Bem-humorado, o biólogo americano Martin Chalfie, laureado em 2008, falou sobre o processo de elaboração de sua pesquisa
Raíza Tourinho* e Wagner Ferreira
raizatourinho@yahoo.com.br / wagner.ferreira@ufba.br
Foi com bom-humor e um trecho do livro A Tenda dos Milagres, do escritor baiano Jorge Amado, que o biólogo americano Martin Chalfie, vencedor do prêmio Nobel de Química em 2008, abriu a conferência “Proteína Fluorescente Verde (GFP): iluminando a vida”, às 17h da quarta-feira (19), no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
O pesquisador da Universidade de Columbia nos Estados Unidos, hoje com 64 anos, foi o primeiro a utilizar a GFP como marcador da expressão genética. Os resultados do seu trabalho pioneiro foram publicados pela primeira vez em 1994. É importante salientar que, diferente de outras moléculas fluorescentes, a GFP tem níveis de toxicidade baixos e pode ser utilizada em células vivas. As propriedades da GFP foram responsáveis por revolucionar a microscopia de fluorescência nos campos da Biologia Celular e Bioquímica.
Durante a conferência, ele listou o processo de descoberta da GFP e as dificuldades que enfrentou na pesquisa. Arrancando risos da plateia, que lotou os cerca de 500 lugares da reitoria, Chalfie contou como analisou o material em microscópios mais potentes do que possuíam. Sem verba para adquirir um novo modelo, ele afirmou que saiu ligando para as fabricantes solicitando o equipamento para testes por “um mês ou dois”, sob o pretexto de que pretendia adquirir o aparelho.
O biólogo analisou também as contribuições de sua pesquisa para a evolução científica. Segundo ele, somente em um banco de dados utilizado por biólogos existem cerca de 30 mil trabalhos que utilizam GFP como palavra-chave. Chalfie estima que o número real de pesquisas científicas utilizando a proteína fluorescente chegue a 100 mil.
A GFP permite acompanhar diversos processos fisiológicos em células vivas. Assim, um de seus usos é acompanhar a trajetória de células que contêm vírus ou células cancerígenas no ser vivo.
Para finalizar, ele contou o que a pesquisa ensinou a ele: “o sucesso científico acontece por diferentes meios. E muitas das descobertas, a maioria, são acidentais”, afirmou, ressaltando que, apesar disso, o progresso científico é cumulativo. “A pesquisa básica é essencial”, disse.
Presente à conferência de Chalfie, o professor de Biotecnologia da Ufba e FTC, Vitor Hugo Moreau, classificou o ganhador do Nobel como uma pessoa muito simples e simpática. “No final, ele pediu para que os alunos fossem conversar diretamente com ele para que fizessem perguntas; foi ‘tietado’ como uma celebridade – e é de fato. Fica o exemplo de humildade.”, conclui Moreau.
Estiveram presentes no evento, a reitora da Ufba, Dora Leal Rosa e Eliane Azevedo, primeira reitora da instituição; o presidente da Academia de Ciências da Bahia, Roberto Santos; o diretor geral da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), Roberto Paulo Machado Lopes; os professores da Ufba, Mauricio Moraes Victor e Jaílson Bittencourt, membro da Academia Brasileira de Ciências; e a pró-reitora de extensão da Ufba, Blandina Viana.
Química – A vinda de Chalfie ao Brasil na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia faz parte das comemorações pelo Ano Internacional da Química, que celebra o aniversário de 100 anos do Prêmio Nobel para Marie Sklodowska Curie.
O nobel participou quinta-feira (20), do programa Ph do Planeta, no Dique do Tororó, onde ensinou crianças a aferir a acidez (pH) da água, um dos indicadores de qualidade ambiental. Ele realizou iniciativa semelhante na segunda-feira, no Rio de Janeiro.
O Projeto pH do Planeta é uma das atividades previstas pela Unesco e pela União Internacional de Química Pura e Aplicada para comemorar o Ano Internacional da Química. Até o final da semana, estudantes de outras 510 cidades brasileiras terão ingressado no Projeto pH do Planeta. Os dados aferidos pelos estudantes deverão ser lançados no banco de Dados Nacional do Experimento Global (Global Experimente Data base).
*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom
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Prêmio Nobel de Química é a principal atração da SNCT na Bahia