Na sua sexta edição, o Congresso Brasileiro de Herpetologia vai contar com a participação de três importantes universidades baiana (UEFS, UFBA e UESC). Dentre a programação geral do VI CBH inclui ampla diversidade de assuntos relacionados ao estudo de anfíbios e répteis. Além de diversas atividades simultâneas, tais como apresentações de trabalhos, palestras, conferências, mesas-redondas, oficinas e concursos, na composição do VI Fórum RAN/ ICMBIO, que será melhor explicado pela coordenadora do fórum, a professora Vera Ferreria Luz, em entrevista dada a jornalista Nádia Conceição.
POR NÁDIA CONCEIÇÃO*
Ciência e Cultura – Sabemos que para muitos a palavra “herpetologia” é totalmente estranha. Desta forma, a senhora pode explicar o que é herpetologia e qual a importância dela para a sociedade e para os pesquisadores da área?
Vera Ferreira Luz – Herpetologia é o estudo dos répteis e anfíbios. Os répteis são representados pelos quelônios, crocodilianos, serpentes, lagartos e anfisbênias. Os anfíbios englobam os sapos, pererecas, salamandras e cecílias. Qualquer estudo com estes animais pode ser classificado dentro do ramo da herpetologia e quem trabalha com estes animais pode ser chamado de herpetólogo.
Ciência e Cultura – O que te chamou atenção na organização do VI Congresso Brasileiro de Herpetologia que será realizado em Salvador?
Vera Ferreira Luz – Os organizadores do VI Congresso Brasileiro de Herpetologia foram muito felizes na escolha do tema “Herpetologia Integrativa”, pois um congresso é exatamente isto: congregar pessoas, ideias, trabalhos em um cerne comum que é a herpetologia. Neste sentido, também integram as diversas áreas do conhecimento, muito além da biologia, que já é uma área bastante ampla. A ideia é unir esforços e multiplicar as perspectivas de abordagem dos problemas comuns. Diversidade sempre é bom!
Ciência e Cultura – Quem pode participar do evento e quais os pré-requisitos?
Vera Ferreira Luz - Acho que o principal pré-requisito é ser interessado na área da herpetologia. É comum termos entre os participantes além de estudantes e professores de todo o Brasil, pessoas com formação em áreas bem distintas da biologia, pessoas sem uma formação acadêmica superior, autodidatas e até mesmo alunos do ensino médio que já se mostram interessados na área da herpetologia. Todos são bem vindos e tem muito a contribuir!
Ciência e Cultura – Gostaria de saber como o VI Fórum RAN/ICMBIO foi organizado e quem foram seus promotores.
Vera Ferreira Luz – A organização e coordenação do Fórum são de responsabilidades do RAN e ocorre historicamente junto ao Congresso de Herpetologia, em um entendimento com a Sociedade Brasileira de Herpetologia (SBH), e que tem dado muito certo ao longo dos anos. O VI Fórum é promovido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBIO, com o apoio logístico da SBH e dos coordenadores do VI Congresso, quanto à disponibilização do espaço e apoio técnico para a sua realização. Nos esforçamos bastante para superar problemas logísticos e orçamentários, pois reconhecemos a importância deste encontro e os benefícios que ele proporciona.
Ciência e Cultura – Qual o objetivo específico da realização do Fórum do RAN dentro do CBH?
Vera Ferreira Luz - Creio que são dois os principais objetivos do Fórum do RAN cujo tema é Monitoramento da Herpetofauna e as Políticas Públicas para Conservação da Biodiversidade. Em primeiro lugar, discutir os diferentes protocolos de procedimentos básicos utilizados em pesquisas e em monitoramento da herpetofauna, que possam contribuir para uma padronização de metodologias, entre instituições científicas e governamentais. Em segundo,promover o encontro do governo com a comunidade científica, buscando compor uma rede integrada de instituições para que sejam adotadas sistematização padronizada de coleta de dados de monitoramento e a gestão compartilhada das informações sobre a herpetofauna.
Ciência e Cultura – Nos últimos anos temos visto uma onda crescente de movimentos que reforçam a proteção e combate ao desmatamento. Desta forma, até que ponto a biodiversidade da fauna é realmente contemplada nesses movimentos?
Vera Ferreira Luz – A proteção do meio ambiente não tem como ser feita apenas com a repreensão dos infratores, desta forma estaríamos tratando do problema sempre depois que ele já ocorreu. O ideal é tratar da causa do problema pra evitar que ele ocorra. Neste ponto a informação é nossa melhor aliada. O crescente movimento da sociedade em prol do meio ambiente representa a consciência da importância de se preservar os recursos naturais. Marcam o início de uma mudança da sociedade para uma forma mais sustentável e justa.
