O segundo dia de debates, do II Simpósio Internacional de Estudos Inquisitoriais, foi marcado por temas como as críticas aos julgamentos realizados pela igreja, as perseguições sofridas pelos judeus e as visitas do Santo Ofício ao Rio de Janeiro. Os historiadores Yllan de Matos da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Ângelo de Assis da Universidade Federal de Viçosa e Ronaldo Vainfas da Universidade Federal Fluminense marcaram presença na Mesa 1 de discussões, que aconteceu no dia 05 de setembro.
*Emile Conceição
Não é novidade para ninguém que os judeus foram perseguidos pelo Santo Ofício da Igreja Católica na Idade Média. Nessa época o judaísmo era considerado crime passível de pena de morte. Eles eram proibidos de praticar a religião e obrigados a se converterem ao cristianismo. Os que relutavam eram julgados e condenados a torturas, e até à morte, pela Inquisição. Muitos por medo aceitavam ser batizados, passando a ser chamados cristãos novos, a fim de fugir das penas cruéis, mas na clandestinidade continuavam fiéis aos ensinamentos de Moisés.
Até mesmo os que se convertiam à religião Católica eram, permanentemente, vigiados pelos delatores da Inquisição que observavam se eles continuavam seguindo os costumes judaicos, como não comer carne de porco, guardar os sábados, entre outros. Caso fosse verificada desobediência às leis Católicas, os novos cristãos eram entregues ao juízo inquisitório.
Ameaças, humilhações públicas e sequestros de crianças judias para serem criadas por famílias cristãs, eram algumas das estratégias utilizadas pela Igreja para amedrontar os judeus e consequentemente aumentar o seu rebanho de fiéis.
Apesar de toda a perseguição, o judaísmo sobreviveu. Mas isso se deve, segundo o professor Ângelo de Assis da Universidade Federal de Viçosa, às mães judias que eram consideradas verdadeiras rabinas. No aconchego de seus lares elas transmitiam a tradição aos filhos. Durante a apresentação, o professor mencionou o caso de uma mulher que foi condenada à morte por fazer a circuncisão nos seus próprios filhos e nos de outras pessoas que a procuravam para essa finalidade.
Ao perceberem o crescimento da Inquisição, muitos judeus fugiram de seus lares e foram se refugiar em várias partes do mundo. O Brasil, por exemplo, foi um dos destinos favoritos deles. Os novos cristãos se espalharam pelo mundo e ajudaram no crescimento econômico de muitos países.
A Mesa 1 de discussões, do dia 05 de setembro, também recebeu o professor Ronaldo Vainfas da Universidade Federal Fluminense. O historiador apresentou seu projeto de pesquisa Santo Ofício em terra Fluminense, que ainda está em andamento. “Esse projeto é uma contribuição. Por que ainda não há um estudo sobre a ação inquisitorial no Rio de janeiro. Há estudos sobre alguns casos. Nós estamos, inclusive, quantificando os réus, os delitos, os agentes policiais da Inquisição, os comissários, que eram as autoridades máximas, e vamos fazer a análise de alguns processos importantes”, disse o pesquisador.
Durante a explanação Ronaldo falou sobre as visitas feitas pelo Santo Ofício ao Rio de Janeiro a fim de procurar por hereges refugiados. A primeira visita aconteceu em 1591. Vale salientar que o Rio de Janeiro foi a capitania brasileira mais perseguida pela Inquisição devido à sua importância na colônia. A maior quantidade de processos encontrados, até o momento, sobre o Brasil foi de judeus ou judaizados.
O historiador Yllan de Matos, da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, também esteve presente na mesa de debate. Ele apresentou o trabalho feito para sua tese de doutorado intitulado A Inquisição Contestada, que fala sobre aqueles que foram contrários à tirania do Santo Ofício. A exemplo do Padre Antônio Vieira que foi um grande crítico da Inquisição no século XVII.
“Esse foi o ponto principal da pesquisa. A Inquisição não era aceita por todos, embora muitos a quisessem. De fato ela passou a ser criticada por ser uma ação arbitrária e interessada no confisco de bens”, comentou. Outra instituição religiosa, A Companhia de Jesus, também chegou a combater o Santo Ofício.
Todas essas discordâncias dentro da instituição fizeram com que a Inquisição fosse suspensa. Em 1674 o Papa suspendeu o Santo Ofício com apoio total dos Jesuítas. Porém, em 1681 essa foi reabilitada.
Yllan finaliza deixando uma mensagem “Citando o professor Luiz Mott, ‘Inquisição nunca mais’. Esse é um recado que os historiadores que lidam com essa área de pesquisa devem passar. A Inquisição não deve se repetir, deve-se valorizar essa diversidade religiosa e não perseguir os outros como vem acontecendo nos últimos anos, nos últimos dias”.
* Estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba e estagiária da Agência de Notícias em Ciência, Tecnologia e Inovação.