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Atualizado em 1 DE setembro DE 2011 ás 20:06

Programa de controle da asma da Fameb-Ufba é modelo para OMS

Programa de Controle da Asma e da Rinite Alérgica na Bahia (ProAR) reduziu em 74% as internações hospitalares, mas encontra sérias dificuldades para ser ampliado na rede municipal de saúde

Por Raimundo de Santana
raimundodesantana@gmail.com

Conforme o Programa de Controle da Asma e da Rinite Alérgica na Bahia (ProAR), para cada 10 habitantes, ao menos dois têm dificuldades para respirar, que podem ser relacionadas a inflamações nos brônquios e diagnosticadas como asma. Desse total, a do tipo grave atinge 10% dos casos em Salvador. E são os casos graves, contudo, os responsáveis pelo custo de cerca de 74% (medicação mais internamento hospitalar) de todo o recurso do Sistema Único de Saúde (SUS) destinado anualmente à doença.

Estruturado na Bahia há nove anos, o ProAr, que nasceu de um Programa de Extensão sob a responsabilidade de um grupo de professores-pesquisadores vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Medicina e Saúde (PPgMS) da Faculdade de Medicina da Ufba (Fameb), conquistou sucessivos editais da Fundação de Amparo à Pesquisa da Bahia (Fapesb). Não tardou muito para ganhar o reconhecido público, sendo que em 2009 foi absorvido pelo Programa de Núcleo de Excelência em Asma (Pronex) da Ufba, uma parceria entre Fapesb e CNPq.

Além de reduzir o impacto do custo da asma na rede pública de saúde e no orçamento familiar dos pacientes, neste quase 10 anos de existência a iniciativa vem orientando de forma eficaz como os pacientes podem conviver com a doença, educando inclusive o uso correto da medicação, e provando para as autoridades de saúde que uma política pública de controle e tratamento da asma é possível, tem relativamente um baixo custo e é fundamental que seja ampliada.

Bombinhas Proibidas - Conforme dados do ProAR, os anos de 2003 e 2006 registraram a redução de 74% das internações por asma. O professor Álvaro Cruz explica que o impacto no total das internações por todas as causas não é tão grande. “Pelas minhas estimativas, a partir de 2005, mantida a tendência de redução de internamentos por asma, são evitadas cerca de 1200 internações por ano em Salvador, o que implica em economia de cerca de R$ 400.000,00 anuais para o SUS (Secretaria de Saúde do Município). Estimativas mais precisas serão objeto de um trabalho de doutorado em breve”, explicou.

Em relação à portaria de janeiro deste ano da Agência Nacional de Vigilância Sanitária que proíbe a produção ou a importação de medicamentos que tenham gás clorofluorcarbono (CFC), como as bombinhas para asma.

Além disso, os fabricantes também serão obrigados a colocar, nas bulas e nas embalagens, um aviso de que o remédio contém “substâncias que agridem a camada de ozônio.” A mensagem também deverá deixar claro que o medicamento será substituído e que o paciente precisa procurar seu médico para orientações.

Segundo o professor Álvaro, essa determinação da Anvisa não tem afetado o tratamento encaminhado pelo ProAR, isso porque, diz, há inaladores de pó seco e aerossóis sem o CFC que substituem as medicações banidas.

Álvaro Filho iniciou na Bahia o Programa para o Controle da Asma (ProAR)

No seu estágio agudo, além das tosses, falta de ar, o desconforto do chiado e aperto no peito, interrupção do sono, a asma, em muitos casos, impede atividade normal no trabalho e em alguns casos pode levar até a morte por asfixia.

Centros de Referência – Outra faceta da bem-sucedida trajetória desse programa foi a criação de quatro Centros de Referência para os casos mais graves: Hospital das Clínicas (Canela), que foi transferido para Centro de Saúde Carlos Gomes (Centro); Hospital Pediátrico Hosannah de Oliveira (Ufba, Canela), Hospital Santa Izabel (Nazaré) e Octávio Mangabeira (hospital estadual especializado no bairro do Pau Miúdo que atende a crianças e adultos). Em todos eles são distribuídos medicamentos gratuitamente pela rede Sistema Único de Saúde (SUS).

Foram esses centros de referência, inclusive, que baratearam o tratamento da doença para uma vasta camada da população carente, além de abrir campo para um promissor caminho de investigação científica, tendo a iniciativa se transformado em linha de pesquisa de mestrado e doutorado desenvolvidas em projeto de extensão, no SUS fora dos “muros” da Ufba.

O ProAr, além de reunir profissionais experientes, inclusive no tratamento da asma em estado grave, dispõe de uma abordagem multidisciplinar que envolve muita educação do paciente para a saúde e considera a família do paciente como parte importante no tratamento. Isso porque como se trata de uma doença crônica que exige um tratamento continuado, tanto paciente como familiares têm que identificar o tipo de crise, se leve ou não, para melhor usar o medicamento.

“O ProAR oferece opções de tratamento eficazes e seguras, mas naquela época em que foi criado, em 2002, isso não existia para as pessoas de baixa renda  assistidas pelo SUS”, assinala o pneumologista, pesquisador, professor da Fameb e criador do ProaAR, Álvaro Augusto Cruz, que dirige atualmente o Pronex-Ufba.

Asma e Urbanização - E por que a asma atinge 1/5 da população baiana? Antes de apresentar dados com os quais pesquisadores do ProAR vêm se debatendo, professor Álvaro Cruz alerta que o Brasil está entre os oito países do mundo que mais têm asma. E mais: as cidades de Salvador, Vitória da Conquista e Feira de Santana, também na comparação mundial, estão entre as cidades com as maiores taxa de prevalência da doença. A prevalência, segundo o jargão médico-científico, é a frequência com que se observa uma determinada doença na população em um período específico de tempo.

E são exatamente esses três centros urbanos do estado da Bahia que têm experimentado, nos últimos cinco anos, um vertiginoso crescimento na ocupação dos seus espaços urbanos, todos eles ligados a projetos de empreendimentos imobiliários sejam para fins comerciais, industriais ou até mesmo de moradias.

Segundo o professor Álvaro os estudos acerca do controle da asma têm apontado na direção de uma associação direta entre os efeitos da urbanização e a asma. Para ele há sim, nos estudos sobre a doença, a identificação da urbanização como fator de risco. Em relação à possibilidade de haver ou não maior incidência da doença nas camadas pobres da população visto as baixas condições de moradia, higiene e saneamento, o professor Álvaro afirma que o tema carece de maior investigação. “Em alguns países a asma é mais frequente entre as pessoas de nível sócio-econômico mais alto. Na Bahia, parece que é o contrário”, diz.

O pesquisador Álvaro Cruz, inclusive, é um entusiasta participante de redes de iniciativas contra a doença, como o Grupo de Planejamento da Aliança Global contra Doenças Respiratórias Crônicas (Gard)/Organização Mundial da Saúde, do Comitê Executivo da Iniciativa Global Contra a Asma (Gina: www.ginabrasil.com.br), a Iniciativa Aria (Allergic Rhinitis and its Impact on Asthma).

No âmbito do ensino e da pesquisa, o nível de qualificação do ProAR tem atraído profissionais de diferentes áreas, notadamente enfermagem, farmácia e saúde coletiva. O programa ganhou dois prêmios nacionais: o Prêmio de Saúde da Editora Abril em 2007 e o Prêmio de Asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia em 2008.

Dificuldades financeiras - No plano externo o programa ampliou seu reconhecimento internacional, isto é: foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com o um modelo de programa de controle à asma em países em desenvolvimento. Aqui na cidade de Salvador, o ProAR é reduziu em 74% as internações hospitalares por asma, entre 2003 e 2006.

Mas nem tudo no ProAR acontece nas águas tranquilas do reconhecimento. Isso porque na contramão de toda essa performance, a iniciativa vem enfrentando sérias de dificuldades financeiras que comprometem a ampliação do seu raio de assistência.

“Com tudo isso o SUS não fornece os recursos necessários para manter o programa funcionando. E é uma pena a gestão da saúde pública não expandir esse programa em grande escala em toda rede municipal capacitando os profissionais da atenção básica para atender aos casos mais leves de asma”, desabafa o professor Álvaro Cruz.

Além do componente assistencial e de pesquisa, a equipe do ProAR já oferece treinamento e capacitação a mais 500 profissionais do SUS de variados níveis de Salvador e de outras cidades baianas, mas não tem encontrado apoio do SUS, conforme disse o professor Álvaro, para continuar atuando nesta área.

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Um comentário a Programa de controle da asma da Fameb-Ufba é modelo para OMS

  1. Paulo Roberto de Oliveira disse:

    Bom dia Dr.Álvaro!
    Parabéns pela iniciativa de criar o programa de Asma.
    Sou profissionnal de educação física, especializado em Natação Terapêutica para Asmáticos.
    Voces possuem programa aquático de atendimento aos asmáticos?
    Recentemente, publiquei o livro Natação Terapêutica para Asmáticos, pela Phorte Ed.
    Gostaria de enviar-lhe um exemplar, favor enviar endereço.
    Agradeço a atenção e aguardo comunicado.
    Att.
    Prof.Paulo Roberto de Oliveira

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