Aumento dos índices de contaminação do Aedes Aegypti na cidade de Salvador, mapeamento das ações da prefeitura em relação a esse crescimento no primeiro semestre de 2023.
POR CINTHIA MARIA E MANOELA SANTOS
Ao acordar na terça feira, dia 27 de Junho, Flávio sentiu o seu corpo febril, fadiga e outros sintomas que remetiam a gripe ou mesmo uma virose, mas foi ao chegar no posto de saúde e realizar o teste que o estudante de Produção Cultural se surpreendeu ao descobrir que se tratava de um quadro de dengue. Infelizmente, a situação de Flávio não é um caso isolado, em Salvador os índices de contaminação aumentaram quase dez vezes em relação ao ano passado, entre os dias 1º de janeiro e 6 de março. Os índices saíram de 102 para 944, segundo a Secretária de saúde do estado da Bahia.
Segundo o Ministério da Saúde, a dengue é a arbovirose urbana mais prevalente nas Américas, principalmente no Brasil. É uma doença febril que tem se mostrado de grande importância na saúde pública nos últimos anos. O vírus dengue (DENV) é um arbovírus transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Além da dengue, a picada do Aedes aegypti pode causar zika vírus e chikungunya.
A chikungunya tem sintomas e sinais parecidos com a dengue, mas enquanto a dengue se destaca pelas dores nos corpo, a chikungunya se destaca por dores e inchaço nas articulações. “Eu estava sentindo muita dor no corpo, mas pensei que era só cansaço mesmo. Só que, uns poucos dias depois de começar, minhas pernas começaram a inchar, os pulsos, depois veio a febre, aí não teve jeito. Sou meio medroso, já achei que ia morrer e fui pra UPA. Foi a pior dor física que já tinha sentido na vida”. Relata Adelson Silva Rios, 39 anos.
Segundo site da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o zika vírus causado pelo aedes aegypti foi identificado pela primeira vez no Brasil em 2015, apesar de já ter sido identificado desde 1947. Os sintomas mais comuns nesses casos são, a erupção na pele com coceira, febre baixa, olhos vermelhos sem secreção ou coceira, dor nas articulações, dor nos músculos e dor de cabeça. João Victor, 16 anos, morador do bairro de Itinga relata que um dos piores sintomas da zika foi a dor nas articulações “A sensação de ter zika é horrível, parece que você não consegue se mexer direito, qualquer movimento você sente dor. Então, todo cuidado é pouco, sabe?” descreveu.
Apesar de os sintomas serem parecidos, o tratamento se diferencia para cada doença, por isso é importante buscar o posto de saúde ao sentir os primeiros sintomas e evitar a automedicação.
IMPACTOS DA DOENÇA PARA A POPULAÇÃO
A dengue é uma doença que tem se tornado cada vez mais presente na vida não só do brasileiro, como também do baiano. Segundo Boletim epidemiológico arboviroses, número 05, divulgado em Junho de 2023 pela Secretaria de Saúde do estado da Bahia (SESAB), foram registrados 31.084 casos de dengue, 11.677 casos de chikungunya, e 1.469 casos de zika em toda Bahia. Muitas são as dúvidas sobre os sintomas, o diagnóstico, e os casos de perdas repentinas acabam sempre assustando os moradores, assim como relata Ítalo Francisco de 22 anos, morador do Bonfim “ 3 meses atrás o filho de um moço que trabalha no bar da família morreu de dengue. Tá barril.”
De acordo com o site da Secretaria Municipal de Saúde, foram tomadas algumas ações de bloqueio de transmissão espacial através do Centro de Zoonoses (CCZ) no mês de abril para intensificar o combate ao mosquito em alguns bairros, entre eles estão Itapuã, Imbuí, Costa Azul, Pituba, Sussuarana, Saboeiro, Mata Escura, Horto Florestal, Sete de Abril, Campinas e Nova Brasília.
José Paulo, de 26 anos, morador do Dique do Tororó, em entrevista falou como foi sua experiência em se contaminar pela segunda vez. “Quando eu comecei a sentir as dores, percebi que eu estava ficando doente, primeiro eu pensei que era por causa da academia. Mas como ficou uns dois dias o corpo todo doendo, tudo, joelho, braço, tudo doendo, e comecei também a ter febre, fui logo na UPA, porque como eu já tive uma vez, eu pensei que podia ser. Como eu já tinha tido dengue uma vez, eu pensei que poderia ter sido isso. Chegando lá, o médico confirmou”.
Em seu relato, José Paulo também falou sobre a falta de visita dos agentes para fazer a análise do ambiente e identificação do foco em seu bairro, como também em Brotas, seu bairro de trabalho. “Na verdade, bem antes da pandemia que eu não vejo ninguém nem aqui nem lá no trabalho, nada! Como eu trabalho na lanchonete com minha mãe, né. Não vejo nem aqui nem lá, nada.”
