Evento busca quebrar a divisão entre as ciências indígena e acadêmica
POR AMANDA DULTRA*
amandadultra@hotmail.com
O ambiente acadêmico é repleto de diversidade e também onde se produz saberes que buscam uma conexão com a realidade da sociedade, porém sistematizados e ordenados em áreas de conhecimentos, denominadas de campos científicos, e que não contam com a contribuição direta da sociedade para seu desenvolvimento. Dessa forma, muitas estratégias são pensadas para que a sociedade participe do desenvolvimento dessa Ciência, não apenas como sujeitos a serem observados e analisados. É assim que comunidades indígenas de vários cantos do país tem tentado trazer seus saberes para dentro dos muros das universidades, através da inserção de uma pedagogia essencialmente indígena.
A importância desta contribuição e a discussão das estratégias de inserção da pedagogia indígena no ambiente acadêmico foi um dos objetivos da mesa “Educação Indígena”, realizada no evento “Da Aldeia para a Universidade”. Os estudiosos mostraram que eles [os indígenas] também são produtores de conhecimentos que podem melhorar a qualidade de vida de sua comunidade. O encontro foi promovido pelo Coletivo Afroindigenessência, e ocorreu nos dias 6 e 7 de novembro, no campus da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Ondina, em Salvador.
Pedagogia libertadora - A educação é, acima de tudo, transformadora: significa partilhar conhecimentos para conquistar as adversidades. O educador Paulo Freire corrobora essa noção em Pedagogia da Autonomia, publicado em 1996. Segundo ele, o homem “não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da realidade e da sua própria capacidade de transformar”. O aprendizado seria, portanto, o caminho para o indivíduo modelar sua realidade.
De acordo com a professora e coordenadora de Educação Escolar Indígena do Estado da Bahia, Marilene Pataxó, os saberes são importantes para o reconhecimento da própria ciência que cada povo produz e oferecer um lugar de fala. “Eu acredito que quem está aqui neste momento é porque tem curiosidade em ouvir o que próprio indígena tem para dizer”, afirma. A fala da educadora reafirma que o lugar do indígena naquele espaço acadêmico não era somente um objeto de estudo, porém um pesquisador e seus próprios trabalhos.
Para o sociólogo Gregory Cajete, no artigo “Uma introdução à ciência indígena e suas leis naturais de interdependência”, não é menos importante o saber dos vários povos indígenas: diverso em seu conteúdo, abrange filosofia, arquitetura, astronomia, pesca, domesticação de plantas. Sendo assim, “ciência indígena é uma herança coletiva da experiência humana com o mundo natural; em sua forma mais essencial, é um mapa da realidade natural derivado da experiência de milhares de gerações humanas”.
A ideia do encontro, dentro da UFBA, segundo os organizadores é contemplar esse conteúdo para visibilizar os saberes dos mais de 60 mil indígenas residentes do solo baiano (dados da última pesquisa do IBGE).
O evento contou ainda com as participações do artista plástico e professor Paulo Titiá; do pesquisador e professor indígena Barão Kiriri; e do arqueólogo e professor da UFBA, Carlos Alberto Etchevarne.
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*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA.