratório de Realização de Ensaios do Solo, da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. São mais ou menos 77 pontos críticos se compararmos com os resultados do PDE (Plano Diretor de Encostas) finalizado em 2004 pela prefeitura da cidade.
Em função da condição topográfica da cidade de Salvador, há algumas décadas, as áreas com maior risco concentravam-se nas regiões próximas a falha geológica que separa a cidade alta e a cidade baixa. Estendia-se, portanto, nos arredores da Avenida Contorno, próximo ao túnel Américo Simas, no bairro da Liberdade e na Região Suburbana. Hoje, em função do crescimento habitacional desordenado, essas áreas se espalham entre a Avenida Luís Viana Filho (Paralela) e a BR 324. “É importante ressaltar que as pessoas não moram em áreas de risco porque querem. Moram por falta de opção”, defende Luís.
O trabalho da prefeitura e os custos de intervenção
“A cidade é muito dinâmica e o poder público não tem tanta agilidade quanto a população”, explica o pesquisador. Nesse sentido, o desenvolvimento de qualquer tipo de intervenção governamental requer um estudo detalhado da situação, a definição de um projeto e um polígono de atuação. Segundo Luís, esse processo pode durar, no mínimo, dois anos. Os estudos realizados até então precisam ser atualizados, em função da transformação ocorrida nessas áreas nos últimos anos. “A situação é muito complicada, não só aqui, mas em qualquer cidade”, completa.
Outro problema na intervenção dessas áreas apontadas por Luís é o alto custo dos processos, que muitas vezes supera o valor do imóvel. A Cortina Tirantada, por exemplo, método que consiste na aplicação de uma parede de concreto ao local de risco, tem o custo de R$ 1500,00/m². “Enquanto instituição, a prefeitura precisa pensar coletivamente, por isso, não é válido investir quarenta, cinquenta mil reais numa obra para segurar um imóvel que não custa nem dez mil reais”.
As obras de intervenção têm seu custo ainda mais elevado em função da dificuldade de transporte de material. “A forma de disposição dos imóveis dificulta o acesso. Temos, na maioria das vezes, becos, vielas ou grandes escadarias”. O pesquisador chama atenção também para o furto de material durante essas obras. “A cada dia só pode subir a quantidade de material suficiente para aquele dia de trabalho. Se ficar lá no outro dia não encontra mais”, completa.
A economia da cidade de Salvador é sustentada basicamente pelo turismo e pela oferta de serviços, o que deixa a cidade, muitas vezes, condicionada ao governo estadual e federal. “O montante arrecadado com impostos é suficiente para fazer o que é preciso”, explica.
Atualmente, a prefeitura de Salvador utiliza a opção o método do Solo Grampeado, que conste na abertura de furos no terreno. Estes são preenchidos com barras de aço. “A solução é um pouco mais cara, porém mais eficaz e agride menos a aparência, o visual das cidades”, acredita Luís Edmundo.
“A situação é cíclica. Se a cidade atende todas as demandas – o que é quase impossível, começa a atrair cada vez mais pessoas e o problema aumenta”, afirma o pesquisador. Luís Edmundo chama atenção, ainda, para a necessidade do país como um todo avaliar e buscar soluções para o problema da concentração populacional nas áreas urbanas. Segundo ele, isso significa melhor qualidade de vida para todos. “Só assim conseguiremos trabalhar na prevenção, e não nas consequências”, concluiu.
*Marilúcia Leal é estudante de Jornalismo da Facom/UFBA e bolsista da Agência Ciência e Cultura.
**Foto: Manu Dias/Secom