Junto ao Núcleo de Pesquisa em Performance Musical e Psicologia da UFBA, Diana Santiago da Escola de Música entrevistou pianistas em formação para tentar compreender como veem a expressividade nas suas execuções. O objetivo é reestruturar currículos e auxiliar professores da região Nordeste a terem uma melhor visão de seus alunos.
POR EDVAN LESSA*
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O piano é um instrumento musical clássico, mas de apropriação criativa como qualquer outro. E “por que não” pensar que o Axé baiano, por exemplo, renderia performances interessantes com ele? “[Porém] nossa cidade não favorece o pianista. Aqui [em Salvador] é difícil, inclusive, encontrar teatros com piano”, revela Diana Santiago da Escola de Música da UFBA, que descobriu, ao investigar a técnica e a expressividade de estudantes da região Nordeste, uma forma de auxiliar professores a entenderem melhor seus alunos nesse cenário.
A intenção é adentrar sobre o campo da psicologia da música. Diana Santiago parte da motivação de que a expressividade das execuções de pianistas em formação, a partir de suas condições social, econômica e acadêmica é fundamental. “Como ensinar se não temos uma visão aprofundada dos nossos alunos?”, indaga. A sua pesquisa iniciada em 2009 envolve, sobretudo, cognição, e amplia o trabalho do Núcleo de Pesquisa em Performance Musical e Psicologia (NUPSIMUS).
Com o NUPSIMUS a professora observou as relações de estudantes de bacharelado, licenciatura com sua prática e vivência musical, isto é, ida a teatros, participação em apresentações, etc na Bahia. Com o estudo iniciado na UFBA, submeteu seis alunos a um questionário sobre o que compreendiam sobre técnica musical e obteve respostas sobre o que cada um achava da expressividade na própria execução pianística, e como a praticavam fora do ambiente de ensino.
Houve uma incipiência nos conceitos apresentados nas respostas, nesse primeiro momento, de acordo com a professora de piano. E a coleta de dados não parou por aí. Outros estados do Nordeste brasileiro participaram da investigação, a exemplo de Alagoas e Sergipe, com pouco menos de 20 pessoas entrevistadas até o final de 2012. “Descobri um pessoal de Pernambuco que eu vou tentar estudar [também]. É um curso técnico estadual. Há muitos alunos de piano”, conta a pesquisadora.
“O que eu percebi, em geral, é uma tendência [dos estudantes] focarem na técnica em detrimento da parte expressiva. E mesmo os alunos dos últimos semestres responderam de uma maneira que até assusta o professor”, sobressalta Santiago ao revelar que eles também não sabem explicar como é que estudam expressividade.
Apesar de muitos estudantes estarem no período final do curso e, ainda assim, não terem uma ideia clara do que é expressividade, ou de que modo devem trabalhar com ela, as explicações vão melhorando no decorrer da formação. Na visão da pesquisadora, entender as emoções, ou seja, os aspectos expressivos do estudo de piano é tão importante quando lidar com a sua técnica.
Até aqui, nota-se uma “evasividade” dos estudantes sobre o que entendem por expressividade. Isso ajuda a compreender um pouco a sua “mente musical”. Mas busca-se, principalmente, reestruturar o currículo dos cursos de piano, enfatiza Diana Santiago. “Sou professora da universidade e não estou vendo apenas pelo lado artístico”, afirma, complementando que pretende auxiliar outros professores a entenderem melhor os seus estudantes.
Performance de piano em Salvador
Resultados obtidos com o Projeto de Pesquisa “Estilos de atuação e desempenho na execução musical: aspectos da prática musical e da performance em duas escolas de música no Brasil”, finalizado em 2010 por Diana Santiago, revelaram grande discrepância entre as características da prática na cidade do Salvador (BA) e em Curitiba (PR). Os dados constataram que um terço dos alunos da UFBA estudavam seu instrumento principal por menos de 5 horas semanais, e que, 56% desses mesmos alunos, menos de 10 horas por semana.
Na capital da Bahia, a prática pianística tem mudado desde que surgiu o Neojibá, por exemplo, de acordo com Santiago. Ela lembra que o piano se tornou caro nessa região do país. “É bem diferente no Rio Grande do Sul, Paraná, onde há uma tradição trazida pelos alemães”, compara.
*Edvan Lessa é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA e bolsista da Agência de Notícias Ciência e Cultura.