Nelson Pretto, professor da Faculdade de Educação da UFBA e Secretário Regional da SBPC-Bahia fez uma cobrança pública a respeito do destino histórico de um dos principais espaços de divulgação da científica na Bahia, o Museu de Ciência e Tecnologia da Boca do Rio.
POR NELSON PRETTO*
nelson@pretto.info
Preparava-me para escrever aos três candidatos à Reitoria da nossa Universidade do Estado da Bahia (UNEB) que estão em campanha na busca de obter apoio da comunidade para administrar a maior universidade multicampi do estado, presente em 24 municípios baianos. Minha cobrança pública seria em relação ao destino do histórico Museu de Ciência e Tecnologia, cujo prédio na Boca do Rio está ocupado pelo setor de extensão da Universidade, tendo sido praticamente destruído o belo projeto liderado pelo então governador Roberto Santos. Cobrança esta já feita publicamente à Uneb, quando da outorga do título de doutor honoris causa ao presidente da Academia de Ciências da Bahia, ex-reitor e ex-governador Roberto Santos. Na oportunidade todos mencionaram a criação do referido Museu como uma importante obra do homenageado sem, no entanto, pronunciar uma só palavra sobre a sua reconstrução.
No final do mês passado, pelo decreto estadual nº 14.719, o Museu de Ciência e Tecnologia – (MCT) foi transferido da Secretaria de Educação – portanto da UNEB – para a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), assim como foi para a SECTI o histórico Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (CEPED), que desempenhou importante papel na pesquisa e desenvolvimento da Bahia nos anos 1970/1980.
Desde muito a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC/Bahia) e toda a comunidade científica baiana vem reclamando da ausência de uma sólida política de divulgação científica em nosso Estado, o que, evidentemente, inclui o fortalecimento do Museu da Boca do Rio e muitas outras ações, tanto no campo museológico como numa maior utilização da mídia.
A comunidade científica nacional também está atenta e já se manifestou, a exemplo do professor Antonio Carlos Pavão, diretor do Espaço Ciência de Pernambuco, uma das bem sucedidas experiências de divulgação científica, através de museus do país. A carta do professor Pavão, que também é vice- presidente da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC), dirigida ao governador da Bahia, resgata um pouco da nossa história: “acredito que esta nova vinculação estrutural não será impedimento para o bom funcionamento do MCT BA (um projeto pioneiro no Brasil, que marcou história ao ser inaugurado em 17.2.79, com o título de “I Museu de Ciência e Tecnologia da América Latina”, apenas uma década após o Exploratorium de S. Francisco, CA (1969), museu de ciência referência no mundo e onde a equipe que fundou o MCT BA foi treinada, naquele tempo sob a direção do ícone Franck Oppenheimer).”
Quando da inauguração do Polo Tecnológico da Bahia, na av. Paralela, tive a oportunidade de manifestar nas conversas com autoridades e parlamentares lá presentes, nossa preocupação com o fechamento do histórico e belo Museu da Boca do Rio – hoje incrustado no coração de Salvador – já que se anunciava para lá a criação de um novo espaço para museu.
Agora, com o decreto recém-assinado, nosso temor aumenta, já que no seu art. 4º está previsto que “a SECTI e a UNEB deverão promover, no prazo de 180 dias, os atos necessários ao remanejamento, transporte ou transferência, mediante inventário, do acervo técnico e patrimonial mobiliário afetados ao MCT”, sem, no entanto, mencionar para onde esta transferência ocorrerá, o que, implicitamente, indica a não utilização do atual prédio da Boca do Rio.
Mais do que preocupante, isso é grave. A manifestação dos colegas de Pernambuco também foi explicita neste sentido, já que o decreto não indicou se “o prédio do MCT BA, fazendo parte desta história como marco arquitetônico da museologia científica [seria] preservado exclusivamente para suas atividades de educação e popularização da ciência”, como todos defendemos.
Este texto, antes pensado exclusivamente para ser dirigido aos três candidatos à reitoria da UNEB, agora tem entre os seus destinatários, os Exmos Governador da Bahia e Secretário da SECTI que precisam, urgente e publicamente, assumirem um compromisso com a história, a ciência e a tecnologia em nosso Estado.
Por favor, não matem a nossa história! Salvemos o Museu de Ciência e Tecnologia da Boca do Rio.
*Nelson Pretto é professor da Faculdade de Educação da UFBA e Secretário Regional da SBPC-Bahia.