Ciência e Cultura – Como o RAN tem feito para conservar a biodiversidade? Tem dado certo? Como é feito?
Vera Ferreira Luz – O RAN é um Centro Nacional de Pesquisa para Conservação da Herpetofauna, responsável pela gestão de informações que subsidiam a implantação de medidas de conservação voltadas aos répteis e anfíbios, atua dentro das seguintes linhas estratégicas: Avaliação do estado de conservação das espécies de répteis e anfíbios – Resulta numa lista de espécies categorizadas segundo o grau de ameaças. Estas listas são importantes na medida que indicam a necessidade de ações voltadas para a conservação das espécies e seus habitats; Elaboração e implementação de Planos de Ação Nacionais (PAN) para os répteis e anfíbios – São ferramentas de gestão pactuadas com a sociedade civil organizada, objetivando minimizar as ameaças que põem em risco a sobrevivência das espécies; Programa de pesquisa e monitoramento – Para as espécies ameaçadas, com dados insuficientes e indicadoras de qualidade ambiental, bem como ao manejo e uso sustentável de quelônios e crocodilianos amazônicos. Os estudos visam conhecimentos biológicos e ecológicos das espécies de répteis e anfíbios e seus habitats.
Esses estudos são realizados por meio de parcerias com instituições públicas, privadas, comunidade científica e organizações não governamentais; Programa de Educação socioambiental – Desenvolve projetos específicos que permeiam todas as ações do RAN através de cursos e de produção de material informativo e ludo pedagógico, buscando a promoção e sensibilização sobre as questões do meio ambiente, em especial quanto a importância dos répteis e anfíbios para a manutenção do equilíbrio ambiental.
Portanto, o RAN vem envidando esforços consideráveis para implantar a gestão participativa, com o envolvimento efetivo de todos os interessados na conservação da herpetofauna brasileira. É cada vez mais evidente para o RAN a importância de continuar nessa linha de atuação, consolidando suas atividades nos diferentes ecossistemas brasileiros e proporcionando a geração e subsequente disponibilização de conhecimentos e informações aplicadas à gestão dos répteis e anfíbios do Brasil.
Ciência e Cultura – De que forma a responsabilidade do indivíduo é questionada/comparada dentro da sociedade? Pergunto isso porque não adianta vários núcleos desenvolverem pesquisas e experimentos, sendo que, em alguns casos, ele não é partilhado com a sociedade para que ela seja inserida no processo. Como o Congresso e o fórum e a RAN tem se comportado diante disto?
Vera Ferreira Luz – Este problema tem muitas frentes de trabalho que vem sendo melhor abordadas nas últimas décadas. A difusão do conhecimento científico para o público que dentro da área chamamos de “leigo” tem sido feita através da mídia principalmente nos canais pagos, em revistas especializadas e com muito êxito pela internet, onde encontramos informação para todo o tipo de público em vários graus de complexidade, basta ter interesse. Acho que a organização do congresso acertou em investir num site dinâmico e atrativo, bem como a divulgação nas redes sociais. O RAN tem feito o mesmo, investindo na construção de um site que é um pouco engessado por termos modelo governamental, mas temos também uma página no Facebook que divulga não só conhecimentos sobre a herpetologia mas também nossas ações “em tempo real”. Adicionalmente, o RAN conta com um grupo técnico em educação ambiental que leva até as comunidades uma informação ambiental de qualidade, a conscientização e sensibilização das pessoas e ainda a formação de propagadores do conhecimento nestas comunidades.
Ciência e Cultura – Como vai ser configurado dentro do congresso? A temática e as formas de atrair pessoas?
Vera Ferreira Luz – O Fórum do RAN não é um fórum aberto a todos os participantes do congresso, ele é mais uma oficina de trabalho com pesquisadores convidados, onde ao final pretendemos gerar um produto específico de qualidade científica e credibilidade. Não é o momento de apresentar ou divulgar um resultado, onde a presença de todos seria importante. Desta forma o convite é pessoal e já foi feito aos pesquisadores participantes e palestrantes que já confirmaram presença. A temática e cronograma de trabalho também já foram estabelecidos de acordo com as necessidades do RAN e do ICMBIO.
Maiores informações sobre o RAN: http://www.icmbio.gov.br/ran/
Facebook: https://www.facebook.com/repteiseanfibios
*Nádia Conceição é jornalista, estudante de Produção Cultural da Facom e estagiária da Agência de Notícias.