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Atualizado em 6 DE setembro DE 2013 ás 18:38

Os anônimos da Inquisição

Segundo pesquisador de Madrid, delatores foram peças fundamentais para os tribunais da Igreja Católica.

POR EDVAN LESSA*

Durante a Idade Média, período que compreendeu os séculos V a XV, muitas pessoas foram submetidas a um tribunal religioso que recebeu o nome de Inquisição. Nem mesmo o cientista Galileu Galilei escapou dessa instituição – ele foi considerado insano por seus estudos astronômicos. A realidade, no entanto, foi diferente para milhões de pessoas entregues à fogueira.

A Igreja Católica era a instituição que punia os indivíduos contrários aos seus dogmas. Para uma boa parte das pessoas, pode nem sempre ser evidente que a Inquisição não teria funcionado sem os chamados delatores, ou seja, as pessoas que prestavam testemunhos e depoimentos para denunciar praticantes de heresias, de acordo com o professor Juan Ignacio Pulido Serrano, da Universidad de Alcalá de Henares (Madrid).

Na última quinta-feira (05), Serrano participou da conferência  “Inquisição ao rés da terra: delaciones y testimonios en España durante el siglo XVII”. A palestra integra o II Simpósio Internacional de Estudos Inquisitoriais, realizado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH-UFBA). “Continua sendo necessário estudar a Inquisição porque é um fenômeno que não desapareceu”, destacou o professor espanhol.

“Quando vemos o quadro famoso do pintor Francisco de Ricci, Auto de fe en la Plaza Mayor de Madrid (1683), capital do império, se vê toda a sociedade, mas falta também explicar os que estavam abaixo como espectadores ou colaboradores daquela instituição”, acredita o pesquisador. A referida obra é uma encomenda feita a Ricci pelo Conselho da Inquisição para documentar o “auto de fé”, ocasião em que se punia publicamente os hereges.

Auto de fe en la Plaza Mayor de Madrid (1683).

Auto de fe en la Plaza Mayor de Madrid (1683).

Alguns teóricos acreditam que o protestantismo condenou à morte mais pessoas do que a o catolicismo. Mas o professor Juan Ignacio acredita no contrário. Para ele, a Inquisição “foi a mais terrível das instituições, que permitiu que o mal que existe em  todo o indivíduo pudesse se materializar”, justificou.

Para contextualizar o fenômeno inquisitorial, o professor de Madrid utiliza o conceito de “tirania da maioria”. A tese, retirada do clássico Democracia na América, de Alexis de Tocqueville, versa que interesses de minorias – a exemplo de grupos étnicos, raciais, religiosos, homossexuais  - são barrados por uma parcela majoritária da sociedade, ou seja, essa forma de autocracia é um enfrentamento à  igualdade e liberdade política, que são a base da democracia.

Saber como eram os inquisidores, o que estudavam, o que pensavam são preocupações do pesquisador da Espanha. “Temos estudado quem eram os qualificadores, fiscais, mas temos estudado quem eram os colaboradores, senão faltaria uma parte fundamental da instituição ou da projeção da instituição na sociedade”, coloca.

Nessa perspectiva, é evidente que ainda há muito a ser investigado pelos estudiosos do fenômeno inquisitorial, apesar de uma grande quantidade de registros ter sido acessada por historiadores nos últimos anos.“É preciso terminar o quadro, que está incompleto ou não é suficiente”, pondera Serrano.

*Edvan Lessa é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA e estagiário da Agência de Notícias Ciência e Cultura.

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