Estudos em andamento indicam maior prevalência da Doença de Parkinson como consequência direta da exposição continuada a agrotóxicos
Por Raimundo de Santana
raimundodesantana@gmail.com
Ligado à linha de pesquisa Doenças Neurológicas do Envelhecimento da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Fameb-Ufba), o doutorando e professor Hyder Aragão de Melo, do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS), desenvolve estudos visando comprovar a associação entre agrotóxico e a Doença de Parkinson. A cidade sergipana de Itabaiana, com seus 86.981 mil habitantes, conforme dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), é o campo de investigação.
Ele explica que relatos de pacientes e os próprios dados clínicos coletados têm evidenciado um preocupante aumento de casos diagnosticados da doença naquela localidade. Os estudos em andamento podem comprovar essa maior prevalência da Doença de Parkinson como consequência direta da exposição continuada durante um longo tempo a agrotóxicos usados por agricultores nas plantações.
Literatura médica – “Quando comparado, por exemplo, a outro segmento da cidade ligado à atividade da pecuária na mesma localidade, a comunidade de agricultores que usa, e está exposta, o pesticida apresenta uma maior incidência da doença”, confirma o professor Ailton Melo que orientada o pesquisador Hyder Aragão.
Indagado se seus estudos trariam impactos à literatura médica, o professor Hyder Melo acrescenta que a associação entre a superexposição continuada a alguns agrotóxicos e a alta prevalência de Doença de Parkinson não é exatamente uma novidade.
“Mas se ficar comprovado que o uso continuado por um longo tempo de agrotóxicos na agricultura em Itabaiana tiver ligação com os casos de Parkinson estaremos acrescentando novos conhecimentos à literatura médica”. “O que estamos estudando é a exposição a agrotóxicos, dentre os quais pode haver uso do Paraquat”, detalha.
Cauteloso nas afirmações acerca de seus estudos, o professor lembra que a literatura médica expõe a incidência de cerca de 3% da Doença de Parkinson em população acima de 60 anos (ver boxe 1). “Se encontrarmos mais que isso, poderá haver relação com o uso de agrotóxicos”, diz.
Na sua pesquisa de campo, ele explica que os pacientes são avaliados em suas próprias casas, ou no posto de saúde no qual são cadastrados. Os pacientes que quiserem manter o acompanhamento são encaminhados ao seu ambulatório no Hospital Universitário. O cadastro de possíveis pacientes foi montado por ele e equipe, através de questionário populacional aplicado pelos agentes de saúde do município, treinados por eles.
Hipótese – Em relação à incidência de casos de Parkinson a em outras comunidades, o professor Hyder enfatiza que: “A hipótese é que haja maior numero de parkinsonianos entre aqueles que lidam diretamente com o agrotóxico, enquanto que áreas menos expostas a essas substâncias deverão ter menor incidência. A pesquisa dirá se estamos certos nessa suposição”.
Os pacientes são avaliados em suas próprias casas, ou no posto de saúde no qual são cadastrados. Entretanto, os pacientes que quiserem manter o acompanhamento são encaminhados ao seu ambulatório no Hospital Universitário da UFS. O cadastro de possíveis pacientes foi montado por ele e equipe, através de questionário populacional
aplicado pelos agentes de saúde do município, treinados por eles.
Para o professor, um dos méritos do estudo – ao comprovar a associação entre a prevalência da Doença de Parkinson e a superexposição de agrotóxicos, ou uso abusivo dessa substância por um longo tempo – é, no primeiro momento, trazer à luz um problema de saúde pública e exigir a suspensão do uso do agrotóxico e aprofundar estudos sobre o impacto da substância em familiares daqueles que usam o produto (inclusive as crianças e na população jovem).
Além disso, chama a atenção o pesquisador, tem o impacto no solo, na água e nos alimentos que chegam à mesa da população do estado. Outro aspecto destacado pelo professor Hyder Aragão em relação ao estudo é que a pesquisa fortalece a relação entre a UFS e Ufba.
O Parkinson no Brasil e no mundo
Doença neurodegenerativa, o Mal de Parkinson ou Doença de Parkinson atinge segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 3% da população mundial com mais de 65 anos da população mundial. Nos cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU) até 2040 os parkinsonianos serão oito milhões ao redor do mundo. O nome da doença foi estabelecido pelo neurologista francês Jean-Martin Charcot (1825 -1893) para homenagear o médico inglês James Parkinson (1755-1817), a quem se atribui a discrição da doença pela primeira vez.
No Brasil, conforme divulgado no site www.parana-online.com.br pelo menos 200 mil pessoas têm Parkinson, segundo levantamento do Ministério da Saúde. Esse número é sustentado pelo neurologista Henrique Ballalai Ferraz, do Departamento de Transtornos do Movimento da Academia Brasileira de Neurologia.
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Não creio que o uso de agrotóxico tenha a ver com a doença de Mal de Parkinson. Creio que estejam em uma direção/caminho certo, porém, com um diagnóstico falho (agrotóxico). Conheço uma pessoa que teve Parkinson, o acompanhei por muitos anos e ela teve praticamente 0% de contato com agrotóxico ou alimentos que o tivessem.