Mídia influencia na formação de transfornos alimentares, principalmente entre adolescentes, diz especialista
Por Jorge Gauthier
gauthier_jornalista@yahoo.com.br
M.A.P.J., 25 anos, não tira os olhos da televisão quando modelos esguias desfilam seus corpos delineados com pouca massa muscular. Se toca e percebe a diferença para seu corpo curvilíneo. Hora do almoço. A vontade de comer passa. A inistência materna obriga a parca alimentação que é vomitada no banheiro minutos após a ingestão.
O comportamento da jovem teve início aos 13 anos. Apesar de seu peso sempre estar dentro do ideal recomendado pelos profissionais de saúde. A estudante nunca se conformou com a sua aparência. “Quando me olho no espelho me sinto gorda. Por isso quando eu como boto tudo pra fora. Queria ter como contar minhas costelas e sair mostrando para todo mundo ver que eu sou magra”, relata a estudante que já perdeu a conta de quantas vezes precisou ser internada para tratar de efeitos das dietas de emagrecimento. “Ela já desenvolveu abcessos na garganta por enfiar cabos de escova para forçar o vômito. Adquriu problemas na pressão arterial e ainda está com o intestino estreito. Tudo isso porque ela vive comprando revistas de mulheres magras, vendo filme e programas de televisão”, conta a mãe da jovem, a dona de casa Rita Andrade, 63 anos.
Segundo a médica gastroenterologista e professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Luiza Amélia Cabus Moreira, a mídia tem influencia na formação de transfornos alimentares, principalmente entre adolescentes. “A insatisfação com a imagem corporal é recorrente nos dias de hoje. O problema é que essa insatisfação está associada ao desenvolvimento dos transtornos alimentares que tem altas taxas de mortalidade. A mídia colabora para isso de forma efetiva com a exposição e imposição de padrões de beleza inatingíveis”, defende a professora que integra a coordenação do Ambulatórioio de Transtornos Alimentares do Hospital Universitário Professor Edgard Santos da Ufba.
A especialista, em 2006, desenvolveu tese de doutorado onde avaliou a percepção de adolescetes sobre sua imagem corporal. No resultado da pesquisa, identificou grande insatisfação e uma busca desenfreada, entre as meninas principalmente, pelo corpo ideal. Foram objeto da pesuisa 75 adolescentes (52% do sexo masculino e 48.0 % do feminino) entre 12 e 18 anos que responderam questões referentes a gênero, etnia, peso, altura, prática de exercícios, uso de suplementos para aumentar a massa muscular.
Pesquisas – Cinqüenta e nove (78.7%) dos adolescentes observados pela professora apresentaram IMC (Índice de Massa Corporal) na faixa da normalidade, 12 (16,0%) na de baixo peso, 1 (1,3 %) na de pré- obeso, 2 na de obesidade obesidade grau I (2,7 %) e 1 (1,3 %) não relatou o peso.
“Os meninos não querem ser gordos e tem como meta a obtenção de massa muscular. Já as meninas associam a satisfação corporal com serem magras, terem cabelos lisos e nariz afilado”, explica a professora que apresenta entre as conclusões da sua tese que os adolescentes de ambos os gêneros idealizam uma imagem corporal baseada no que acham ser o mais aceito pela sociedade e admitem ansiedade por não atingir essas metas.
Para perceber a inteferência da mídia na insatisfação corporal, a professora avaliou também a programação da televisão de canais abertos no que se referiu a dieta e/ou aumento de massa muscular. “A televisão e as revistas especializadas em dieteas difundem a cultura da magreza e podem impor imagem corporal pouco acessível, principalmente às mulheres. Há um direcionamento na programação de acordo com cada programa ou veículo para atingir um público específico. É preciso, no caso dos jovens, ter uma orientação familiar para não serem influênciado pelas mídias”, destaca.
Riscos - Problemas de saúde são recorrentes nos indivíduos com insatisfação com sua imagem corporal. “Há registros de graves problemas com transtornos alimentares, suicídio e gravidez na adolescência. Para homens, ainda há destaque para maiores taxas de desemprego pela baixa estima”, diz a gastroenterologista. (ver boxe). Além dos riscos à saúde, há problemas comportamentais e de relacionamento.”É comum nesses caso perceber problemas de agressividade e dificuldades de relacionamento com outros membros entre grupos seja para convivência em festas ou até mesmo na prática de esportes”, destaca Cabus.
A pesquisadora descobriu que, entre os meninos, a influência da mídia na aparência é admitida, mas não de forma explícita. Eles acreditam que a mídia pode ser um “incentivo”, mas negam que se comparem com as imagens vendidas pela mídia. Não citam atores ou modelos mas acham que o fato de estar na mídia pode “tornar os homens bonitos”. Já as meninas não negam os ideais da mídia e acreitam que a vida das modelos são perfeitas. Ao contrário dos meninos, que admitem que têm sentimentos de tristeza com o corpo.
Principais transtornos alimentares
Os transtornos alimentares são alterações no comportamento alimentar, podendo provocar desde o emagrecimento extremo à obesidade. Os principais tipos de Transtorno Alimentar são a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa. Segundo estimativas do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP estima-se que, ao longo da vida, entre 0,5 e 4% das mulheres terá anorexia nervosa, de 1 a 4,2% bulimia nervosa e 2,5% transtorno do comer compulsivo.
A anorexia nervosa se caracteriza por uma procura incansável pela magreza provocada por uma perda de peso através de longos períodos de jejum, exercícios físicos excessivos, vômitos voluntários, uso de laxantes, diuréticos ou moderadores de apetite. Há distorção de imagem corporal e os ciclos menstruais ficam interrompidos por no mínimo três meses.
Já a bulimia nervosa é uma sensação de completa perda de controle alimentar. Há ingestão compulsiva e indiscriminadamente de grandes quantidades de alimentos em um período muito curto de tempo – episódio bulímico. Depois, incorre o sentimento de culpa, vergonha e medo de engordar, levando o paciente a induzir o vômito, em geral várias vezes ao dia, bem como ao uso de laxantes, diuréticos ou inibidores de apetite e à prática de exercícios físicos de maneira exagerada.
A ingestão compulsiva de grandes quantidades de alimento durante o dia, com a sensação de perda de controle é denominada Transtorno do Comer Compulsivo. Esse quadro esta relacionado com outras graves doenças psiquiátricas como depressão e ansiedade.
Fonte :www.ambulim.org.br
Onde buscar ajuda?
ATAH – Ambulatatório de Transtornos Alimentares do Hospital Universitário Professor Edgard Santos – Ufba. Funciona no ambulatório Magalhães Neto, no Canela em Salvador, todas as segundas-feiras a partir das 7h30 para triagem. Conta com psiquiatras, residentes de psiquiatria, clínicos e nutricionistas gratuitos.
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É isso aí. É necessário cada vez mais no exercício profissional, compromisso com as pessoas e com o social, respnsabilidade e ética. As pessoas precisam conhecer o que “outros” profissionais estão fazendo e que a mídia burguesa omite.
Há uma crise profunda de identidade na nossa socidade. Lamentavelmente a mídia é uma das grandes responsáveis por isto. O pragmatista, a superficialidade e o consumo ditam as regras, muda o nosso jeito de ver, viver e de SER.