Saiba mais sobre o funcionamento do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA.
POR DANIELLE MESQUITA JACÓ*
dmj.266@gmail.com
A interdisciplinaridade é inerente à área cultural e a peculiaridade do PosCult é ser multidisciplinar. Para entendermos melhor sobre o funcionamento do Programa conversamos com o Professor do IHAC e Coordenador do PosCult da Universidade Federal da Bahia, Adalberto Santos.
Ciência e Cultura - Quais as linhas de pesquisa o PósCult possui?
Professor Adalberto Santos - São 3 linhas de pesquisa, Cultura e Identidade, Cultura e Arte, Cultura e Desenvolvimento. Os professores não têm uma distribuição muito rígida no interior das linhas, ele pode atuar em mais de uma linha, até porque a formação dos professores é interdisciplinar, assim como os nossos projetos são interdisciplinares, alguns projetos perpassam por arte, identidade e desenvolvimento.
Ciência e Cultura - Existem outras atividades desenvolvidas pelo programa além do mestrado e doutorado?
Adalberto Santos - As atividades de um programa de pós-graduação incluem atividades de pesquisa, atividade de orientação, docência e atividades administrativas. Os professores têm projetos que são apresentados ao programa e fazem parte do escopo da nossa produção. Todos os professores do programa de pós-graduação possuem um projeto de pesquisa com alunos que vão desde a graduação até o doutorado, até membros externos participam disso, alguns projetos tem inter-relações com outras instituições dentro e fora do Brasil. Os professores participam das diversas comissões que são necessárias para a concepção da vida acadêmica do programa, desde processo seletivo, julgamento de projetos de pesquisa de professor, comissão de bolsa, uma série de atividades administrativas que os professores tem que desenvolver. Além disso, tem um grupo de professores que compõem um colegiado de curso, que é o órgão gestor do programa e hoje é composto por sete nomes, dentre os quais está o coordenador, no caso eu, a vice- coordenadora Rita Aragão e mais quatro professores e mais um representante estudantil, eleito pelos estudantes. E não podemos esquecer que ele tem as atividades obrigatórias da graduação, trabalhos de extensão, de docência, ele não está liberado destas atividades.
Ciência e Cultura - Quais as vantagens e desvantagens do programa por ter esse caráter multidisciplinar?
Adalberto Santos - A vantagem é a própria natureza do tema, ele é interdisciplinar pela natureza do tema que é a cultura, nas inter-relações com a sociedade só pode ser tratado de maneira interdisciplinar, o programa nasce com essa perspectiva. As dificuldade de afirmação do campo multidisciplinar no Brasil, acho que são idênticas, primeiro você tem uma tradição de vários anos na educação brasileira de ensino disciplinares, então, o campo está formado em torno das propostas disciplinares e o campo de afirmação de um programa de pós graduação implica uma série relações com agentes que não são internos à Universidade, como revistas, centros de financiamento à pesquisa e esses espaços ainda estão sustentados basicamente por concepções disciplinares, o que faz com que os programas interdisciplinares tenham uma certa dificuldade em vencer essa barreira da disciplinaridade, que vai impactar um pouco nas publicações nossas porque a quantidade de revistas eminentemente interdisciplinares e quem tem um conselho editorial com profissionais aceitos às metodologias e às práticas de caráter interdisciplinar são poucas, então, fazem com que a gente tenha dificuldade de publicar em revistar de maior qualificação. A ausência de um comitê interdisciplinar no CNPQ é extremamente grave para a gente, porque qualquer professor que esteja alocado em um programa interdisciplinar acaba tendo que se inscrever na área disciplinar na hora de solicitar fomento, então, é uma contradição você ter um projeto multidisciplinar e ter que escolher uma área disciplinar e ser avaliado na perspectiva de uma disciplina. É uma questão muito mais da dinâmica do campo que está se afirmando no Brasil de maneira categórica, os programas de pós-graduação de caráter multidisciplinar são os que mais crescem. Isso não quer dizer que o campo disciplinar tenha que desaparecer, mas, entender que alguns campos devem ser tratados na perspectiva disciplinar e outros na multidisciplinar.
Ciência e Cultura - A linha de pesquisa “Cultura e Arte” pode ser considerada genérica?
Adalberto Santos - Na verdade a perspectiva da gente é criar uma área que cuida as questões vinculadas às artes, sobretudo no aspecto das artes que trabalham com intercontextos artísticos, alocar aqui dentro do programa determinadas práticas artísticas que não encontram espaço nos estudos mais tradicionais de estudo de artes. Nós não tratamos especificamente de artes visuais, teatro e música, tratamos de projetos que trabalham de maneira interdisciplinar que tratam das diversas facetas das artes e dessas conexões com outros temas.
Ciência e Cultura - O corpo docente é composto por quais áreas do conhecimento?
Adalberto Santos - Nós temos mais de quarenta professores, vindos de arquitetura, administração, comunicação, letras, história, museologia, ciências sociais, instituto de humanidades. Em geral temos professores de todas as unidades da UFBA e estamos abertos a isso. As formações são das mais diversas, tem gente com formação na área da tecnologia, ciências humanas, artes. E uma quantidade significativa de profissionais que tem essa formação de maneira interdisciplinar, que transitaram por mais de um contexto. Como é o meu caso que tenho formação na área da sociologia, mas, tenho formação na área das artes, então, tem vários que professores que transitam por dois mundos, dois ou mais.
*Danielle Mesquita Jacó, estudante de graduação em Comunicação Social em Produção Cultural