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Atualizado em 16 DE julho DE 2011 ás 11:52

Desafios e histórias de 200 anos de Mídia na Bahia

IGHB sedia evento que joga luz sobre o passado da imprensa na Bahia e tenta discutir problemas do presente

Por Marina Teixeira*
marina90st@hotmail.com

O Ciclo de Debates 200 Anos da Mídia na Bahia, que aconteceu nos dias 12 e 13 de julho, no Auditório do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), abordou os desafios que permeiam a rotina jornalística dos profissionais de imprensa e trouxe discussões que mobilizaram púbico e palestrantes. Apanhados históricos sobre o início da atividade no estado e homenagens a nomes importantes do jornalismo baiano também movimentaram o evento.

No primeiro dia, o jornalista, escritor e publicitário Nelson Cadena iniciou o ciclo de debates com a palestra “200 Anos sem Respostas”, em que apresentou algumas perguntas sobre os primeiros tempos da imprensa na Bahia, que datam de antes da independência – o ano de 1810, com a chegada do material de tipografia de Silva Serva, fundador do primeiro jornal da cidade.

Em seguida, a professora, historiadora e presidente do IGHB, Consuelo Pondé, relatou a respeito da situação do acervo de jornais no Instituto e reivindicou a compreensão dos órgãos governamentais e a iniciativa privada em benefício da preservação do material, que está se degradando.

O professor de jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), Sérgio Mattos, ministrou uma palestra sobre os desafios do campo na época da Internet. Entre outros assuntos, Mattos comentou algumas alternativas encontradas pelos jornais impressos para sobreviver nos tempos de hoje, a exemplo de parcerias entre dois grupos de comunicação e o processo de digitalização dos jornais, que não retomam à versão impressa (caso do Jornal do Brasil).

A jornalista e doutoranda em História, Mônica Celestino, mostrou um pouco da sua pesquisa sobre Cosme de Farias, lendário jornalista baiano. Na palestra, uma biografia da personalidade, seus feitos como militante pelos mais pobres e analfabetos. Cosme de Farias promoveu campanhas para portadores de transtornos mentais e também se envolveu com a política – eleito deputado estadual e vereador.

Além dessas facetas, ainda havia o lado jornalista de Farias, que trabalhou em diversos veículos e possuía um texto que levava à reflexão sobre os problemas sociais da Bahia, seduzindo leitores e sendo duro, por vezes irônico, com os adversários.

No primeiro dia de atividades, ainda houve a apresentação da palestra “Bicentenário da Revista As Variedades”, do jornalista, professor e coordenador do Núcleo de Estudos da História da Imprensa na Bahia (NEHIB), Luis Guilherme Tavares, contando a história da primeira grande revista do Brasil, que teve apenas três números e caráter raro, por possuir apenas uma edição na fundação Clemente Mariani.

Segundo dia - Os trabalhos no dia 13 começaram com o diretor do Instituto de Radiodifusão do Educativa da Bahia (Irdeb), Pola Ribeiro, que discutiu a respeito das dificuldades de se fazer uma TV pública no estado – tanto no aspecto técnico (dificuldades de sinal, por exemplo) quanto na qualidade da informação (a falta de identificação com o público com o que é apresentado).

A palestra seguiu, com a fala do professor da Faculdade de Comunicação (Facom) da Ufba, Cláudio Cardoso. O professor discutiu a respeito do papel da Comunicação Organizacional nas empresas e listou alguns pontos que servem como forma de ação por parte dos profissionais desta área no trato com o público e as pessoas da imprensa.

Já a jornalista do Correio, Linda Bezerra, contou um pouco sobre suas rotinas produtivas e as escolhas a serem feitas num trabalho jornalístico. Ela salientou a importância de ser credível para que o público leia seu texto; citou o fato de não haver isenção dentro das redações, e a respeito da influência política e econômica nos órgãos de imprensa. A fala de Linda foi a que gerou o maior número de perguntas no debate após sua palestra.

O diretor e professor da Facom, Giovandro Ferreira, explicou a respeito dos desafios que o jornalismo baiano deve enfrentar no novo século. Entre outras questões, ele comentou a respeito da expansão da tiragem dos jornais soteropolitanos para outros lugares dentro do estado; da produção e consumo desses periódicos concentrados em Salvador e dos jornais cujo conteúdo é idêntico ao do concorrente, estes possuem aceitação diferente por parte do público leitor.

O também professor da Facom, Washington José de Souza Filho, fez uma palestra sobre os 50 anos de telejornalismo na Bahia, a partir do exemplo pioneiro da TV Itapoan, em 1960. Ele comentou a respeito das dificuldades naturais da época em produzir material televisivo, as evoluções técnicas naquele período e a participação de jornalistas como Carlos Libório e Francisco Aguiar (recentemente falecido) nesse momento histórico da imprensa baiana.

Entre as dificuldades do passado e os desafios do presente que projetam situações para o futuro, o Ciclo de Debates 200 anos da Mídia na Bahia trouxe um saldo interessante. De um pioneirismo quase ingênuo no século XIX, com um toque de idealismo – principalmente nos relatos sobre a vida de Cosme de Farias e o surgimento da TV Itapoan.

O jornalismo na Bahia ainda precisa caminhar muito para chegar a um nível que possa conceder melhores condições para profissionais trabalharem e o público ver (ou ler) o material apresentado pelos jornalistas. Mas a iniciativa de se discutir o papel da imprensa, seus erros e acertos, é sempre válida.

*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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