Aproximação entre ciência e sociedade se faz necessária para a democratização do conhecimento
Por Ítalo Cerqueira*
italo.lirio@gmail.com
Aproximar duas esferas que preferem manter uma relativa distância entre elas foi a tônica que moveu a mesa redonda “Diálogo entre Ciência e Sociedade: Desafios para a comunicação do conhecimento científico” que aconteceu na sala de videoconferência do PAF III, no segundo dia de atividades da Semana de Arte, Cultura, Ciência e Tecnologia (Acta), da Ufba.
A mesa foi mediada pela professora do Instituto de Biologia da Ufba, Blandina Felipe Viana e contou com a participação do professor do Instituto de Biologia da Ufba, Pedro Luís Bernardo da Rocha, da professora da Faculdade de Comunicação da Ufba, Simone Bortoliero e da professora do Instituto de Química da Ufba, Vanessa Hatje.
O primeiro a se apresentar foi o professor Pedro Rocha, ele trouxe questionamentos sobre a dificuldade em aplicar a produção do conhecimento científico em situações práticas. Para ele, o conhecimento científico interfere muito raramente na ação, apesar de ter havido um crescimento de pesquisas realizadas no Brasil nos últimos anos, isto se deve por alguns fatores: primeiro, este fator se deve por conta do sistema de valoração do cientista, no qual os pesquisadores são avaliados por critérios estabelecidos pelo CNPq, assim quem é mais valorizado é aquele que consegue se comunica. Segundo o foco do conhecimento científico está longe da resolução prática, ou seja, de acordo Rocha afirma que “dificilmente o resultado produzido pode ser aplicado. Que aparentemente ele pode ser aplicado, mas na prática isto não acontece”.
É necessário que o pesquisador tenha em mente que o conhecimento científico e o aplicado são conhecimentos de qualidades diferentes, desta forma conhecimento científico busca o geral, é baseado em teoria e é mais abstrato, já o conhecimento prático é mais específico e está pautado nas ações cotidianas. A solução para o professor é de que é necessário “aproximar conhecimento científico e aplicado, visando aprendizagem social no contexto de formação de estudantes de práticas”.
Um exemplo que ele desenvolveu baseado nesta premissa foi o projeto de pesquisa “Integrando níveis de organização em modelos ecológicos produtivos” e teve êxito em sua aplicação, que contou com o uso do critério pelo técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto de Gestão das Águas e Clima (Ingá).
A segunda convidada a se apresentar foi a professora Simone Bortoliero, ela destacou a importância de se estabelecer uma cultura de jornalismo científico dentro da universidade. De acordo com Bortolieiro, na década de 80, universidades como a Unicamp e a USP desenvolveram um jornalismo científico dentro de seus campi de uma maneira bem arregimentada, colocando na sua linha de frente todos os pesquisadores que faziam parte de seus quadros, o resultado deste investimento foi um reconhecimento de ambas instituições em nível nacional da importância que elas exercem para a ciência brasileira.
A professora Simone apresentou para a plateia uma recente pesquisa feita com estudantes do segundo grau, a qual revela que 52,51% dos entrevistados acham que cientistas são pessoas esquisitas que falam complicado e 72,8% dos estudantes não conhecem nenhuma instituição de pesquisa, ou seja, “eles não associam Uneb, Ufba, Uesc com pesquisa”, destaca. “Além disso, quando perguntados se eles conhecem algum cientista, 25,7% afirmaram que sim e citaram somente os clássicos, como Einstein, Newton e Darwin”, afirma a professora.
Ela ainda chama atenção de que esta deficiência encontrada nas escolas, também se reflete nas universidades, pois “a dificuldade com o conhecimento científico também aparece nos textos jornalístico dos alunos da Facom”.
Dando procedência, Bortolieiro apresenta a Agência de Notícias e Cultura, destacando a importância dela para a divulgação científica da Ufba, além de frisar a importância da parceria entre pesquisador e jornalista. “O pesquisador tem que querer passar o conhecimento que tem”, ressalta.
Por último, aconteceu a apresentação da professora Vanessa Hatje com o tema “Conectando Ciência e Educação”. Hatje questionou o papel contemporâneo que é o de transferir conhecimento para o mercado e para a sociedade. Entretanto, “a média de escolaridade da população brasileira com 15 anos ou mais é de 4,3 anos”, alerta. E para agravar ainda mais a situação, em 2008, foram formados cerca de 730 mil estudantes e havia 2.334 mil vagas disponíveis para estágios e trainees, 10% dos postos não foram preenchidos. Falta qualificação. É um problema que “vai desde a educação básica até a universidade”, salienta.
Depois desta explanação, a professora apresenta as Propostas da Baía de Todos os Santos, que são projetos que visam a divulgação científica e a formação de pessoas. O primeiro é o Programa o Cientista Volta à Escola, uma vez ao mês, um pesquisador vai à escola e conecta sua pesquisa com o cotidiano das crianças. O segundo é o Programa de Estímulo à Vocação Científica (Provoc), que visa despertar vocações científicas nos estudantes de ensino médio. O terceiro é a Oficina textual de Vera Cruz, realizadas para tentar superar a dificuldade de escrita dos professores da Baía de Todos os Santos, para que, depois disso, eles pudessem repassar tais conhecimentos aos seus alunos. O quarto é o Experimento pH do planeta, no qual foram distribuídos alguns kits de medição de pH para estudantes do ensino médio, assim eles próprios puderam medir o pH da água do local onde eles moram. Além destes, tiveram também a Coleção Cartilhas, que apresentavam temas como água e poluição, para serem usadas por populações tradicionais e estudantes da rede pública e, por fim, a Semana Kimurê, uma mostra de arte e cinema que contou com a presença da comunidade tradicional de pescadores e de gestores públicos.
A professora Vanessa Hatje conclui sua participação com a seguinte declaração: “O que nós estamos tentando promover é o engajamento das universidades para o estabelecimento da conexão entre ciência e educação”.
*Estudante de Produção Cultural da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom