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Atualizado em 18 DE maio DE 2012 ás 14:43

Estudo analisa rota de contaminação por chumbo em Santo Amaro

Pesquisa levou em consideração além do solo e dos vegetais, fatores específicos das crianças como o sangue, dentes e cabelos. Pesquisadores destacam que outros fatores podem estar influenciando a rota de contaminação, já que o estudo apontou fraca correlação entre a concentração de chumbo no sangue e o solo superficial.

Luana Velloso
luanavelloso16@hotmail.com

Mesmo após quase duas décadas do fechamento da Companhia Brasileira de Chumbo (COBRAC) e de muitos estudos realizados sobre a cidade de Santo Amaro da Purificação e sua contaminação por chumbo e cádmio, a situação por lá ainda é muito difícil. Boa parte da população está contaminada pelos metais pesados, principalmente os antigos funcionários da empresa. Pesquisadores da Universidade Federal da Bahia desenvolveram novo estudo sobre a situação da cidade, que analisou os efeitos da contaminação por chumbo e cádmio na população de 0 a 17 anos – nascida após o fechamento da fábrica. Os resultados obtidos, em conjunto com dados já existentes, apontaram redução nas concentrações de chumbo e cádmio no sangue das crianças com o passar do tempo.

Segundo Sandro Lemos Machado, professor-pesquisador da UFBA, o estudo buscou avaliar a influência dos atuais níveis de contaminação do solo em relação às antigas emissões atmosféricas. A pesquisa levou em consideração além do solo e dos vegetais, fatores específicos das crianças como o sangue, dentes e cabelos.

De acordo com o pesquisador, os valores de contaminação no sangue estão em média acima dos valores obtidos em locais não contaminados. Entretanto, quando comparada aos valores de concentração de chumbo em amostras de solo e de vegetais, a contaminação esperada no sangue é maior.

Machado ressalva que esses resultados podem ter sido afetados pela enchente que ocorreu na cidade de Santo Amaro, em abril de 2010. O pesquisador explica que a contaminação por chumbo dura de 30 a 40 dias no organismo, caso não ocorra nova exposição. A chuva pode ter diminuído a disseminação da poeira contaminada, causando um declínio no índice de contaminação.

Também não foram encontradas quantidades elevadas de chumbo no cabelo. Dados de chumbo nos dentes ainda não estão disponíveis. “As pessoas que participaram da pesquisa tiveram a sua situação de contaminação determinada para aquele momento, e os casos mais graves tiveram os ensaios repetidos e foram feitos exames adicionais com a ajuda do médico pediatra local, Dr. Aníbal Araújo Alves Peixoto”, explica Sandro Lemos Machado.

O estudo também avaliou a contaminação nas plantas. “Percebeu-se em geral, baixos valores de transferência do solo para os vegetais, mesmo assim, folhas e frutos ficaram com concentrações acima do permitido pela Organização Mundial da Saúde. Já os Valores de concentração de chumbo e cádmio nas folhas e cascas foram superiores aos dos frutos. O cádmio teve um fator de transferência de solo para planta maior que o chumbo”, explica Machado.

Em relação à presença de escória na pavimentação e em residências, os dados obtidos mostram que ela desempenha também um papel importante nos valores de contaminação do solo da cidade. Os pesquisadores destacam que outros fatores podem estar influenciando a rota de contaminação, já que o estudo apontou fraca correlação entre a concentração de chumbo no sangue e o solo superficial.

Medidas para diminuir a contaminação

Todos os resultados obtidos foram organizados de acordo com sua localização. Isso permite, por exemplo, que a Prefeitura faça planos para melhorar o uso do solo, discriminando em que áreas um solo pode ou não pode ser utilizado para a agricultura, ou que área é passível de ser ocupada por residências. O estudo também aponta algumas medidas necessárias para diminuir os focos de contaminação: a restrição do uso do solo agrícola apenas para vegetais que não absorvam cádmio e chumbo; a remoção da camada de escória e dos solos severamente impactados das ruas e quintais; utilização restrita dos quintais e posterior cimentação dos mesmos, e aspiração das poeiras das casas.

Sandro Lemos Machado destacou, ainda, as dificuldades para se combater a contaminação na cidade. “A situação de Santo Amaro é grave. Além de o problema ser complexo, exige para a sua solução a participação de profissionais de diversas áreas do conhecimento”, explicou.

Histórico

Localizada a cerca de 100 km de salvador, Santo Amaro é uma das cidades mais contaminadas por chumbo no mundo. Em 1960 se instalou na cidade a companhia COBRAC, que pertencia à francesa PENARROYA Oxide AS, que produzia lingotes de chumbo. A COBRAC fechou as portas em 1993. Durante os mais de 32 anos de funcionamento a empresa produziu cerca de 490 mil toneladas de escória que foram distribuídas e depositadas nas suas proximidades de forma inadequada. Desconhecendo o perigo, a prefeitura usou a escória para pavimentar ruas e a população, para aterrar seus quintais. Este uso representa um dos maiores problemas enfrentados na cidade, porque as fontes de contaminação estão nas casas e nas ruas – basta cavar um pouco para que a escória fique exposta.

Sintomas

Com a contaminação e a constante exposição ao chumbo, as pessoas podem desenvolver inúmeros problemas, entre eles o saturnismo, que é a doença causada pela intoxicação de chumbo. Os sintomas mais comuns são dores abdominais severas, úlceras orais, constipação, parestesias de mãos e pés e o gosto metálico na boca. Outro indício da contaminação é a presença de uma linha preta na gengiva. Os efeitos a longo prazo da exposição crônica não são ainda bem compreendidas, mas parecem ser prejudiciais  aos órgãos, sangue, nervos e sistema endócrino.  Os sintomas da intoxicação por cádmio são: a diminuição da temperatura corporal, hiperatividade, náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, perda de dentes e dores articulares.

* Luana Velloso é estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA.

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