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Atualizado em 7 DE novembro DE 2017 ás 21:58

Museus virtuais: um novo acesso

Para pesquisadores, os acervos digitais possuem potencial para incentivar e facilitar o acesso do público em geral aos museus. No entanto, desafios ainda estão presentes no processo de democratização dessa instituição

POR REBECA ALMEIDA E GIOVANNA HEMERLY*
asrebeca@gmail.com; gihe296@gmail.com

Falar de museus e de seus conteúdos ainda é falar para poucos baianos. Segundo dados divulgados, em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), na Bahia existem cerca de 152 museus. A capital, Salvador, terceira cidade mais populosa do Brasil, é  também o terceiro município brasileiro com maior número de instituições museológicas, concentra 46,7%. Contudo, estes espaços estão concentrados em regiões centrais da cidade, o que contribui com a não democratização e limitação do acesso a eles.

museus da bahia.png

No entanto, as facilidades geradas pelo advento da internet, tem possibilitado o desenvolvimento de ferramentas  que aproximam espaços antes inacessíveis, a exemplo dos museus. Passando a existir de forma não material, esta seria uma opção para a disseminação de informações, a partir do conceito de ciberespaço.

Para o professor e pesquisador do Grupo de Estudos em Cibermuseus da Universidade Federal da Bahia (GREC – UFBA), Cláudio Oliveira, os espaços virtuais, conhecidos como cibermuseus, seriam uma maneira de democratizar a visita do público: “diferente do que pensamos sobre museus, como um local que guarda coisas antigas, museu é uma instituição sem fins lucrativos que visa preservar objetos materializados ou cultura imaterial”, ressalta.

Além disso, os chamados cibermuseus poderiam ser uma opção para que o público pudesse visitar os museus, mas sem sair de casa. Segundo o pesquisador em cibercultura, André Lemos, cibermuseu é um museu que não existe fisicamente, mas apenas no ciberespaço. Os museus de obras de arte eletrônica, por exemplo. No entanto, Lemos reforça que, assim como os museus físicos, os cibermuseus também devem possuir princípios museológicos. “O que faz um museu não são as obras, o que faz um museu é o ambiente ‘museu’. Se eu tirar todas as obras do Louvre e colocar na rua, não é o Louvre. O que faz o Louvre é aquele lugar, com aqueles objetos organizados de uma maneira inteligente pelos curadores. Da mesma forma acontece na web”, afirma o pesquisador.

museus na capital e no resto do estado.png

Apesar das boas possibilidades existentes, para a professora de Museologia da UFBA, Rita de Cássia Maia, ainda há muitos desafios para a concretização do ideal de cibermuseu. Durante a oficina Museus online, museus digitais: paradigmas entre o presencial e o virtual, ela contou sobre o processo de planejamento do cibermuseu comunitário do bloco carnavalesco Ilê Aiyê, do qual faz parte. Porém, Rita Maia enfatizou sua preocupação em não repetir os mesmo erros de outras tentativas de cibermuseus que, segundo ela, são ineficientes no quesito interatividade. “A coisa dinâmica, humana, é essencial”. Ela também critica as interatividades existentes em alguns museus que, para ela, debocham da inteligência do visitante: “Você vai para o museus ficar chutando uma bola virtual. Quando não se têm o que fazer é bom né?”, ironiza.

A professora Rita Maia considera que o maior desafio para o planejamento de cibermuseus, é justamente a criação de ciberespaços que atendam aos princípios museológicos, sejam interativos e não se limitem a ser meros bancos de dados digitais ou sites institucionais. Para ela, a resposta para esse paradigma está nas relações comunitárias na rede. “Comunidade é uma relação entre indivíduos com alto grau de intimidade e a internet favorece essa intimidade”, afirma. Sendo assim, a História se torna presente no espaço do museu e para que isso aconteça no mundo digital é preciso compartilhar informações e estar em contato com outras pessoas. “Não existe outra saída para um cibermuseu que não esteja associado à web 2.0 e 3.0” ou seja, a partir do surgimento das redes sociais na internet até o momento.

Museu virtual x Cibermuseu - Para o professor Cláudio Oliveira, o surgimento dos museus virtuais são datados desde a década de 1950, época em que o acervo de alguns museus foram virtualizados em cartazes de publicidade. Mesmo antes da popularização da internet já era possível pensar museus virtuais uma vez que a mera digitalização de acervos e arquivamento em mídias como CD-ROMs já consistia em uma “virtualização”.

Ressaltando a diferença entre cibermuseus e museus virtuais,  o professor afirma que, enquanto os museus virtuais são uma virtualização de um acervo que possui existência física, os cibermuseus são espaços completamente digitais, no qual, além de ter um acervo na rede, ainda possuem interatividade e maior troca de informações. Assim, apesar de muitos museus estarem buscando a virtualidade, ele acredita que a maioria deles ainda são ineficientes no quesito interatividade e informação. “Muitas vezes os sites apresentam apenas algumas fotos de parte do acervo e com pouca informação acerca da peça apresentada. Não adianta trazer só imagens. Tem que trazer imagens com a possibilidade de partilhar informações”, reforça.

O pesquisador também reforça a existência de pelo menos dois cibermuseus no Brasil: o Museu da Pessoa, que é um acervo colaborativo e visa registrar e preservar histórias de vida;  e o Museu do Inconsequente Coletivo, criado pela Universidade de São Paulo (USP). Discordando do professor Cláudio, a museóloga e pesquisadora de museus virtuais comunitários da UFBA, Rita Maia, acredita não haver ainda nenhum cibermuseu no Brasil. Para ela, os espaços citados ainda não atendem os critérios de interatividade para serem considerados cibermuseus.

O museu da pessoa é considerado um exemplo de cibermuseu. Ele só existe de forma digital

Conceitos equivocados - Um dos maiores empecilhos para a compreensão do que são cibermuseus está nas variações conceituais, que devido a falta de unanimidade acabam por confundir o que seria esta nova modalidade museal. Essa problemática surge gerada por equívocos na compreensão dos conceitos de ciberespaço e mundo virtual.

Em 1999, no livro Cibercultura, Pierre Lévy apresentou o conceito de ciberespaço como “o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especificaria não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”. Muitas vezes confundido com o conceito de ‘mundo virtual’, deve-se ressaltar o equívoco existente ao se utilizar os dois como sinônimos. Para o mesmo teórico, Virtual é um termo para além da internet, porque está relacionado com possibilidades: virtual é qualquer coisa que “existe apenas em potência”.

Assim sendo, a interatividade presente nos ciberespaços impossibilita que este seja compreendido apenas como virtual, uma vez que essa interatividade acontece, gerando relações e espaços sociais que verdadeiramente influenciam a existência humana em sociedade. Com essas considerações, é possível pensar na possibilidade de instituições existentes no mundo offline atuando também no ciberespaço. Um exemplo são os aplicativos bancários, no qual os clientes podem acessar saldo, efetuar transações financeiras e pagamentos sem precisar comparecer presencialmente em uma agência. Ainda que a operação tenha sido feita à distância, o dinheiro envolvido não é virtual.

*Estudantes do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA e repórteres da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura

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