Bahia tem como insumos mais utilizados para a produção de biodiesel o dendê, o algodão, a mamona e a soja. O dendê é considerado de melhor custo-benefício por ter um maior aproveitamento na extração do óleo, mas a cultura tem desvantagens reconhecidas no ponto de vista ambiental, que nem sempre são mostradas às claras por governos e produtores
Wagner Ferreira*
wagner.ferreira@ufba.br
A demanda por energia limpa é cada vez maior em todo o planeta. Não há disputa entre os combustíveis chamados renováveis e fósseis. Pesquisadores têm em mãos um dos seus maiores desafios: construir sistemas integrados de energia e alimentos, que levem em consideração formas específicas de acesso aos recursos naturais e tenham como base a valorização de padrões de uso sustentável e ocupação do solo. No âmbito do meio ambiente, o efeito estufa deixa cada vez mais quente o planeta. Isso acontece devido o aumento de dióxido de carbono na atmosfera (para cada 3,8 litros de gasolina que um automóvel queima, são liberados 10 kg de CO2 na atmosfera). A queima de derivados de petróleo, chamados combustíveis fósseis (não renováveis) contribui para o aquecimento do clima global por elevar os níveis de CO2 na atmosfera.
Tendo em vista tais desvantagens, o governo brasileiro tem estimulado a produção e a comercialização do biodiesel. Para isso, publicou o Decreto No. 5.488, em 20 de maio de 2005, que regulamenta a lei 11.097 (janeiro / 2005) para a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira. Desde o ano da lei até 2008, a proporção autorizada na matriz energética brasileira foi de 2% do diesel comum e 5% até 2013, mas já são pensados 20%, uma vez que nos Estados Unidos, os automóveis movidos com 100% de biodiesel têm apresentado rendimentos surpreendentes. Mesmo com motivações política e econômica, que levou o Brasil a diversificar sua matriz energética, ainda é necessário encontrar equilíbrio entre as oportunidades desse novo mercado e os entraves tecnológicos.
A Bahia tem como insumos mais utilizados para a produção de biodiesel o dendê, o algodão, a mamona e a soja, destes, o primeiro é considerado de melhor custo-benefício por ter um maior aproveitamento na extração do óleo, base do biodiesel. Apesar do alto rendimento, a cultura tem desvantagens reconhecidas no ponto de vista ambiental, que nem sempre são mostradas às claras por governos e produtores. O empobrecimento do solo, onde a cultura é cultivada em médio prazo e o alto grau de desmatamento das florestas, para dar espaço às plantações de dendezeiros é só um dos problemas crescentes, uma vez que a demanda por biodiesel derivado do dendê tende a aumentar em todo estado.
Essas barreiras começam a ser derrubadas na Bahia com a realização do primeiro Workshop Internacional Sobre Bioenergia e Meio Ambiente, que aconteceu em junho de 2010 em Salvador e reuniu pesquisadores envolvidos com o tema bioenergia, para compartilhar informações, idéias e construções de novos projetos que visem à produção em larga escala de energia renovável no estado.
O Workshop apresentou uma alternativa ainda pouco apoiada pelos governos federal e estadual, mas que no mínimo deve ser observada com mais interesse pelas agências financiadoras de projetos para uma possível produção em larga escala de biodiesel através da biomassa algal (microalgas).
O tema foi explanado pela doutora em Biologia Marinha pela USP e coordenadora científica do Laboratório de Ecotoxicologia e Biomonitoramento da Ufba, Iracema Nascimento. A pesquisadora buscou com a realização do Workshop, convencer os representantes de instituições financiadoras a liberar recursos para que se torne possível, em médio prazo, a substituição progressiva do uso do dendê pelas microalgas como primeira alternativa de energia limpa dentro do estado.
Para isso, a pesquisadora contou com o apoio de nomes importantes em nível mundial, que já desenvolvem trabalhos com o cultivo de microalgas na Itália e Espanha, como o Dr. Giovanni Sansone da Universidade di Napoli Frederico II e o Dr. José A. Perales Vargas do Centro Andaluz de Ciência y Tecnologia da Universidade de Cadiz na Espanha.
No início dos trabalhos, Iracema Nascimento mostrou o processo de captação, armazenamento e produção em cativeiro das microalgas, que segundo a pesquisa, pode render entre 50 a 150 t de óleo por hectare/ano, vantagem 25 vezes maior sobre o dendê, que rende de 3 a 6 t por hectare/ano.
As microalgas ainda saem na frente do dendê simplesmente devido a sua origem marinha. Elas crescem em lugares que não terras agrícolas, o que evita danos ao ecossistema, já que não é necessário o uso de agrotóxicos ou fertilizantes. A água, utilizadas nos tanques e reservatórios para o cultivo das microalgas pode ser reutilizada para uso humano e animal.
A pesquisadora ainda explicou que com o uso de microalgas como matéria prima na produção de biodiesel não há o risco do comprometimento da produção de alimentos, comum em outras culturas utilizadas em grande quantidade na produção de biomassa.
Estima-se que cada tonelada de biomassa algal consuma 2 toneladas de CO2, por meio de fotossíntese. Isso representa 10 a 20 vezes mais do que o absorvido pelas culturas oleaginosas tradicionais.
Algumas vantagens do biodiesel
Algumas desvantagens do biodiesel
Entendendo bioenergia
Os biocombustíveis constituem apenas um segmento da bioenergia, que inclui ainda o carvão vegetal, biogás, lenha e a co-geração da energia elétrica e calor a partir das biomassas. A grande vantagem do biodiesel em relação aos combustíveis fósseis é sua obtenção a partir de qualquer óleo vegetal, além de gorduras animais, e, diferentemente do etanol, sua produção, mesmo não sendo exclusiva da agricultura familiar, tem forte componente social, bem como vantagens econômicas e ambientais.
A utilização de energias renováveis – hidroelétricas, energia de biomassa, solar e eólica, pode contribuir para a preservação ambiental e tem como pressuposto o desenvolvimento sustentável. Entretanto, ainda representa um grande desafio científico e tecnológico. Novas tecnologias em energias renováveis devem ser integradas às circunstâncias econômicas, políticas e culturais em cada território. No caso da Bahia, a atenção dada pelos órgãos competentes às microalgas se faz necessária, a fim de diversificar e ampliar o leque de culturas disponíveis no estado e assim encontrar a que gere maior produtividade, menores custos de produção e impactos sócio-ambientais. Para isso, é necessária uma difusão qualificada dessas tecnologias, sempre observado pelo olhar desconfiado da imprensa especializada.
*Jornalista pós-graduando em Jornalismo Científico e Tecnológico pela Ufba