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Atualizado em 21 DE abril DE 2011 ás 00:14

Atividades lúdicas trazem resultados terapêuticos a pacientes hospitalizados

Pesquisa identifica que uso de brinquedos por meio de atividades lúdicas diminuem desconforto e angústia de crianças em hospitais

Por Wagner Ferreira
wagner.ferreira@ufba.br

Diminuir o tempo de internação de pacientes em hospitais, levando o aumento da produtividade das instituições de saúde e a humanização dos profissionais envolvidos são alguma das vantagens da aplicação de atividades lúdicas em ambientes hospitalares. A possibilidade do exercício da ludicidade, sob um aspecto de profundidade foge à percepção da maioria dos profissionais de saúde. O lúdico busca integrar corpo e mente e possibilitar a mediação por meio da motricidade e a potência corpórea.

Uma pesquisa feita em Fortaleza, no ano de 2006, observou o comportamento de dez crianças, entre 3 e 6 anos, internadas em hospitais da cidade. O estudo, que partiu de um grupo de enfermeiros da Universidade de Fortaleza (Unifor), identificou o desconforto e a angústia das crianças por estarem em local desconhecido, cercado de pessoas estranhas, com conversas diferentes e procedimentos dolorosos. A pesquisa observou inquietação e ansiedade nas crianças, o que as tornavam inseguras. Diante do contexto, os pesquisadores adotaram o uso de brinquedos, e por meio de atividades lúdicas, proporcionaram às crianças hospitalizadas a oportunidade de desligar-se da realidade vivenciada. A ação minimizou o clima de tensão entre os pequenos e pode proporcionar a eles subsídios para compreender o que se passa dentro dos hospitais.

Um dos pioneiros na defesa do uso de mecanismos lúdicos na recuperação de doentes foi o jornalista e editor-chefe da revista americana Saturday Review por mais de 35 anos, Norman Cousins (1912-1990). “Através dos tempos, os médicos sempre enfatizaram a importância da vontade de viver do paciente na cura. “O que estava faltando, entretanto, eram informações precisas a respeito dos efeitos biológicos das emoções positivas”, diz Cousins no livro, “Cura-te pela Cabeça: A Biologia da Esperança”.

Edição brasileira do livro "Cura-te pela Cabeça" de Norman Cousins

“Mente sã, corpo são” é basicamente a máxima defendida pelo livro, que leva em consideração pessoas que se curam “milagrosamente”, mesmo quando os médicos já as consideravam casos perdidos. Para o autor, o milagre da cura, o verdadeiro remédio ou tratamento complementar para todas as doenças, é a cabeça, a mente das pessoas. Para ele, cada um de nós tem dentro de si as forças curativas de que necessita.

No âmbito dos profissionais de saúde, diversos seguimentos ligados à área buscam promover encontros que reúnam agentes de transformação para discutir, aprimorar e disseminar a humanização hospitalar. Um deles foi o Fórum de Humanização Hospitalar, realizado na Faculdade de Tecnologia e Ciências em 2008. Entre os principais palestrantes, o diretor-fundador da Associação Viva e Deixe Viver, Valdir Cimino, e Os Contadores de História, grupo que trabalha na motivação de doentes em casas de saúde.

Na ocasião, Valdir Cimino defendeu a humanização dos ambientes hospitalares para a difusão de uma nova postura dos profissionais de saúde no atendimento dos pacientes. “Tais fatores resultam na otimização do atendimento hospitalar, como a diminuição do tempo de internação, aumento da produtividade e melhoria dos processos de relacionamento dos profissionais de saúde com os pacientes, respeitando os direitos destes e de seus familiares”, afirmou Cimino no encontro.

O então professor do curso de Fisioterapia da FTC, Adriano Rodrigues, trouxe para a discussão sua experiência na recuperação de pacientes portadores do vírus HIV por meio da ludicidade, durante a sua atuação na Casa de Apoio e Assistência ao Portador do Vírus HIV/AIDS (CAASAH). Ele abordou o uso do lúdico durante procedimentos fisioterápicos dos pacientes com HIV. “Fazíamos brincadeiras do tempo de nossa infância, e todas promoviam o contato físico, o que pra essas pessoas é muito importante”, salientou.

Ana Cristina Matos mostra livro didático utilizado pela ONG. Com o microfone, Valdir Cimino

Já a coordenadora da Viva e Deixe Viver, Ana Cristina Matos, falou sobre o projeto da ONG desenvolvido em parceria com o professor Jorge Back nas cinco creches dentro do Bairro da Paz: “Fazemos um trabalho com 500 crianças de até seis anos. Lá viabilizamos atividades corporais, oficinas, palestras e encontros, tudo fazendo parte do Programa Saúde da Família”, relata.

Lúdico e motricidade - Com estudos desenvolvidos nas áreas de Motricidade Humana e Fisioterapia, a doutora em Psicologia e Qualidade de Vida pela American World University nos EUA e especialista em Neuropsicologia e Psicomotricidade, Rosa Maria Prista, traz referências ao lúdico na recuperação de doenças de ordem motora no artigo, Ludicidade e Saúde: a Relação Terapêutica e o Surgimento das Potencialidades do Sujeito no Processo de Cura, publicado na versão on-line da Revista Diálogos e Ciência em 2009.

Prista esclarece em seu artigo os aspectos criativos, metafóricos e transcendentais da ludicidade, bem como suas características biológicas, quando aliada à saúde. “O entrelaçamento entre o sistema emocional, endócrino e imunológico é uma realidade. Pensá-los de forma individualizada é um retrocesso científico”, observa Prista em seu artigo.

Para a pesquisadora, a ludicidade como aspecto fundamental proporciona estados emocionais e atitudes diferenciadas na vida do indivíduo. De acordo com ela, sem o obstáculo da racionalidade, as emoções fluem de forma natural, espontânea, livre e provocam reações saudáveis.

A psicóloga ainda observa em sua pesquisa que há lacunas na formação de profissionais de saúde – em especial nos psicólogos – quando observada à promoção de atividades lúdicas em instituições de saúde. “Para se conquistar um profissional habilitado a lidar com a profundidade do ser humano temos que desenvolver habilidades que vão muito além de meras repetições teóricas e disciplinares”, finaliza.

Saiba mais

O Lúdico como Instrumento Facilitador na Humanização do Cuidado de Crianças Hospitalizadas

Ludicidade e Saúde: a relação terapêutica e o surgimento das potencialidades do sujeito no processo de cura

Glossário

Motricidade (estudo do homem no movimento de superação e transcendência)

Notícia relacionada

Fórum de Humanização Hospitalar FTC

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