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Atualizado em 6 DE agosto DE 2012 ás 01:51

Paulo Henrique de Almeida

Autor do capítulo “A Economia de Salvador e a Formação de sua Região Metropolitana”, do livro “Como anda Salvador”, o professor e economista Paulo Henrique de Almeida analisa as mudanças entre o panorama traçado na pesquisa, publicada em 2006, e o atual cenário da economia soteropolitana, além de comentar algumas questões chaves para o crescimento da cidade. Almeida, que atualmente é Superintendente de Planejamento Estratégico da Secretária do Planejamento do Estado da Bahia (SEPLAN), considera que Salvador já é um “grande mercado” e que os indicadores sociais melhorarão nos próximos anos. Segundo ele, a chave para o crescimento da cidade são os serviços empresariais, sociais e de turismo. O superintendente ainda critica a prática da “guerra fiscal”, afirmando que o recente incentivo às importações para a criação de empregos portuários é um “tiro de misericórdia na indústria nacional”.

POR RENATO ALBAN*
renatoalban@hotmail.com

Ciência e Cultura – No seu capítulo do livro “Como Anda Salvador”, o senhor escreve: “grandes cidades constituem grandes mercados”. A capital já é a 3ª maior cidade do Brasil, mas é apenas a 8ª cidade mais rica da Federação. Quando Salvador será um “grande mercado”?

Paulo Henrique de Almeida - Salvador já é um grande mercado do ponto de vista nacional. Certamente é um dos dez maiores mercados do país. Existe uma concentração de renda grande, mas de qualquer forma, são três milhões de habitantes na RMS com renda crescente, acesso a crédito, que a gente vê na explosão imobiliária dos últimos anos e da multiplicação de shopping centers. Nós somos um grande mercado.
Ciência e Cultura – Salvador continua a atrair  investimentos de empresas de serviços nacionais e internacionais?Paulo Henrique de Almeida – As empresas que vêm para cá não vem produzir para o mercado local. São empresas que operam com escala de mercado nacional ou internacional. Novas indústrias na área da petroquímica, novas montadoras de automóveis. Empresas exportadoras.

Ciência e Cultura – Em entrevista, o governador da Bahia Jacques Wagner afirmou ser contra a “guerra fiscal” e o STF condenou ações relacionadas à disputa entre estados utilizando como instrumento o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A “guerra fiscal” e a política de atração de indústrias a qualquer custo permanecem vigentes em Salvador e na Bahia?

Paulo Henrique de Almeida – Infelizmente continuam. A guerra fiscal só vai terminar por intervenção federal, já que os estados não entram em acordo para a criação de um sistema alternativo de estímulo e atração de indústrias ao Nordeste. A última radicalização da guerra é esse absurdo que o governador Wagner tem denunciado que é o incentivo às importações a pretexto da criação de empregos portuários. Santa Catarina e Pernambuco têm feito isso. Isso é, diante da concorrência chinesa, para este país, um tiro de misericórdia na indústria nacional. Há um movimento já considerável de federações da indústria e de outros setores da economia juntamente com seguimentos do governo federal no sentido de pressionar o Senado a proibir esse tipo de incentivo. Isso já seria um início. No mais, só quando o governo federal entender a importância de substituir a guerra fiscal por um fundo de desenvolvimento nacional para permitir que empresas venham para o Nordeste sem esse custo do país é que a guerra vai acabar. Não há acordo entre Pernambuco, Bahia e outros estados. É, na realidade, um jogo de soma nula. Um governo ganha, o outro perde. O governo do Brasil como um todo perde. Infelizmente a política continua a ser determinada por isso.

Ciência e Cultura – Segundo os últimos dados do IBGE divulgados, a economia de Salvador registrou um crescimento de 6,08%, mas o mesmo êxito não é registrado nos indicadores sociais. Como explicar a disparidade entre a posição econômica de Salvador e os seus indicadores sociais? Quais caminhos podem ser adotados para diminuir esta lacuna?

Paulo Henrique de Almeida – Há uma tendência clara nessa direção. Durante os últimos anos houve redução considerável do desemprego, mesmo em Salvador, redução da informalidade – de cada três postos de trabalho criados, dois foram formais nos últimos anos -, melhoria do rendimento médio dos trabalhadores e os mecanismos de distribuição de renda. Isso tudo se deu na emergência da classe C. Já uma previsão para que, em dez, vinte anos a gente consiga acabar com a miséria absoluta no país. Salvador tem acompanhado mais lentamente esse processo.

Ciência e Cultura – O paradigma de desenvolvimento econômico, em Salvador, permanece totalmente igual ou há hoje uma preocupação maior com a origem e a distribuição social do PIB?