AÇÕES DA PREFEITURA PARA AMENIZAR O PROBLEMA
Para entender um pouco mais sobre as ações da prefeitura de Salvador em relação ao aumento nos casos de dengue, chikungunya e zika, foi utilizada a ferramenta de busca Querido diário, que tem como objetivo possibilitar o acesso de forma mais descomplicada aos Diários oficiais das cidades brasileiras já mapeadas. Em busca das ações da prefeitura em Salvador, no período de Janeiro a Junho do ano de 2023 foram encontradas ações de fornecimento de insumos e materiais, e ações de vigilância.
Para pesquisa foram utilizadas na buscas no Querido Diário: dengue, combate+dengue, dengue+vírus, dengue+saúde.
Foi possível mapear algumas ações recorrentes desde do início do ano, na solicitação de “registro de preços para aquisição de insumos e material permanente para as ações de vigilância e controle vetorial relacionadas às arboviroses (dengue, zika, chikungunya e febre amarela), malária, leishmanioses, filariose, tripanossomíase americana, bem como esquistossomose, angiostrongilíases e animais peçonhentos.” Essas informações foram obtidas no diário de número 8.483, publicado no dia 28 de Fevereiro de 2023, utilizando a palavra chave “dengue”.
Em busca de mais ações no decorrer do ano, encontramos também a solicitação da Secretaria Municipal de Saúde, feita no dia 29 de Março de 2023, no diário de número 8.504, o lançamento dos preços para compra de formulários impressos para febre amarela/dengue. No diário do dia 30 de Março, de número 8.505, localizamos a solicitação pelo mesmo órgão de “aquisição via registro de preços de teste rápido imunocromatográfico para a detecção qualitativa de anticorpos igg e igm, específicos para o zika vírus, em amostras de plasma, sangue total e soro.”
Acerca do que foi citado, a Agência de Notícias tentou contato com a assessoria da Secretaria de Saúde de Salvador, e eles informaram que as equipes de campo da Subcoordenadoria de Ações e Controle das Arboviroses estão trabalhando nos 12 Distritos Sanitários diariamente com ações de controle do mosquito Aedes aegypti . “Os agentes de combate às endemias realizam visitas domiciliares, bloqueio oportuno de transmissão de casos de arboviroses notificados no SINAN, ações em unidades de saúde, visitas quinzenais em pontos estratégicos (borracharias, ferro velhos, etc), Mutirões de Limpeza com a parceira da Limpurb , ações em imóveis de simuladores em parceria com a SEMPRE, abertura de imóveis abandonados.”, relatou a assessoria.
Também perguntamos sobre a importância das campanhas, e sobre as ações da Secretaria no que tange o combate ao mosquito vetor da doença. Eles informaram que “As campanhas têm o objetivo de sensibilizar e alertar a população sobre os riscos causados pelas arboviroses, e nosso objetivo é orientar a população sobre os cuidados básicos que todos devem ter para evitar a presença dos criadouro do mosquito em sua residência”
AÇÕES ATIVAS OU PALIATIVAS?
Vacina
No ano de 2023 uma vacina foi aprovada pela Anvisa. O imunizante Qdenga, produzido pela empresa Takeda Pharma, é indicado para população entre 4 e 60 anos. A aplicação é por via subcutânea em esquema de duas doses, em intervalo de três meses entre as aplicações. Segundo a Anvisa, a nova vacina é composta por quatro diferentes sorotipos do vírus causador da doença. Acontece que a vacina ainda não é distribuída pelo sistema único de saúde, por esse motivo é preciso pagar para ter acesso, tornando o imunizante inacessível para uma grande parcela da população.
Em contrapartida, existem algumas ações simples que podem ser realizadas no dia a dia que ajudam a acabar com o foco do mosquito. Algumas atitudes são, não deixar água parada nos quintais , preencher os vasos de plantas com areia, manter fechados caixas, tonéis e barris d’ água, não jogar lixo em terrenos baldios, a água da chuva acumular sobre a laje e calhas entupidas, sempre manter garrafas de vidro ou plástico com a boca para baixo, e deixar pneus em locais cobertos.
*Esta reportagem foi produzida com o apoio da Open Knowledge Brasil (OKBR), no âmbito do programa Querido Diário nas Universidades, e contou com o uso do Querido Diário, ferramenta de inovação cívica criada para abrir e integrar os diários oficiais. A iniciativa tem por objetivo aproximar o projeto Querido Diário às atividades de instituições de ensino e pesquisa brasileiras, potencializando seu desenvolvimento e impactos.
**Produção: Beatriz Nascimento, Nathalí Brasileiro e Sofia Nachef