Trabalho em cooperativas foi incentivado dentro da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Atividade em grupo fortalece a venda direta à indústria
Por Raíza Tourinho*
raizatourinho@yahoo.com.br
Tudo começa com a bauxita, um minério que pode ser encontrado naturalmente no Brasil. Após ser refinada, ela dá origem ao pó branco e fino, similar ao açúcar, a alumina. O pó pode ser encontrado desde pasta de dentes até em carpetes. Em seguida, por meio de um processo eletroquímico, a alumina é transformada em metal alumínio, um material infinitamente reciclável.
Todo este o processo é o principio da fabricação da lata de alumínio, matéria-prima de muitos dos catadores de material reciclável que compareceram ao auditório do Ministério Público do Estado da Bahia, para o Ciclo de Debates Abralatas: Erradicação da pobreza na Economia Verde. O evento, realizado na quarta-feira (24), debateu o papel do catador à luz da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), de 2010.
Assistentes com vestidos produzidos de tampinhas de alumínio, exposição de artesanato reciclado e uma plateia animada e polêmica, foi essa a mistura que deu tom ao encontro. Compareceram ao debate, o diretor-executivo da Abralatas, Renault Castro; o presidente do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), Victor Bicca; o coordenador da comissão de reciclagem da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Hênio de Nicola; o promotor e coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente do Ministério Público da Bahia, Marcelo Guedes; a coordenadora socioambiental da Secretaria de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, Tônia Maria Dourado; o representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Severino Lima Junior; o representante do Fórum Estadual Lixo e Cidadania Elias Pires; o representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis no Estado da Bahia, Ubiratan Santa Bárbara; e o presidente da Associação Meio Ambiente, Preservar e Educar (Amape), Sérgio Nascimento.
Por ser reciclável infinitamente e sem perder a qualidade a latinha lidera o ranking de reciclagem no País, tendo um aproveitamento de 98%. A reciclagem da latinha economiza 95% da energia utilizada para a fabricação de uma nova, segundo a Abal. A redução do custo enérgico da reciclagem representa a energia consumida anualmente no estado do Ceará.
Já o plástico PET, que ocupa a segunda posição, fica bem atrás, com 56% do material reciclado. “A gente construiu um modelo de reciclagem de sucesso”, avalia Victor Bicca, presidente do Cempre, e completa: “Estamos vivendo um momento de mudanças de hábito e precisamos trabalhar duro na educação ambiental”.
Catador – Para a maioria dos presentes, o catador de material reciclável deve se cooperativar para tornar-se mais forte e vender diretamente para a indústria, excluindo a odiada figura do atravessador – pessoa que compra do catador e vende para indústria. Geralmente, o atravessador compra um quilo de alumínio do catador por R$ 1,80 e vende à indústria por mais de R$ 4. Ele é o principal fornecedor atual de material reciclável para a indústria, sendo responsável por 95% do que as empresas reciclam.
Existem no Brasil cerca de 700 cooperativas, que abrigam de 800 mil a um milhão de catadores de material reciclável. De acordo com Severino Lima, o catador fica com apenas 10% do lucro da reciclagem. “Temos que batalhar para trabalhar em rede”, sentencia, defendendo o protagonismo do catador na venda direta para as indústrias. “Investimento no catador é bom e barato”.
Resíduos – A nova Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece alguns marcos fundamentais, como a obrigação da logística reversa para matérias da indústria, a destinação de recursos às prefeituras que apoiarem os catadores de material reciclável e a extinção dos lixões até 2014. Este último item é considerado o mais difícil de pôr em prática. De acordo com Tânia Dourado, a Bahia está discutindo o plano estadual de resíduos sólidos e vêm avançando na área. “O modelo tecnológico para o encerramento dos lixões é um desafio muito grande”, diz.
Segundo ela, a partir de 2012, o governo estadual discutirá com as prefeituras os melhores modelos a serem adotados para a construção de aterros sanitários regionais. “É uma ansiedade de todos. Mas a primeira coisa que temos que fazer é planejar”, afirmou ela, dizendo que não pode discutir o modelo antes da aprovação do plano estadual. A sugestão da Sedur para a gestão de resíduos sólidos são os convênios e consórcios públicos entre as prefeituras. “Entedemos que qualquer que seja o modelo implantando tem que ter transparência, eficiência e inclusão social”, afirmou o promotor Marcelo Guedes. “Temos que quebrar com essa lógica dos municípios que trabalham isoladamente”. Para ele, a prefeitura de Salvador deveria aproveitar os incentivos da copa do mundo. “É uma boa oportunidade”.
*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
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Opinião
Muito boa a matéria… É preciso uma conscientização dos gestores municipais para a atividade, que, além de ambiental e econômica é social… traz retorno inclusive político, para os que só visam este norte.