Ana Rita Andrade, mestre em Ciência da Informação, realizou em 2012 uma pesquisa no CETAD/UFBA - Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas, através do Instituto de Ciência da Informação da UFBA, e constatou benefícios obtidos no tratamento de pessoas dependentes de drogas através do estímulo à leitura.
POR EMILE CONCEIÇÃO*
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Em estudo realizado no CETAD – Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas da UFBA, a pesquisadora Ana Rita Cordeiro de Andrade, mestre em Ciência da Informação e atual coordenadora da Biblioteca do CETAD, confirmou que o hábito da leitura traz benefícios psicológicos a usuários de drogas, além de proporcionar a inclusão social dessas pessoas que na maioria das vezes se encontram em situação de exclusão. A pesquisa teve a colaboração dos psicólogos e psiquiatras do CETAD, emitindo pareceres técnicos através do questionário empregado pela pesquisadora.
Foi constatado, no decorrer do trabalho, que a leitura de textos – que vão desde Os músicos de Bremen, dos Irmãos Grimm, a Um brinde à vida, de Clarice Lispector, provocaram mudanças positivas de comportamento nos pacientes, como maior auto-estima, externalização de sentimentos e reflexões, o que contribuiu no controle do uso de drogas e no aprendizado. Esse tipo de tratamento é chamado biblioterapia, uma terapia que utiliza a leitura como tratamento para problemas psicológicos. Essa prática é aplicada por psicólogos e psiquiatras. “A leitura terapêutica mediatizada pelo livro e pela interpretação pode ser considerada como uma terapia do diálogo, um diálogo biblioterapêutico, que não é o simples diálogo, mesmo bem sucedido, em que cada um fala e escuta em atitude de respeito mútuo” explica Andrade em sua dissertação.
Durante os encontros de leitura realizados no CETAD, os internos se sentiram à vontade para manifestar suas opiniões acerca das situações apresentadas nos livros e, até mesmo, fazer relações entre suas próprias histórias e as dos personagens. Segundo Andrade, além de servir como forma de tratamento, a leitura ainda proporciona aos pacientes muitos momentos de diversão, descontração e alegria. Eles podem esquecer, pelo menos por instantes, seus dramas pessoais e dificuldades que enfrentam no dia a dia do tratamento. Segundo relatos dos pacientes, os dependentes fazem uso das substâncias psicoativas porque ao utilizá-las “podem sair de si mesmos, viajar, perceber a beleza das coisas ou ficar mais tranquilos”. Com o hábito da leitura, eles podem descobrir outros tipos de prazeres relacionados à liberdade, não condicionados ao uso indiscriminado de drogas. Ler proporciona a “liberdade de pensar, compreender, refletir, informar, compartilhar, sonhar e aprender a sonhar”, diz a pesquisadora.
Ao final do trabalho, Ana Rita faz conclusões referentes aos profissionais de Biblioteconomia. Ela diz que a biblioterapia é uma atividade que deve ser assumida pelos biblioteconomistas e, para tanto, a disciplina deve ser incluída no curso. Faz-se necessário, ainda, a ampliação do número de pesquisas na área da biblioterapia, nos diversos âmbitos, não somente do tratamento de usuários de drogas, a fim de aumentar o conhecimento experimentado sobre o assunto.
Metodologia
A metodologia utilizada durante a investigação foi a coleta de dados através da pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo, observação individual, entrevistas, aplicação de questionário e pesquisa documental. As pesquisas de campo e a observação foram feitas de forma individual pela pesquisadora que fez interpretações embasadas pela pesquisa bibliográfica e pela pesquisa documental nos prontuários dos pacientes. Os internos foram acompanhados por Ana Rita durante oficinas de leitura realizadas pelo Grupo de Apoio e Investigação da Adolescência (GAIA) em um trabalho conjunto com a biblioteca do CETAD.
As oficinas foram adotadas como uma forma de ajudar as crianças e jovens dependentes durante o tratamento. Conforme relatado por Andrade, os pacientes resistiram à ideia de participar de oficinas de leitura, por medo de serem obrigados a ler como acontecia no colégio. Preferiam outras oficinas como yoga, dança, música, bijuteria e fotografia. Os organizadores, então, resolveram mudar o nome do projeto para Oficina de Audiovisual para atraí-los. A estratégia deu certo, e com o tempo os internos se habituaram e até reclamavam quando não tinham o que ler, nem com quem conversar sobre as leituras feitas.