Em reunião realizada ainda ontem na China, autoridades brasileiras e chinesas concordaram em se esforçar para antecipar ao máximo o lançamento de um novo satélite da série, inicialmente previsto para 2015
Cesar Baima/O Globo*
A China admitiu ontem que uma falha ainda não especificada no terceiro estágio do foguete Longa Marcha 4B foi responsável pela perda do CBERS-3, quarto integrante da série de satélites sino-brasileiros de observação da Terra iniciada em 1999, logo após seu lançamento na madrugada da última segunda-feira de uma base no país. Em um comunicado, a China Great Wall Industry Corp. (CGWIC), responsável pela operação, informou que a fabricante do equipamento, a Shanghai Academy of Spaceflight Technology, está investigando o problema.
Mas se é nos momentos de crise que se testa a vontade, o fracasso no lançamento do CBERS-3 servirá então como uma boa prova para a força da convicção do Brasil de dominar a tecnologia espacial. O diagnóstico é de David Vaccaro, diretor da equipe internacional da Futron, empresa de consultoria especializada no setor aeroespacial sediada nos EUA. Segundo Vaccaro, depois de amargar anos à deriva após a tragédia da explosão, em 2003, de um foguete na plataforma da base de Alcântara, Maranhão, que matou 21 técnicos do projeto do nacional Veículo Lançador de Satélites (VLS), nos últimos tempos o programa espacial brasileiro parece ter reencontrado seu rumo, registrando avanços tanto no campo político quanto científico que serão críticos para seu futuro.
- Vemos no Brasil um crescimento do debate em torno de sua política espacial que, independentemente das decisões que serão tomadas, é um sinal positivo quanto à importância que está sendo dada ao assunto – avalia Vaccaro, citando como exemplo os planos de fusão da Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que já foram defendidos anteriormente pelo atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp quando ocupava a presidência da própria AEB. – Há um foco maior do Brasil na visão de longo prazo para sua presença no espaço, evidenciado no PNAE (Programa Nacional de Atividades Espaciais, divulgado no início deste ano e que estabelece diretrizes e ações do programa espacial brasileiro para o período entre 2012 e 2021), e o repasse de recursos do orçamento para os programas da AEB vem aumentando, o que vemos como um investimento estratégico. A falha no lançamento do CBERS-3 certamente é um percalço, mas de forma alguma deverá descarrilhar o programa ou colocar em risco o acordo com a China.
E se depender das primeiras reações do Brasil ao fracasso de segunda, o país segue no rumo previsto pelo PNAE de chegar ao espaço por meios próprios ainda ao longo dos próximos dez anos. Em reunião realizada ainda ontem na China, autoridades brasileiras e chinesas concordaram em se esforçar para antecipar ao máximo o lançamento de um novo satélite da série, inicialmente previsto para 2015. A data para a operação, no entanto, ainda está longe de ser definida, ressalta Petrônio Noronha de Souza, diretor de Política Espacial e Investimentos Estratégicos da AEB.
- Esta antecipação ganhou uma prioridade elevada – conta Petrônio. – Mas para isso ainda temos uma multiplicidade de detalhes a serem abordados. Alguns equipamentos do novo satélite ainda estão sendo fabricados e a agenda de trabalho também precisa levar em consideração outras questões, como logística etc. É um planejamento complexo e uma data de lançamento definida não é algo que saia de uma simples reunião.
Confira matéria: http://oglobo.globo.com/ciencia/china-admite-falha-em-foguete-lancador-11031940#ixzz2nA6p3q7V