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Atualizado em 17 DE maio DE 2013 ás 17:52

Mariana Alcântara

A popularização ou, para alguns pesquisadores, a divulgação da ciência, na Bahia, é uma atividade relativamente recente na agenda política. No entanto, ações nesse sentido são muito importantes para despertar o interesse, especialmente dos jovens - mas também da população como um todo - em relação à importância do conhecimento científico e do empoderamento das capacidades humanas que estão a ele atreladas. Confira na entrevista a opinião de Mariana Alcântara, mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia, que em sua dissertação analisa como ocorre e qual a situação do modelo de divulgação da ciência na Bahia.

POR LUCAS MACEDO NASCIMENTO*
lukaslmn@hotmail.com

Ciência e Cultura – Em que consiste o modelo de popularização da ciência na Bahia?

Mariana Alcântara – Com a criação da semana de Tecnologia e Ciências, em 2004, por meio de decreto do governo Federal, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), que desde 2001 vinha fazendo trabalhos de incentivo ao desenvolvimento das atividades científicas e tecnológicas no estado, passou a realizar em 2006 atividades para a semana de C&T com o lançamento de uma chamada pública para pesquisadores, que teriam um apoio de R$5.000,00 para propor e realizar atividades no evento da Semana Nacional de C&T.

Em 2007, com Dora Leal Rosa como diretora geral da Fapesb há uma reformulação que confere institucionalização ao programa, ao atribuir o caráter de apoio científico, com um edital mais elaborado que explica e define melhor a proposta do programa. Ele consiste, desde então, num programa baseado em quatro pilares que visam: estimular a vocação à iniciação científica; promover a divulgação científica; popularizar e difundir as ciências e tecnologias; promover a capacitação de docentes de maneira continuada na área científica e tecnológica. Esses objetivos são construídos através da publicação dos editais do programa “Popciências”, que apoiam a realização de eventos em C&T, inovação científica e em práticas educacionais nas escolas públicas da Bahia, entre outros.

É importante ressaltar, então, que o lançamento de editais na área de popularização de ciência e tecnologia são absolutamente importantes, porque, além de incentivar grupos de pesquisa e novos pesquisadores nesta área, que possam debater criticamente esse assunto, promovem um investimento também na questão vocacional das pessoas, não apenas enquanto um estímulo ao ingresso na área de ciências como física, química, biologia, mas para se construir uma consciência do seu estar na sociedade e de uma crítica com relação a todos esses âmbitos do conhecimento e de como eles interferem em sua vida.

Ciência e Cultura – Qual o perfil para ser um pesquisador e divulgador da ciência?

Mariana Alcântara – Na minha pesquisa pude identificar que esses pesquisadores, entre 2006 e 2011, foram contemplados de uma a três vezes, e têm como perfil, especialmente, não estar apenas em laboratório buscando resultados e os divulgando entre pares, apenas na comunidade científica; eles também se preocupam em divulgar esses conteúdos para a sociedade. Esses pesquisadores, em muitos casos, tiveram em algum momento de suas vidas mestres e professores que os sensibilizam e os influenciaram para o trabalho na educação científica e popularização da ciência, como o caso do professor da UFRJ, Leopoldo de Meis, que teve grande influência sobre o trabalho desenvolvido pelo Marcos Vannier, que hoje em dia coordena o projeto Ciência na Estrada da Fiocruz Bahia. Trata-se de um ônibus-laboratório que faz um belo trabalho de divulgação da ciência e de conscientização para a higiene e saúde. São, então, pesquisadores diferenciados, se preocupam em difundir o conhecimento em outros meios que não apenas o científico, é a consciência de que um auxílio à pesquisa que tem origem nos cofres públicos, precisa trazer um resultado social mais amplo.

Ciência e Cultura – Quanto se investiu nesse setor, você identificou que realmente há uma preocupação do governo?

Mariana Alcântara – De 2006 a 2011 foram investidos um total de R$ 4,8 milhões. É possível observar que a partir do início da gestão de Dora Leal Rosa há um salto do valor de apenas R$ 105 mil, em 2007, para R$ 900 mil, em 2008, e R$ 1,1 milhão, em 2009. Porém, em 2010 e 2011, há uma queda, pois apesar de haver um valor considerável no período, apenas metade foi investimento direto do estado, sendo que a outra parte foi investimento do CNPq.

O que se pode constatar também é que, apesar da evolução, é ainda um valor baixo de investimento já que se analisarmos que em um ano houve um investimento de R$ 1 milhão, mas em um período de seis anos um valor total de apenas R$ 4 milhões, algo se mostra incoerente. Além disso, se compararmos os editais Popciências com outros editais da Fapesb, pode-se constatar que os valores ainda são baixos, especialmente os que envolvem projetos de pesquisa mais extensos, normalmente de dois anos, onde se tem uma serie de demandas como pagamentos de bolsas, por exemplo, e orçamento limitado a R$40 mil, o que gera ainda algumas dificuldades aos pesquisadores.

Ciência e Cultura – O que ainda é necessário em termos de ações nesse setor?

Mariana Alcântara – É necessário, ainda, mais investimentos, especialmente na popularização da ciência, que são projetos que proporcionam um crescimento dos participantes, não somente enquanto estímulo ao interesse pelas ciências, mas de uma forma mais abrangente, já que um aluno de escola pública integrado a um projeto dessa natureza precisa desenvolver uma série de competências que vão estimular habilidades como a redação, conhecimentos em informática, apresentação pessoal, entre outros. Além disso, as atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia tem ainda um perfil unidirecional, não estimulam um diálogo e um questionamento maiores, tem um caráter mais de espetáculo, de show, e não de uma contribuição mais aprofundada, elas precisam ainda de certas adaptações.

*Lucas Macedo Nascimento é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA.

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