RoboCup Federation incentiva pesquisadores da Uneb em competições internacionais com robôs reais e simulados. Grupos de pesquisa de todo o mundo se enfrentam em desafios diversos no campo da robótica
Por Rosana Guimarães
jornalista.rosanaguimaraes@gmail.com
Quem acha que a Bahia só produz música e artistas e que robôs só são criados por japoneses está com uma idéia equivocada. Com mais de sete universidades e mais de uma centena de faculdades, a conhecida “Terra da Alegria” desponta como um dos estados que se destaca na produção do conhecimento através de projetos de pesquisa, elaborados principalmente em instituições de ensino superior.
Entre um dos trabalhos que tem alcançado fama em nível internacional está o Bahia Robotics Team (BRT), criado pelo Núcleo de Arquitetura de Computadores e Sistemas Operacionais (ACSO/Uneb) no ano de 2006.
De acordo com Marco Simões, pesquisador e líder do grupo ACSO e doutorando em Ciência da Computação (Ufba/Unifacs/Uefs), o “BRT é uma iniciativa científica que visa reunir grupos de pesquisa interessados em investigar os problemas e os desafios propostos pela RoboCup Federation”, que nada mais é do que uma ação científica internacional existente desde 1996, com sede na Suíça, formada por Comitês Nacionais ou Regionais, criados em cada país ou região interessada em contribuir de forma mais ativa para esta iniciativa.
Segmentação - As competições e as pesquisas RoboCup centralizam-se em três temas ou áreas principais: a RoboCupSoccer (que se subdivide em Ligas – Simulação, Small Size, Medium Size, Standard Plataform e Humanóides); a Robo@Cup Rescue (integra ação robótica e humana em situações de salvamentos e resgates) e, a Robo@CupHome (robôs colaborando em atividades domésticas).
Na RoboCup Soccer “o objetivo global é construir – até o ano de 2050 – um time de robôs humanóides autônomos, capaz de derrotar a seleção de humanos campeã do mundo da última Copa da Fifa”, afirma Marco Simões. Para atingir este objetivo é realizado anualmente um evento itinerante denominado RoboCup que inclui um simpósio científico e uma série de competições práticas nas quais robôs reais e simulados, produzidos pelos grupos de pesquisa de todo o mundo, enfrentam-se em desafios diversos. Como exemplos podemos citar os eventos organizados pelo Comitê Nacional Brasileiro e pelo Comitê Regional Latino Americano. E é nesta categoria que o grupo baiano está inserido, na Liga de Simulação:
Premiação – O Grupo de Pesquisa ACSO já possui uma coleção de conquistas internacionais: o primeiro lugar na Robocup Japan Open 2010 e na Robocup Brazil Open 2007; a segunda colocação no Robocup Iran Open 2011; o terceiro lugar na Robocup Áustria 2009; e o quarto lugar no Robocup Cingapura 2010.
Além disso, conquistou o bicampeonato na Latin American Robotics Competition (Larc), na modalidade realidade mista, com o time Bahia MR. Outro time do ACSO também se destacou nesta edição: o Bahia 3D foi vice-campeão da modalidade simulação 3D, em seu primeiro ano de disputa.
Outras linhas de pesquisa – O ACSO possui ainda mais duas linhas de pesquisa: Computação de Alto Desempenho (CAD) e Robótica Inteligente (RI). Na linha CAD – coordenada pelo Prof. Leandro Coelho – o principal projeto é o de Multimídia de Alto Desempenho sob Demanda, o qual investiga a infra-estrutura para a próxima geração de transmissão de vídeo e áudio que seria a multimídia sob demanda. “De forma resumida, este projeto investiga a forma como as próximas gerações assistirão televisão daqui a alguns anos. Este resultado é o principal benefício para a sociedade”, afirma Marco Simões.
Já na linha RI existem dois principais projetos: o Bahia3D e o BahiaI3Eopen. “O Bahia3D é nossa equipe de futebol de robôs simulados que investiga os desafios propostos pela Liga de Simulação 3D da RoboCup. O objetivo é construir a inteligência artificial necessária para produzir um time de robôs humanóides simulados, capaz de jogar futebol de forma eficiente”, explica Simões. O futebol de robôs, neste caso, é usado como um desafio padrão que reúne problemas reais em aberto na área de robótica autônoma. “Ao produzir conhecimento validado no ambiente de futebol robótico, é possível utilizar este conhecimento para a solução de problemas reais como resgates de vítimas, geração e controle de distribuição de energia elétrica, apoio a pessoas com necessidades especiais, automação de tarefas domésticas, etc. Todos estes exemplos ilustram como a sociedade pode ser beneficiada dos resultados deste projeto”, salienta.
O outro projeto BahiaI3Eopen visa à migração do grupo dos robôs simulados para os robôs reais. De acordo com Simões, neste projeto trabalha-se com um robô físico que deve solucionar problemas de logística. “A cada ano é definido um desafio pela IEEE Computer Society, que deve ser solucionado pelos robôs de forma mais eficiente e em menor tempo possível”, relatou. Neste ano o desafio é efetuar a coleta seletiva de grãos de café numa plantação montada em maquete representativa. O resultado deste projeto permitirá levar o conhecimento já produzido com os robôs simulados para robôs reais, participando futuramente de outras Ligas RoboCup como Robo@CupHome, Futebol de Robôs Humanóides etc.
Vantagens – As pesquisas e competições criadas especialmente pela RoboCup em suas diversas áreas permitem que haja um desenvolvimento maior de soluções avançadas no que diz respeito aos desafios atuais acerca dos meios de locomoção autônomos, distribuição de energia e automação em suas diversas vertentes, com redução de riscos e de custos nos testes que são realizados, além de gerar profissionais mais qualificados e aptos ao mercado de trabalho, de desenvolvimento tecnológico e de inovação, já que com estes experimentos permite-se a participação de estudantes em diferentes níveis de formação.
Pode-se ainda reduzir boa parte dos problemas que demandam inteligência artificial distribuída (para próteses biomecânicas, cirurgias médicas, controle de tráfegos), resgates em situações de desastre e na ajuda de resolução das tarefas do dia a dia.
Durante sua existência, o ACSO/Uneb já contou com a participação de estudantes de diversas instituições baianas. Com poucos anos de existência já foram conquistados tantos objetivos e prêmios, pode-se esperar da “Terra da Alegria”, com a criação* de mais duas universidades federais no Sul e Oeste da Bahia e de onze campi de institutos federais, a propagação e a difusão do conhecimento em nível internacional com tempero baiano.
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Entrevista – Miguel Nicolelis
Sou aluno da Uneb-Alagoinhas, estudo analise de sistemas, e gostei de saber que a Bahia pesquisa nessa área tão especial que é a Robótica.