Encontro de Físicos debateu pesquisa sobre física quântica com o professor da UFRJ, Luiz Davidovich. Segundo o coordenador geral do evento, esse momento é de ampla popularização da Física para professores e estudantes.
POR EDVAN LESSA* - COLABOROU CAROLINA LEMOS**
lessaedvan@gmail.com
O momento dedicado à pesquisa durante o XXX Encontro de Físicos do Norte e Nordeste (EFNNE) começou, ontem (07), com a apresentação “Exploring the subtleties of the quantum world: from Einstein and SchrÄodinger to quantum information”. Conduzida por Luiz Davidovich da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a palestra teve como tema central a informação quântica que, dentre outras aplicações, serviria para desenvolver computadores mais potentes.
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Davidovich descreve a informação quântica como uma disciplina que investiga métodos como, por exemplo, os que exploram a capacidade de determinadas partículas estarem em duas regiões ao mesmo tempo a favor da tecnologia computacional. “Uma das possíveis aplicações dessa teoria quântica, teoria do mundo microscópico, é na realização de computadores que seriam, para certas tarefas, muito mais velozes do que os atuais”, explica o físico. Ainda segundo ele, esses equipamentos fariam cálculos mais rápidos.
Entender como a natureza se comporta é outra grande motivação da física quântica, para Davidovich. Ele lembra que físicos como Albert Einstein e Erwin SchrÄodinger, apaixonados pela ideia de entender o mundo a sua volta, desenvolveram grandes coisas sem, talvez, imaginar as suas implicações hoje. “Quem imaginaria naquela época que a física que eles desenvolviam pudesse ser empregada, mais tarde, para fazer o laser, o transistor que é a base de computadores atuais; relógios atômicos ultra precisos, sem os quais o GPS não existiria?”, indaga.
A física quântica teve um rápido crescimento nos últimos anos e isso se deve também à sua aplicabilidade. Dessa forma, além do desenvolvimento de computadores quânticos, Luiz Davidovich menciona o uso desse campo para “garantir comunicações” através de códigos criptográficos.
“É possível ter correlações com objetos do mundo quântico muito mais forte do que no mundo clássico”, esclarece o professor. Do seu ponto de vista, essa física é surpreendente e é a parte da ciência que estuda o que acontece com o mundo microscópico, isto é, com elétrons e moléculas. Nesse sentido, Davidovich, fala da diferença entre o mundo micro e o mundo macro – aquele que vemos – e exemplifica que, ao vermos uma cadeira, ela de fato ela está lá, no entanto, no mundo quântico, o átomo pode estar em duas regiões do espaço simultaneamente. “[E] nosso estudo consiste em explorar essas propriedades”, completa.
XXX ENCONTRO DE FÍSICOS – O Encontro de Físicos do Norte e Nordeste teve sua primeira edição no ano de 1983, consolidando-se como um momento importante de congregação de estudiosos da física que debatem sobre ensino e pesquisa. “Para esse evento a gente busca recursos junto às fontes de financiamento tradicional [Capes, CNpq e Fapesb], mas [ele] também é financiado pela própria inscrição dos estudantes, dos participantes, dos professores”, explica o coordenador geral do EFNNE, Roberto Andrade.
O professor do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia comenta sobre a escolha da cidade de Salvador para sediar o Encontro e afirma que ela não esteve associada às pesquisas desenvolvidas aqui. “A Física tem uma capacidade de ser muito universal, então não tem essa questão de estudo local”, destaca. “O que acontece é que a parte voltada mais para os professores do Ensino Médio e dos estudantes de licenciatura termina atingindo mais aquele público local”, completa Andrade, que considera o evento como um momento de popularização da física para estudantes e professores, que são confrontados com novos assuntos.
Dentre as questões mais recentes da física está o estudo em torno da “Partícula de Deus” ou “Bóson de Higgs”, teoricamente surgida logo após ao Big Bang. Roberto Andrade acredita que os altos custos do experimento o tornou emblemático. “Mas acho que a gente tem que olhar para a Física do nosso dia a dia. Ela está no celular da gente; é essa física moderna que possibilita colocar tanta informação num chip; mil fotos dentro de um celular…”, reflete. Para o professor, o avanço no campo é cada vez mais surpreendente. “A gente sempre se confronta com coisas novas”, finaliza.
*Edvan Lessa é estudante de jornalismo da UFBA e bolsista da Agência Ciência e Cultura.
**Carolina Lemos é estudante de jornalismo da UFBA e bolsista da Agência Ciência e Cultura.