A Agência de Notícia em CT&I (AGN) acompanhou o Festival Literário Internacional de Cachoeira nos dias 18 e 19 de Outubro.
Escrito por: Cinthia Maria, Mayana Malaquias e Larissa Lima
Revisado por: Time AGN
Estande da livraria LDM na tenda Paraguaçu | Foto: Larissa Lima
A Agência de Notícias (AGN), marcou presença, pela primeira vez, na décima segunda edição da FLICA, Festival Literário Internacional de Cachoeira. O evento realizado na cidade de Cachoeira – Ba, teve como tema “O mundo da literatura em festa”, com início no dia 17 de Outubro (quinta-feira), e encerramento no dia 20 de Outubro (domingo). Fundada em 2011, a Flica atrai anualmente escritores, poetas, acadêmicos, artistas, e leitores de todas as partes do país, tornando-se um espaço fundamental para a valorização da literatura, especialmente das vozes nordestinas e afro-brasileiras.
Neste ano, o circuito do festival foi formado por cinco espaços principais: Tenda Paraguaçu, Fliquinha, Geração Flica, Casa do Governador e Casa do Patrimônio (IPHAN). Durante toda programação os acessos foram gratuitos e com indicação de faixa etária livre, com acessibilidade, tradução de libras e audiodescrição.
Entrada da tenda Paraguaçu | Foto: Mayana Malaquias
A festividade na cidade, que é Patrimônio Nacional, acolheu durante esses dias não só a comunidade de Cachoeira, como também das cidades vizinhas. “Eu sou do recôncavo aqui do lado, de Santo Antônio de Jesus e eu sempre quis participar da festa literária, desde a infância, sempre falaram e eu nunca tive a oportunidade!” contou Keisa Helena, estudante de Ciências Sociais da UNEB que pelo segundo ano visitou o evento pela iniciativa da Universidade em levar os alunos.
Para Erickson Santos, também estudante da UNEB, a feira é um exemplo. “Eu participo de algumas feiras, de alguns congressos e a gente tá vendo que Cachoeira é referência. Em outros lugares as feiras não têm tanta qualidade quanto em Cachoeira, e isso é importante para fortalecer tanto a economia local, quanto os artistas locais”
Estudantes da UNEB; Keisa Helena, Erickson Santos e Camila Meira | Foto: Mayana Malaquias
Ao longo da programação tiveram momentos de poesia, sarau, feira das mulheres negras, entre outras ações. Escritores queridos pelo público estavam presentes:
Itamar Vieira Júnior, ganhador do prêmio Jabuti por “Torto Arado”;
Jeferson Tenório, ganhador do prêmio Jabuti pelo livro “O avesso da pele”
Thalita Rebouças, autora de livros infantojuvenis, como a série “Fala sério, mãe”
Raphael Montes, autor de livros de terror nacional, como “Bom dia, Verônica”
Foto por: Larissa Lima
O evento também teve a participação da apresentadora Rita Batista, da atriz Zezé Motta e do comediante João Pimenta. Edson Gomes, cantor de reggae, fez sua apresentação na sexta à noite, e a cantora Liniker esteve pela primeira vez na cidade de Cachoeira, deixando muitos fãs na expectativa. Quando perguntados sobre quem vieram ver na Feira, Erickson e seus amigos responderam de prontidão o nome da cantora, que se apresentou na quinta-feira à noite.
Na tenda Paraguaçu, ao lado do rio de mesmo nome, aconteceram apresentações, e também venda de livros no estande de uma editora. Apesar de estar adorando os livros selecionados, o professor de história, Jean Dias, comenta sobre os valores cobrados, “os livros estão caros demais. A feira está, definitivamente, deixando cada vez mais impossível pra gente, da classe trabalhadora, comprar livro”, reclama. Ele completa dizendo que “precisamos repensar a política de venda de livros. A feira precisa repensar isso [...], porque senão a gente vem e não consegue comprar livro”.
Entrevista com Jean Dias | Foto: Mayana Malaquias
Para além de uma feira de livros, a FLICA cria um ambiente de diálogo diversificado, com foco nas expressões culturais do recôncavo baiano, região marcada pela herança afro-brasileira. As discussões vão além da literatura e englobam questões identitárias, de gênero e sociais, que impactam diretamente a cultura brasileira. Outro efeito da feira é na economia local, incentivando o turismo cultural e gerando oportunidades para moradores das comunidades próximas.
Nos quatro dias de festival as ruas da cidade de Cachoeira foram tomadas por estandes de grande variedades de produtos artesanais como bebidas, doces e roupas, objetos de cerâmica e acessórios feitos com materiais diversos indo de madeira até o origami. Assim como o ambiente, as artes também ressaltaram as expressões culturais da região, o que para Keisa Helena é uma forma de representação. “Passar pela feira é uma experiência única porque a gente se sente representado. A gente consegue se enxergar em cada arte, então é muito importante para mim estar aqui e me ver sendo parte dessa cultura”.
O evento ainda tem um papel educativo, com atividades voltadas ao público infantil (Fliquinha), oficinas e rodas de conversa, que ajudam a formar novos leitores e a disseminar o valor da leitura desde cedo. Livreiro há quase 50 anos, Milton Carvalho, compartilhou com a gente algumas dicas para ajudar os jovens a começarem a ler, “se você tem dificuldade de ler, começa pela revista em quadrinho. Começa por livros com ilustração, depois vai pra poesia, e aí então lê contos e crônicas.” Milton afirma que o ambiente do festival o atrai pelo contato com o público estudantil, “eu trouxe meus livros a preço de custo, exatamente para as pessoas terem acesso aos livros com o preço justo”. Ele indica O Grande Mentecapto, de Fernando Sabino, além das crônicas de Rachel de Queiroz e de Clarice Lispector, já para uma leitura mais avançada.
Foto: Mayana Malaquias