Estimativa da Sociedade Brasileira revela que 2,7 mil novos casos da doença surgirão a cada ano Brasil
POR NÁDIA CONCEIÇÃO*
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A desinformação sobre os sintomas, inclusive do médico do serviço de atenção básica à saúde, tem dificultado o diagnóstico precoce do câncer ósseo. Apesar disso, são notórios os avanços conquistados pela especialidade a partir da década de 70, quando a forma mais recomendada para o tratamento eram as amputações.
Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (SESAB), em 2012 o estado registrou 615 casos de internações por neoplasia maligna do osso ou cartilagem articular, desses, 515 casos somente em Salvador.
A Sociedade Brasileira de Cancerologia estima que surjam, a cada ano, 2,7 mil novos casos de câncer ósseo. A doença pode ser primária ou secundária, quando tem origem de metástase de outros órgãos.
Segundo a médica Flávia Nogueira, da oncologia pediátrica do Grupo de Apoio a Criança com Câncer (GACC), os tumores ósseos são mais frequentes na adolescência.
Podem ser do tipo osteossarcomas – tumor maligno que se propaga rapidamente para os pulmões e, com menos frequência, para outros órgãos – e pelos tumores da família Ewing – conjunto de doenças de células neuroectodérmicas (grupo de células embrionárias) primitivas que constituem 6% de todos os tumores ósseos malignos primários.
“O osteossarcoma corresponde a 2,6% de todos os cânceres da infância e adolescência e os tumores da família Ewing representam aproximadamente 4%”, explica. O diagnóstico é feito através de biópsia da lesão. O tratamento é feito com quimioterapia, cirurgia e, nos casos dos tumores Ewing, pode ser necessário o uso da radioterapia.
Avanços - O câncer ósseo ainda é pouco conhecido pela população, assim como seus sintomas, contudo, são notórios os avanços conquistados pela especialidade. “Nos últimos 20 anos, avançamos muito no tratamento. O uso de próteses modulares não convencionais tem assegurado sobrevida e maior qualidade na recuperação dos movimentos”, assegura o precursor dos estudos em cancerologia ortopédica na Bahia, o médico Alex Guedes.
A divulgação de informações sobre a doença é precária o que prejudica a formação dos médicos e o diagnóstico precoce. Coordenador do Serviço de Cirurgia do Tecido Ósseo e Conectivo do Hospital Aristides Maltez e do Grupo de Oncologia Ortopédica do Hospital Santa Izabel, Alex Guedes, afirma que em muito dos casos a ausência de diagnostico é resultante de descuido do paciente que não dá importância ao sintoma da dor.
GACC - “Caso contrário, a doença teria mais chances de cura com a detecção precoce”, explica. O problema é agravado na Bahia onde faltam centros especializados no tratamento do câncer ósseo acessíveis à comunidade em geral.
Para operacionalizar um tratamento desse tipo é necessário ”uma equipe multidisciplinar e hospitais com os recursos para realizar os tratamentos como a radioterapia, quimioterapia, entre outros recursos necessários”, diz Guedes.
Em Salvador, o GACC é um dos poucos centros especializados no tratamento de câncer que dispõe de estrutura multidisciplinar de atendimento a crianças.ServiçosO grupo tem cunho filantrópico e oferece aos pacientes carentes hospedagem, transporte, alimentação, serviço social, atendimento odontológico, psicológico, terapia ocupacional, orientação nutricional, além de fornecer cesta básica para os pacientes em tratamento, bem como órtese e prótese.
“No caso dos tumores ósseos há uma particularidade: a possibilidade de mutilação quando o diagnóstico é dado tardiamente. Isso causa grande impacto e desorganização familiar”, diz Flávia Nogueira.
A oncologista chama atenção para o fato de que o suporte da equipe que acompanha o paciente deve ser multidisciplinar. “Fazer parte do fluxo de atendimento dessas crianças e adolescentes é uma lição de vida diária, pela coragem e solidariedade na qual enfrentam a doença e o seu tratamento”, comenta.
“Eles nos ensinam, com dor e sofrimento, a enfrentar dificuldades e nos fazem lembrar que mais importante que curar é cuidar”, completa. Para Alex Guedes, a falta de atenção do estado para com o câncer ósseo é notória, sendo que esta afirmação pode ser constatada quando se olha para o inexpressivo número de especialista na área. “A invisibilidade da doença dificulta o diagnóstico, afirma.Formação”Esse é um ponto negativo e influencia diretamente nos resultados dos tratamentos”, alerta. No entanto, o médico acredita que a situação melhorou bastante.
“Minha perspectiva é dar continuidade ao processo de formação de novos especialistas para tratar o câncer de osso. De 1993 até 2013 já formamos 25 turmas de residentes especializados câncer de osso”. As especializações foram oferecidas no Hospital das Clinicas e no Hospital Santa Izabel, onde ele atua.Os hospitais Aristides Maltez, Santa Izabel, Instituto Baiano do Câncer e Clínicas oferecem serviço especializado.
*Nádia Conceição é jornalista, estudante de Produção Cultural e bolsista da Agência de Notícias FACOM – UFBA