Paulo Henrique de Almeida – O que há de novidade no governo Lula e do governo Wagner para Bahia é uma política de distribuição de renda consolidada. O pessoal fala muito do bolsa família, mas precisamos lembrar da melhoria da previdência social, dos benefícios da estação continuada, das próprias aposentadorias e da correção do salário mínimo acima da inflação. Essas medidas têm permitido uma reversão do processo secular de concentração de renda. Com a melhoria da distribuição de renda e com o acesso dos pobres ao crédito, houve um relançamento do mercado interno, que é o que tem sustentado a economia brasileira, baiana e soteropolitana.

Ciência e Cultura- As indústrias foram responsáveis por apenas 14,2% do total do PIB da Bahia em 2009. O investimento no setor é a chave para a diminuição do desemprego em Salvador?

Paulo Henrique de Almeida – No livro “Como anda Salvador”, eu escrevo que o desemprego em Salvador deve ser entendido em uma perspectiva de longa duração. Nós sempre tivemos um desenvolvimento marcado pela concentração da renda e da riqueza em função da manutenção de uma economia agrária, de uma modernização tardia da economia, do fato de não existir uma classe média rural forte como no sul do país, do fato de a gente nunca ter tido, de fato, um processo de industrialização, nunca ter tido a formação de um tecido industrial, com pequenas e médias indústrias. É ilusão achar que, em pleno século XXI, nós vamos resolver o problema do desemprego através da indústria. A indústria tende hoje a criar muito pouco emprego. A indústria ela é cada vez mais mecanizada, automatizada, robotizada. E essa indústria que ainda cria emprego, como na produção de sapatos, coisas desse tipo, é uma indústria que a gente costuma perder terreno para os produtos asiáticos, porque nos países asiáticos os salários são ainda mais baixos. Eles não têm os mesmos custos que a gente com relação aos cuidados ambientais, por exemplo. É difícil concorrer com os chineses, com os vietnamitas e com os indonésios na produção de roupas, de tênis, ou coisas parecidas.

Ciência e Cultura – No mesmo livro citado, o senhor aponta três tipos de serviços estratégicos para a metrópole soteropolitana (turismo, empresariais e sociais – educação e saúde). São esses serviços “superiores” que podem elevar o status da economia de Salvador de “regional” para “nacional”?

Paulo Henrique de Almeida – O mantra era ‘atrair indústria, atrair indústria, atrair indústria’. Como se isso fosse resolver tudo. Parecia que os serviços apareceriam como que por geração espontânea, como cogumelos depois da chuva. Em primeiro lugar, nós estamos indo para uma economia pós-industrial, que é uma economia baseada no conhecimento, na produção de conhecimento com conhecimento, de inovação acelerada, intensiva em tecnologia, intensiva em cultura, intensiva em conteúdo. Essa é uma economia que só funciona com produtores e consumidores bem educados. A educação é o setor chave da economia hoje e é preciso lembrar que ele gera renda, ele gera emprego. É um setor da economia como qualquer outro. Tem uma parte pública, tem uma parte privada, uma boa parte dos setores da economia, mas tende a pesar cada vez mais para o PIB. Em segundo lugar, com o processo de envelhecimento da população, os gastos com saúde tendem a crescer muito. Vão ser pagos pelo Estado, vão ser pagos pelas pessoas, mas vão criar um mercado cada vez maior na área de saúde.


Ciência e Cultura – E qual a importância do turismo nesse crescimento?

Paulo Henrique de Almeida – O turismo é importantíssimo também. O setor da economia mais importante no mundo hoje do ponto de vista do impacto global. Além disso, nós estamos indo para uma economia de terceirização, já estamos nela, de subcontratação, uma economia que trabalha em rede, uma organização que articula em rede. Nessa economia, a indústria e as outras empresas tendem a terceirizar uma série de serviços. É preciso que a cidade tenha uma oferta especializada de serviços prestados por empresas para empresas para que ela possa inclusive atrair novas empresas.


Ciência e Cultura – Quais são suas projeções para o futuro da economia soteropolitana? Veremos um estreitamento dos desenvolvimentos econômico e social na capital baiana?

Paulo Henrique de Almeida – Salvador já é e tende a se consolidar como um polo de saúde, médico. Salvador já é e tende a se consolidar como um polo de educação técnica e tecnológica e de ensino superior. Salvador já está sendo um grande destino turístico dentro do país e da América Latina. Salvador tende a se consolidar como o principal produtor empresarial de serviços do norte e nordeste: em engenharia, arquitetura, marketing e serviços jurídicos. Salvador continuará se beneficiando do segundo maior polo industrial do norte e nordeste, o Polo Petroquímico de Camaçari.

Ciência e Cultura – Quais os investimentos necessários para o maior crescimento da economia de Salvador?
Paulo Henrique de Almeida -
A cidade precisa investir mais em telecomunicações, em tecnologias da informação, informática para se ‘bandalargar’ como diz Gilberto Gil. Ela precisa formar seus jovens melhor e conectá-los na rede. É o fundamental para a produção do valor no futuro.

*Renato Alban é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA.

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