Criar pontes entre pesquisa e implementação dos resultados na sociedade são preocupações da popularização da ciência, temas centrais do seminário Novos e Velhos Saberes realizado na UFBA
POR AMANDA DULTRA*
amandadultra@hotmail.com
Aproximar o conhecimento científico adquirido pelos métodos acadêmicos dos ditos leigos é uma preocupação presente no diálogo entre a universidade e a sociedade. Este questionamento também foi central da abertura da série de seminários “Novos e Velhos Saberes”, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares em Ecologia e Evolução (INCT IN-TREE), do Instituto de Biologia da UFBA, que é coordenado pelo professor do Instituto de Biologia da UFBA Charbel Niño El-Hani. O evento foi pensado objetivando desenvolver projetos abordando pesquisa em ecologia e evolução sob uma ótica interdisciplinar.
Segundo o editorial do volume 25 da publicação Infarma, do Conselho Federal de Farmácia (CFF), os editores defendem que atualmente a Ciência tem um papel “fundamental no conhecimento do ser humano em torno da realidade e do significado do mundo em que vivemos.” A partir desse lugar de relevância da Ciência em nossas vidas e de como o conhecimento científico retorna à comunidade, o professor El-Hani, centrou sua apresentação em levantar soluções para as lacunas que existem na construção do conhecimento para resolver problemas do mundo real.
O pesquisador se mostrou muito preocupado com a desinformação presente na sociedade acerca do que é ciência: “Hoje vivemos no mundo da pós-factualidade, da pós-verdade. Nesse mundo, a ciência não é muito prezada: ao contrário. A sociedade possui uma relação de desconfiança com a ciência”, afirmou El-Hani, que exemplificou esta afirmação a partir de uma determinação do presidente dos Estados Unidos Donald Trump. “O Trump no começo deste ano recomendou ao departamento de saúde norte-americano que não mencionasse as palavras ‘evidência, ciência, baseado na ciência, ou baseado em evidência’. Não podia mencionar isso na política de saúde. A atitude predominante é contrária à ciência”, relata. Além disso, o pesquisador criticou o modelo de conhecimento unidirecional, o qual propõe que a academia apenas cria e a sociedade apenas usa – ignorando também a parcela de contribuição e de próprio julgamento que a comunidade em si pode retornar para a universidade.
Questionado se as desigualdades sociais seria um dos fatores do afastamento entre a população e o conhecimento científico, El-Hani negou e trouxe o exemplo dos Estados Unidos da América: “Os Estados Unidos têm supostamente um sistema educacional melhor do que o nosso e os níveis de analfabetismo científico são gigantes. Os levantamentos são feitos a cada três anos e mostram uma ignorância imensa”, reforça.
O próximo seminário tem previsão de ocorrer em julho, sempre no Salão Nobre de IBIO. Para mais informações no endereço de e-mail da organização do evento: dgs.incttree@gmail.com.
*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter na Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA