A descoberta do Allosaurus fragilis em Portugal implicou em desafios para pesquisadores de diversos campos científicos.
POR MARIANA ALCÂNTARA E MARIANA SEBASTIÃO* -DE LISBOA, PORTUGAL
alcmariana@gmail.com e marianasebastiao@gmail.com
O que você faria se encontrasse um dinossauro em seu quintal? Foi o que ocorreu com o agricultor José Amorim, ao iniciar abertura das fundações para a construção de um anexo destinado ao apoio de atividades agrícolas, em Andrés, Santiago de Litém, Pombal. Dentre os fósseis encontrados na jazida de Andrés uma surpresa: a presença de Allosaurus fragilis, espécie antes conhecida apenas nos Estados Unidos da América. Esta fascinante história é contada detalhadamente na exposição “Allosaurus: Um Dinossáurio, Dois Continentes?” aberta ao público no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa (MUHNAC – UL).
A descoberta ao acaso desses fósseis ocorreu quando a retroescavadora desenterrou ossos fossilizados de diversas dimensões, muitos deles completos, mantendo até mesmo conexão anatômica. Convicto de que estava diante de restos de dinossauros, José Amorim tomou as providências para que o acontecido ficasse conhecido por entidades responsáveis pelo estudo de fósseis. E foi a partir daí que o MUHNAC tornou-se parte desta incrível história.
Todas as fases da exploração nesse sítio estão expostas logo no início da mostra, onde é possível observar fotografias das escavações e até mesmo um pequeno ambiente organizado de maneira a simular um sítio paleontológico. Para a fase das escavações, foi necessária a utilização, primeiramente, de grandes ferramentas, sendo que na medida em que o trabalho se tornava mais complexo, os instrumentos se tornavam cada vez mais delicados, assemelhando-se aos utilizados pelos dentistas. Todas estas fases e utensílios usados pelos pesquisadores também está à disposição para conhecimento do público.
Allosaurus em Portugal – A espécie Allosaurus fragilis foi descrita para a ciência em 1977 pelo paleontólogo americano Othniel Charles Mash. No entanto, a primeira descoberta de fósseis atribuídos a esta espécie aconteceu no Colorado, Estados Unidos, provavelmente, em 1870, e deve-se ao coletor Benjamin Mudge, assistente de Mash. A espécie está bem representada em terrenos de outros estados deste país, como Montana, Novo México, Oklahoma, Dakota do Sul, Utah e Wyoming, sobretudo, nos níveis que constituem a sequência sedimentar designada por Formação de Morrison (156 a 157 milhões de anos).
A descoberta do Allosaurus fragilis em Portugal implicou em desafios para pesquisadores de diversos campos científicos. Os restos dos fósseis deram indicações de como era o ambiente naquele local no período Jurássico superior. E o mais importante: este achado contribuiu para verificar que há cerca de 150 milhões de anos houve transferência de faunas continentais entre a América do Norte e a Península Ibérica. E isso só seria possível graças à proximidade entre estes dois pontos do Planeta, que hoje se encontram separados graças ao movimento das placas tectônicas ao longo dos milhões de anos.
A geóloga Joana Reis, bolseira e colaboradora MUHNAC, afirma que por ter essas informações, a exposição é muito importante para estudantes, sobretudo do ensino secundário, pois trabalha vários aspectos do programa pedagógico da escola, como o movimento das placas tectônicas e a constituição dos ambientes: “A exposição fala das metodologias utilizadas na paleontologia, além de mostrar o que os profissionais da área fazem com os fósseis, que é muito mais do que apenas identificar as espécies. Existe uma tentativa de, por meio desses restos, entender como era o ambiente na época em que os animais estavam vivos”, completa.
A exposição “Allosaurus: Um Dinossáurio, Dois Continentes?” é permanente no MUHNAC e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, e aos sábados e domingos das 11h às 18h. Para agendar uma visita guiada, escolas devem contatar o museu antecipadamente por meio do telefone 21 392 18 00 ou e-mail: geral@museus.ul.pt.
*Mariana Alcântara é jornalista (Facom-UFBA), especialista em Jornalismo Científico e Tecnológico pela mesma faculdade, e mestre pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, dessa universidade.
*Mariana Sebastião é jornalista pela Facom-UFBA e estudante de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências da mesma universidade.