Wendel Henrique Baumgartner é professor da Ufba, onde atua na graduação e na pós-graduação. É doutor pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e realiza pesquisa sobre o papel das universidades em cidades médias e pequenas. Na entrevista, esclarece as consequências da instalação de universidades e institutos nas cidades de interior, principalmente na Bahia. Além disso, dialoga sobre os cortes na educação propostos pelo governo e como podem alterar o panorama das universidades que estão em processo de consolidação, principalmente no interior.
POR MARINA MATOS*
marinabmatoss@gmail.com
Ciência e Cultura- Como a instalação de universidades e institutos altera o panorama das cidades médias e pequenas?
Wendel Baumgartner - São vários os acontecimentos e praticamente todos eles simultâneos. O primeiro é a chegada de um contingente de pessoas novas na cidade, que geralmente têm uma maior qualificação. Chegam os professores, a maioria tem mestrado e doutorado; os técnicos administrativos e estudantes. Essa “migração” de pessoas de alta qualificação já cria um impulso inicial de alterações significativas na
estrutura dessas cidades. São pessoas que demandam um tipo específico de serviços
e moradia, o que cria um impacto no mercado imobiliário. Cria um dinamismo nas
cidades, por conta dos eventos que são feitos pelas Universidades, a própria
juventude que chega e promove suas festas, cria um dinamismo nessas cidades que é
importante. Inclusive, em algumas chega a mudar o cenário político, porque as
pessoas são mais engajadas politicamente. A estrutura política dessas cidades se
modifica bastante. Isso num período curto de tempo, é um impacto positivo mas a
população local precisa de um tempo para assimilar essa mudança toda. A longo
prazo, as universidades melhoram os aspectos da educação nessas cidades.
Ciência e Cultura – Quais as características específicas dessas cidades
universitárias na Bahia?
Wendel Baumgartner - Na Bahia, a gente não tem uma cidade universitária típica,
como São Carlos, Viçosa, Alfenas, Ouro Preto, onde a Universidade já está há mais
tempo e vivem em torno dela. Na Bahia, a grande concentração do ensino superior
está em Salvador. A que mais se aproxima dessa ideia geral é a cidade universitária em
Vitória da Conquista, onde há um campus da UESB. Isso vem mudando com a
expansão das federais. Cruz das Almas, Santo Antônio de Jesus, Barreiras tem se
firmado no cenário dessas cidades que começam a funcionar em torno dessas
universidades. A concentração das federais muito tempo em Salvador não contribuiu
para a criação dessa imagem de cidade universitária típica no interior da Bahia.
Ciência e Cultura – De que maneira a instalação dessas instituições altera o
panorama econômico das cidades e como essa transformação ocorre?
Wendel Baumgartner - O primeiro impacto é financeiro, através dos salários pagos
para os professores e técnicos administrativos. Geralmente, a instalação dessa nova
onda de expansão das universidades federais está ligada a um processo de
desenvolvimento econômico regional. As escolhas são quase sempre por locais
estagnados economicamente, onde a Universidade chega e coloca na economia
dessas cidades um dinheiro, vinculado aos salários dos professores e técnicos. Os
estudantes também gastam para se manter. O segundo impacto é indireto, com a
oferta de serviços para essa comunidade universitária, restaurantes, cafés, livrarias,
fotocopiadoras e moradia. O terceiro ponto é que as universidades mudam a
atmosfera da cidade, criam uma atmosfera positiva, uma melhoria da imagem.
Ciência e Cultura – Como seria o modelo de economia criativa e inovação que
levaria à melhoria da qualificação profissional e da infraestrutura e como seria sua relação com as universidades e institutos?
Wendel Baumgartner – A ideia é de que a economia criativa está ligada aos setores
considerados criativos: publicidade, jornalismo, arquitetura, artes plásticas e visuais.
No Brasil isso ainda está muito incipiente, a vinculação da Universidade com a
economia criativa. Talvez a Universidade aqui na Bahia que mais a aproxime dessa
ideia seja a UFRB, que tem cursos específicos vinculados a essa ideia da economia
criativa. É interessante porque ela pega aspectos da cultura local e coloca, através da
melhoria ou criação do produto, essa produção local para o mundo. Em relação a
inovação há uma tradição maior, principalmente na área de engenharia, química, que
têm um vínculo mais forte com essa indústria mais tradicional. No mundo, hoje as
universidades têm se vinculado muito a essa relação da economia criativa, de produzir
serviços, bens culturais e valorizar esses aspectos da produção que não envolvem a
indústria e por isso é mais inclusivo.
Ciência e Cultura – Como os cortes na educação podem modificar as relações
entre a Universidade e o contexto regional?
Wendel Baumgartner - A situação é dramática e atinge universidades diferentes de
maneiras diferentes. Numa Universidade estabelecida o corte restringe a expansão.
Nenhuma universidade estabelecida vai crescer se o dinheiro não der para manter o
que já existe. Para essas universidades o corte é dramático, mas menos do que um
hall de universidades novas que ainda não têm a infraestrutura mínima e precisam
desses recursos para construir salas de aula, laboratórios, contratar professores. O
corte que atinge essas universidades é mais radical, porque o curso não vai existir.
Universidades mais estabelecidas conseguem, mesmo com as crises, sobreviver, pois
já há uma consolidação institucional.
*Estudante de graduação em Comunicação Social/Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba