A tese de doutorado mostrou as contribuições do sistema organizacional e sua influência no desempenho dos funcionários.
LAÍS MATOS*
lais.matos.rosario@gmail.com
Com o passar dos anos, as formas de trabalho vão se modificando e as organizações sofrem transformações em suas estruturas. Isso interfere diretamente na vida e no comportamento dos trabalhadores. A consequência dessas transformações no modo de trabalho dos funcionários implica na reestruturação das suas relações ou dos vínculos psicológicos. Surge então, a necessidade de um estudo dessas relações comportamentais do funcionário com a empresa.
Buscando entender o comportamento dos indivíduos nas organizações o pesquisador Antônio Virgílio Bittencourt Bastos desenvolveu sua tese de doutorado intitulada ‘Comprometimento com o trabalho: Padrões em diferentes contextos organizacionais’. O professor é graduado em psicologia e mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia, doutor em psicologia pela Universidade de Brasília e professor Titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Atualmente é o coordenador da Superintendência de Avaliação e Desenvolvimento Institucional (SUPAD) da Ufba.
Em seu estudo, o pesquisador buscou compreender o comprometimento do trabalhador em vários segmentos e comparou padrões de comprometimento a partir de três focos- organização, carreira e sindicato – a partir das inovações organizacionais. Durante a pesquisa, foram levados em consideração vários fatores como a relação das variáveis pessoais, características do trabalho e políticas organizacionais com diferentes níveis de vínculo com o trabalhador.
Foram identificados oito padrões de comportamento em uma amostra de 1.029 trabalhadores de 20 organizações brasileiras. Apesar de ser produzido em 1994, a tese permanece bastante atual, pois se associa às novas formas de trabalho que surgiram no século 21 a partir de inserção das tecnologias móveis no cotidiano das pessoas. Um estudo que se faz necessário constantemente nos modelos corporativos.
Antônio Virgilio demonstra que o processo global de reestruturação da produção nas empresas, deve buscar superar o modelo tradicional e burocrático das organizações. As mudanças econômicas, tecnológicas e culturais trouxeram a necessidade de uma maior flexibilidade organizacional.
Desde o final dos anos 40 tem se pensado em estabelecer novas estruturas nas organizações a fim de substituir o modelo burocrático e mecânico, bastante hegemônico, associado à lógica taylorista – fordista, sistemas que visavam a racionalização extrema da produção e, por isso, a maximização da produção e do lucro (o funcionário exerce apenas sua função no menor tempo possível, sem conhecer o processo de produção inteiro). Já esses novos modelos ressaltam a capacidade de aprendizagem como qualidade básica, são empresas que reduzem a hierarquia e oferecem oportunidades de trabalho inteligente, estimulando a criatividade e o interesse dos operários.
O estudo analisou a distribuição dos padrões comportamentais em quatro contextos organizacionais, diferenciados quanto ao nível e ao tipo de inovação organizacional implementada como demanda dos processos de transformação econômica e tecnológica. Foram coletados dados de 42 organizações em três estados brasileiros, associando o comprometimento do trabalhador ao perfil da empresa e as suas variáveis pessoais.Os resultados apontam que a clássica organização burocrática diferencia-se significativamente das demais inovadoras pela maior presença de padrões com baixo comprometimento organizacional. Quatro tipos de organizações foram analisados, uma com perfil burocrático tradicional e três com características inovadoras.
Os resultados também mostraram que a organização burocrática possui padrões bem mais frágeis de comportamento, no entanto, nos outros três contextos inovadores que foram analisados, apesar de terem indicadores mais positivos nessa questão, não se apresentam de forma homogênea quanto aos padrões de comprometimento. Em sua tese, o pesquisador Antônio Virgilio conclui que essa diferença mantém os padrões heterogêneos (variados) e isso pode ser produto da importância psicológica que os próprios operários atribuem ao sindicato, além do nível de profissionalização das ocupações predominantes em cada organização.
Ele revela que é fundamental neste processo a aproximação entre as empresas e os sindicatos, para aliar fatores pessoais, ideológicos aos aspectos referentes à natureza das relações entre as duas entidades, que podem ser mais integrados ou conflituosos. Já a relação organização-carreira liga-se aos processos internos que as organizações estruturam. O objetivo é incentivar, como as empresas inovadoras fazem ao reorganizar o trabalho de forma que ofereça maior aproximação entre as expectativas profissionais de seus membros e as tarefas que efetivamente desempenham, e o comprometimento positivo diante dessa relação torna-se um indicador de sucesso.
*Graduanda no curso de Comunicação Jornalismo na Universidade Federal da Bahia e bolsista da Agência de Notícias em C,T&I