Evento ocorreu no último dia 1º de agosto, na Faculdade de Comunicação da UFBA, e discutiu subjetividades e identidades na contemporaneidade e na era digital
POR REBECA ALMEIDA*
rasrebeca@gmail.com
A discussão das questões sobre democracia digital no Brasil e no mundo foram o centro da primeira edição da série International Lectures on Digital Democracy, realizada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT-DD) na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom -UFBA).
Para o debate, que aconteceu no auditório da Facom, foram convidados o pesquisador do Centre for the Study of Democracy – da Universidade de Westminster, Hans Asenbaum e o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e membro do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, Ricardo Fabrino Mendonça.
Subjetividade e a construção de identidades no meio digital e como isso influencia a nova era da democracia digital, baseada no chamado “novo materialismo”, foi a temática central da palestra do pesquisador Hans Asenbaum. De acordo com ele, “é necessário nos perguntarmos quem somos nós nesse novo cenário da democracia digital”.
No passado a internet era muito mais textual, de forma que as pessoas assumiam a identidade que preferiam, uma vez que era mais facil criar uma imagem virtual diferente do real. No entanto, na atualidade, a compreensão do comportamento social na rede não pode mais considerar pessoas totalmente anônimas. Para Asenbaum: “Precisamos desenvolver uma nova teoria para compreender o fenômeno na era da democracia digital, uma vez que na atualidade as pessoas não são mais “sem corpos” na rede”.
O pesquisador trouxe para o debate o conceito de “novo materialismo”, segundo ele, mais adequado para compreender quem somos nós online, ou seja, como as pessoas estão construindo suas identidades na rede. “Democracia digital não está mais relacionada apenas com o que as pessoas fazem apenas na rede”, uma vez que nossas relações sociais mudaram e não somos mais simples anônimos.
A palestra do professor Mendoça trouxe a temática da singularidade e identidade presentes nas manifestações ocorridas no Brasil em 2013. Para ele a conexão entre sua palestra e a de Asenbaum se dá em dois pontos: “primeiro em trabalhar a idéia do que constitui o ‘nós’, a coletividade [...] e segundo é a centralidade dos trabalhos na experiência corpórea dos manifestantes”.
Mendonça falou sobre o conceito de “identidade” e a renovada atenção que o conceito adquiriu a partir dos eventos contemporâneos. Nesse sentido, o professor se propôs a pensar o lugar da identidade coletiva nos conflitos atuais. Para ele, pesquisar identidade coletiva é um tema “quase batido nas Ciências Sociais”, uma vez que diferentes vertentes há muito tempo vem procurando saber quais os processos de subjetivações que levam às ações coletivas.
No entanto, o professor ressaltou que sua análise não se pauta em sua concordância ou não com os eventos. “Eu não vejo esses protestos como positivos ou negativos, não se trata de fazer apologia ou não. A questão é que são eventos importantes demais para serem negligenciados”, afirmou.
Como a palestra do pesquisador Hans Asenbaum foi proferida em língua inglesa, alguns presentes queixara-se que o evento não contribuiu para a disseminação científica, tendo em vista que estamos em uma universidade pública, cujo idioma principal é o português. A conferência pode ser conferida na íntegra no canal do INCT no Youtube.
*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA e bolsista da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura e da Agência Experimental de Comunicação e Cultura.