Dermatologistas poderão prescrever a planta em forma de creme, gel, pomada e sabonete devido a sua ação antibacteriana
Por Silvana Pereira*
silvana.interativa@gmail.com
Pesquisadores da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) desenvolveram alternativas baratas para tratamento de dermatites a partir de uma planta venenosa encontrada nos quintais de várias residências baianas. Trata-se da Jatropha curcas L. popularmente chamada de pinhão manso, planta que tem servido como matéria-prima para a pesquisa e desenvolvimento de cosmecêuticos (cosméticos funcionais) e também é bastante conhecida pelos baianos, pois faz parte dos rituais de candomblé sendo utilizada para afastar maus espíritos.
Belarmino Conceição (54 anos), morador da Boa Vista do Lobato, bairro da periferia de Salvador, conhece bem as propriedades dessa planta. Ele relata que há algum tempo tinha uma ferida no braço, que custava a sarar, causada por um arranhão, ocorrida enquanto arrumava uma cerca nos fundos de casa. Como não tinha o hábito de ir ao médico, lavou durante algum tempo o local da ferida com chá de pinhão manso e tempos depois estava curado. Por conta do elevado custo de muitos medicamentos, as pessoas, como Belarmino, têm recorrido cada vez mais ao uso das plantas da biodiversidade brasileira, que apresentam propriedades medicinais.
Para além da pesquisa como biocombustível, o pinhão manso, segundo o professor Mauro Bitencourt (Farmacêutico, Mestre em Bioenergia pela FTC e professor Toxicologia e Farmacologia Clínica do curso de Farmácia da FTC), tem ação antibacteriana e seu extrato foi testado contra bactérias que causam infecções de pele como a Staphyloccocus aureus apresentando boa atividade antibiótica.
Esta descoberta proporcionou o desenvolvimento de cosmecêuticos, produtos inovadores, que resultaram no registro de uma patente. Ele, porém faz um alerta para o fato de haver inúmeras indicações de “usos” na medicina popular desta planta in natura, mas ainda de forma empírica, sem comprovação científica. Para ele é necessário cautela para sua aplicação, pois ainda precisa conhecer os possíveis efeitos colaterais que variam com a concentração de dose e vias de administração. Considerando a necessidade premente de novos antibacterianos eficazes e que, reconhecidamente, o estudo da utilização popular de plantas medicinais é uma ferramenta importante na descoberta de novos fármacos.
Com o avanço das pesquisas sobre os benefícios do pinhão manso para a saúde humana, os dermatologistas poderão prescrever o pinhão manso aos seus pacientes, em forma de creme, gel, pomada e sabonete (cosmecêuticos produzidos na pesquisa do Prof. Mauro Bitencourt). Além de ter propriedade antibacteriana, pesquisas com a planta comprovam que o pinhão manso tem a capacidade de agir diretamente na diminuição de rugas, desaparecimentos de manchas e minimização de cicatrizes. As pesquisas também puderam constatar que o extrato de pinhão manso tem um poder antimicrobiano muito elevado, o que é visto como uma excelente alternativa como antibiótico natural.
Espécies com substâncias químicas de uso reconhecido na medicina devem ser trabalhadas visando sua produção em níveis sustentáveis e maiores, constituindo-se em uma perspectiva para obtenção de antibiótico natural por apresentar evidente atividade antimicrobiana frente a microorganismos Staphylococcus aureus, Staphylococcus saprophyticus e Staphylococcus epidermidis. Todos os estudos foram realizados no Laboratório de Biotecnologia e Ecotoxicologia / Biotecnologia e Microbiologia da FTC, com o apoio do Núcleo de Biotecnologia – NuBiotec que tem como linha de pesquisa: o aproveitamento de resíduos e co-produtos agrícolas e industrias para viabilização da produção de biocombustíveis de segunda geração, havendo no momento a possibilidade de parceria com um laboratório privado para efetuar os testes regulatórios, assim como fabricação em larga escala em uma próxima fase do estudo.
No entanto apesar das polêmicas em torno do uso de animais para testes laboratoriais, tais testes serão efetuados em ratos. A regulamentação dos medicamentos fitoterápicos industrializados é realizada pela Anvisa, órgão federal do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, dentre as diversas ações da vigilância sanitária, está o registro de produtos, controle do processo produtivo, distribuição, comercialização, publicidade, consumo e descarte, além de análises laboratoriais.
O intuito deste é o gerenciamento dos possíveis riscos à saúde em todas as fases da cadeia dos produtos, onde se incluem os cosmecêuticos. Como os estudos ainda estão em fase de testes, não se tem uma preocupação quanto às estratégias para enfrentar os gigantes dominadores de mercado de cosméticos, para tal serão estudadas posteriormente ações para viabilizar a inserção dos produtos no mercado.
Os pesquisadores destacam, ainda, que o uso da biomassa do pinhão manso para a produção de produtos de alto valor agregado como cosmecêuticos ajuda a viabilizar economicamente o uso desta oleaginosa para a produção de biodiesel.
*Designer, estudante do Curso de Especialização em Jornalismo Científico e tecnológico da Facom-Ufba
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