Redações integradas, jornalismo convergente, multimídia e novos formatos. A internet modificou as formas de se produzir e consumir notícias e na Bahia não foi diferente. O panorama atual pode não ser favorável, mas os meios locais parecem estar se inserindo nestes processos; descubra como.
RENATO CAMILO OSELAME
renato.oselame@gmail.com
O consumo de notícias no Brasil e no mundo está se modificando gradualmente. O antes tradicional hábito de ler o jornal para descobrir os acontecimentos mais relevantes do dia tem se alterado drasticamente com o advento da Internet e das possibilidades que a web oferece para a publicação de conteúdo. Qualquer pessoa do mundo pode se tornar um potencial produtor de notícias, desde que tenha acesso a um computador e a uma conexão de qualidade.
Sobretudo pela velocidade com a qual os internautas podem ter acesso a uma gama cada vez mais diversificada de informação, este novo panorama parece estar colocando em xeque o modo com os quais os meios de comunicação produzem e disponibilizam conteúdo. A revista Newsweek, por exemplo, amargou uma queda de sua tiragem de 4 milhões para 1,5 milhão em menos de uma década e, em outubro de 2012, anunciou que estará investindo em sua versão online para abandonar a edição impressa.
Aparentemente, contudo, essa crise parece não estar chegando com tanta força ao Brasil. No primeiro semestre de 2012, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) comemorou um aumento de 2,3% na venda de jornais no país. Segundo o Projeto Inter-Meios, do jornal Meio & Mensagem, de janeiro a agosto do mesmo ano a receita publicitária dos veículos impressos cresceu pouco mais que 2,5%.
Apesar dos resultados positivos, o cenário está se alterando. A versão impressa do Jornal do Brasil, fundado em 1891, publicou a sua última edição impressa no dia 31 de agosto de 2010 – para se dedicar a sua versão online. Já o Gazeta Mercantil, considerado o mais tradicional jornal de economia do país, criado em 1920, deixou de existir no dia 29 de maio de 2009. Apenas dois anos antes, segundo o Instituto Verificador de Circulação (IVC / Julho de 2007), a publicação contava com uma vendagem diária de 70 mil exemplares. Conscientes da crise na imprensa internacional, os principais jornais de Salvador também passaram a investir em suas versões online e nas novas possibilidades dos meios digitais.
Nesse sentido, um projeto de pesquisa ousado busca compreender os modos pelo qual os veículos web têm se adaptado às possibilidades do “Jornalismo Convergente”. O termo é explicado por Suzana Barbosa, que é uma das coordenadoras da iniciativa e doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal da Bahia: “Trata-se de um panorama de reunião entre vários meios, onde o texto não é mais a única possibilidade. Unidos a ele podemos ter o áudio, o vídeo e outros formatos advindos da tecnologia digital”.
Intitulado “Laboratório de Jornalismo Convergente”, o projeto investiga, em sua primeira etapa, como esse processo vem se desenvolvendo em publicações nacionais e internacionais com o objetivo de construir um quadro teórico-metodológico sobre o tema. Depois disso, os pesquisadores pretendem construir um aplicativo que sirva como um novo formato para o consumo de notícias.
No início da proposta do projeto, contudo, Barbosa explica que considerou a possibilidade de analisar os principais jornais baianos (Correio* e A Tarde), mas a situação “díspar” em relação aos demais objetos de estudo fez com que estes fossem abandonados. “A escolha do A Tarde para o projeto, foi impulsionada por todo o processo de convergência que eles começaram em 2007, mas passou por várias mudanças, enfrentando uma crise difícil”, explica a pesquisadora, “Eu acompanhei estes processos e fui vendo a dissolução de ideias e cargos, além de funçõs para a convergência jornalística”.
Por motivos parecidos, o Correio* também foi excluído da pesquisa. “O jornal passou por um processo de reformulação em 2008 com a ideia de implantar uma redação multimídia. Na proposta original, havia até mesmo uma bancada na redação onde os editores que cuidavam das diversas plataformas se sentavam juntos”, descreve, acrescentando que atualmente o móvel foi retirado e a redação online do jornal até hoje fica fisicamente separada dos jornalistas do impresso.
Redações integradas, convergência e inovação – Apesar da crise, a reportagem do Ciência e Cultura procurou as duas publicações para compreender como estes planos de inovação foram realinhados para o funcionamento das redações atualmente.
No Grupo A Tarde, entrevistamos Iloma Sales, editora coordenadora de Mídias Digitais do Portal A Tarde. O site engloba não somente uma produção de conteúdo própria, mas também uma webtv e o serviço Mobi, que disponibiliza o conteúdo do portal para o celular. Entre o A Tarde TV (ATV) e o portal, Iloma esclarece que há uma iniciativa de convergência que é pensada desde a elaboração das pautas. “A equipe da ATV nos convoca ou nós os convocamos. Isso não inclui apenas o Portal, já aconteceu, por exemplo, com a Revista Muito e outras editorias do jornal impresso. A partir daí há um planejamento/produção para que a ideia/sugestão aconteça”.
O jornal já adota o modelo da redação integrada, mas a cooperação entre os meios impresso e digital ainda não é ideal. “Infelizmente, a colaboração nem sempre é espontânea. Ainda existe a cultura do papel e o pensar, para alguns repórteres, apenas uma mídia por vez. É uma dificuldade inerente ao ser humano. Nem todos os repórteres da redação, e aí incluo suas chefias, são da geração Y e ou se reprogramaram para inserir outras plataformas em seu cotidiano.”
Apesar disso, Iloma identifica um esforço mútuo na construção de pautas factuais e outras, mais elaboradas, desde que pensadas com antecedência. Ela afirma também que o jornal possui um projeto para disponibilizar conteúdo para o iPad, mas ainda não há previsão para o lançamento deste formato.
Embora não tenha planos para avançar em outros formatos a curto prazo, o Correio24horas desenvolve uma relação mais natural entre formato web e impresso. Segundo Wladmir Lima, editor do portal, não é incomum que jornalistas do site publiquem matérias no jornal. “O Correio24horas funciona, muitas vezes, como os olhos e ouvidos da redação e é quem determina, em muitos momentos, a hora que um repórter do impresso vai para a rua cobrir uma pauta de Cidades, as mais hard news, por exemplo”, explica. “Por outro lado, cabe ao repórter do impresso passar o retorno da apuração in loco para a redação e essa mão dupla é cada vez mais importante para o bom funcionamento de ambos”.
Em termos de multimídia, o editor afirma que qualquer veículo precisa inovar e condensar diversas mídias em um só espaço. “Com o Correio24horas não é diferente. Nesse sentido, a busca por torná-lo mais integrado e capaz de dialogar com os vários tipos de mídia não cessa. Aí, vale tudo: casar texto, Storify (rede social para criação de histórias e linhas do tempo), imagens, vídeo, streamming, liveblogging, sites de redes sociais. Um veículo online é sempre bem maleável nesse sentido”.
*Renato Oselame é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA.