A preocupação pelo aumento da bancada evangélica no Congresso Nacional brasileiro foi o tema central da discussão da na edição desta segunda-feira da disciplina. Os participantes também problematizaram uma possível atuação parcial do presidente eleito, integrante da mesma corrente
POR FABIO DE SOUZA*
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A partir de janeiro de 2019, praticantes da religião evangélica terão maior representatividade tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. De acordo com dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), a bancada evangélica terá 84 deputados, nove a mais do que na última legislatura. Já no Senado, os evangélicos eram três e, em 2019, serão sete representantes. Esse crescimento vem acompanhado também, de uma ascensão midiática deste segmento, o que traz preocupação quanto aprovação de projetos referentes a pautas consideradas polêmicas, a exemplo da descriminalização do aborto, da redução da maioridade penal, dos direitos das mulheres e da população LGBTT+ .
De acordo com a análise do psiquiatra e psicanalista e teólogo, Helder Targino, que estuda o crescimento do fundamentalismo religioso desde a década de 70, o vínculo entre religião e poder são centrais em determinados modelos de sociedade que prioriza a uma economia forte. “Esse vínculo de comunicação com as ideologias acopladas a política passa a ser fundamental no sistema de, digamos assim, fundamentalização da fé no Brasil. É um ensino político de domínio de poder e por trás está o domínio econômico”, reforça.
“Até que ponto, vocês que são religiosos conseguem, colocar a visão religiosa de vocês, em cheque com questões sociais?”. Esse foi o questionamento feito aos pesquisadores presentes no debate pela estudante do Bacharelado Interdisciplinar de Humanidades da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Rafaela, tomando como exemplo a discussão em torno da problemática do aborto, que está longe de ser um assunto encerrado no Brasil. O Estudante do curso de Letras, Neto, põe em questão o uso do “poder de dominação” por partes das lideranças religiosas na sociedade. “Me parece que a religião sempre foi muito utilizada para controlar as menores instâncias, principalmente ligadas às questões políticas, temos a bancada evangélica que representa isso”, problematiza.
O debate foi iniciado com a exibição de um vídeo do professor e cientista social pastor Henrique Vieira, no qual denuncia a frente parlamentar evangélica, faz uma crítica ao extremismo religioso, que segundo ele está diretamente ligado a ações de violência, e distingue o extremismo religioso do conservadorismo religioso. O pastor também é ator e atuante do canal do Youtube Esperançar, além de militante de direitos humanos no Rio de Janeiro desde a adolescência.
Compareceram também ao debate o jornalista, antropólogo e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab – São Francisco do Conde), na Bahia, Marlon Marcos, que é ebomi Adê Okún do Unzo Tumbenci, da Iyá Zulmira de Zumbá, e o capelão da igreja Rosário dos Pretos, padre Lázaro Muniz.
O Polêmicas Contemporâneas é um evento realizado, no auditório da Escola Politécnica da UFBA, pelo Departamento de Educação da FACED, sempre às segundas-feiras, 19 horas, sob a coordenação do professor Nelson Pretto. O debate também pode ser visto ao vivo pelo canal do Polêmicas Contemporâneas.
*Estudante do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e repórter da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura UFBA