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Atualizado em 15 DE abril DE 2012 ás 21:59

Grupo discute sexualidade a partir de telenovelas

Intitulado Cultura e Sexualidade (CUS), o coletivo multidisciplinar objetiva analisar este produto cultural a fim de problematizar normas de gênero e sexualidade

POR GILBERTO RIOS
gilberto.rios13@gmail.com

Em dezembro de 1951, foi ao ar a primeira telenovela brasileira. Desde então, elas se configuraram como um dos produtos culturais mais valiosos do país e, a cada seis dias na semana, lançam aos lares brasileiros histórias, questões e modelos de vida para milhões de telespectadores da TV aberta – maioria entre a população do Brasil. Entre essas questões, está o modo como os personagens não-heterossexuais são retratados. Para discutir sobre esse tema, o Grupo de Pesquisa sobre Cultura e Sexualidade (CUS) ligado ao Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, coordenado pelo professor  Leandro Colling se reúne toda semana na Universidade Federal da Bahia (Ufba).

“As telenovelas da Rede Globo ocupam, atualmente, o espaço de programa mais assistido em sua faixa de horário”, afirmou Leandro Colling sobre a relevância do produto para a sociedade brasileira. O professor continou: “mesmo as pessoas que não assistem as telenovelas, em geral, comentam porque as outras pessoas assistem”. Ele justificou que esse argumento já seria o suficiente para validar a adoção do produto de análise cultural que o grupo realiza. Mas vale ressaltar que as telenovelas também são agentes produtoras de imagens, saberes e representações públicas das realidades de grupos que ainda estão privilegiando seu modo próprio de vida e parecem desvalidar outros.

Professor Leandro Colling na Abertura do II Enlaçando Sexualidades

Professor Leandro Colling na Abertura do II Enlaçando Sexualidades

Por este motivo é que o CUS analisa esses produtos, sempre preocupado em observá-los segundo pilares de uma corrente de estudo iniciada em meados da década de 80 denominada Queer. Os estudos Queer problematizam as normas hegemônicas sobre gênero e sexualidade no mundo. É uma perspectiva que olha para o que é hegemônico – por exemplo, a heterossexualidade – e revela o quanto ela foi e continua sendo construída. “Nosso objetivo é desconstruir esses saberes hegemônicos sobre a sexualidade e sobre o gênero”, explicou o Colling.

“Você pode ser um heterossexual, e não exatamente ser heteronormativo a ponto de algumas pessoas LGBTTTs [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros] serem, às vezes, mais heteronormativas que heterossexuais. A heterossexualidade, claro, não é somente, mas pode ser vista como uma prática sexual”, afirmou o professor. Ele ainda contou que heteronormatividade é, por definição, muito mais que um conjunto de normas, convenções, comportamentos e práticas cotidianas que incidem sobre todos e que se espelham em um modelo heterossexual, monogâmico e burguês de vida.

“Em 60 anos, as telenovelas da Rede Globo não conseguiram apresentar um modelo de diversidade, com pessoas convivendo bem com essa diversidade ou coisas do tipo”, disparou o pesquisador, querendo enfatizar que as novelas engessam os modelos de não-heterossexuais. Em suas pesquisas, o grupo percebeu que três modelos de representação se sobressaem: personagens não-heterossexuais na criminalidade, o estereótipo da “bicha louca” [palavras do professor] ou da lésbica masculinizada e, especialmente na década de 90 ao início deste século, o modelo que eles chamam de heteronormativo. Esse último modelo, quase apaga as diferenças entre personagens LGBTTTs e heterossexuais. A diferença está no fato dos LGBTTTs não possuírem vida sexual ativa na telenovela.

O grupo recolhia, sempre que possível depoimento dos atores sobre os personagens que eles atuavam a fim de saber qual a intenção que eles tinham ao elaborar uma personalidade própria para cada um deles.  O mesmo era feito com ativistas sociais para saber o motivo do elogio ou repúdio a determinados personagens. Com isso, descobriram que, em geral, as opiniões desses movimentos e do CUS eram conflitantes. O motivo dessa discordância está pautado principalmente porque os movimentos sociais, segundo Colling, parecem eleger um ideal de representação para os LGBTs, prática rejeitada pelos pesquisadores do grupo.

Os estudiosos preferem acreditar que caso elaborassem um conjunto de regras e afirmassem que uma é melhor do que a outra, correria o risco de criar um modelo ideal. Isso seria equivalente a mudar o posicionamento dos modelos de representação ao invés de fissurar a estrutura na qual esses modelos estão inseridos (de julgamento entre quais são melhores ou piores). O que se defende é que as representações não sejam tão rígidas, fechada, “perversas” ou “produtores de exclusões”, como define Colling. “O que buscamos é uma representação que contemple a diversidade que existe entre as pessoas, e não modelos muito redutores de representação”, concluiu.

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