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Atualizado em 22 DE abril DE 2011 ás 01:57

Sala Limpa possibilita aumento da produção de células-tronco

Local reservado à cultura celular filtra e controla ar local e traz segurança no desenvolvimento de materiais injetados em pacientes

Por Carolina Mendonça
carolinacmendonça@gmail.com

O Centro de Biotecnologia e Terapia Celular do Hospital São Rafael (CBTC), inaugurado em 2009, já dispõe de atividades em sua Sala Limpa desde o ano passado. O novo equipamento, que funciona na Área de Cultura de Células Humanas, amplia as atividades de isolamento, purificação e produção de células-tronco com maior segurança do material manipulado.

Único do Norte-Nordeste credenciado pelo Ministério da Saúde para pesquisas com células-tronco adultas, o CBTC é referência na realização de pesquisas básicas e aplicadas em biomédica, com o objetivo de desenvolver terapias e fármacos para o tratamento de lesões crônicas do fígado, trauma raquimedular e cardiopatias, especialmente a chagásica, decorrente da doença de Chagas.

Sala Limpa

O funcionamento da nova área possibilita a filtragem e o controle do ar do espaço reservado à cultura celular, além de trazer maior segurança no desenvolvimento dos materiais injetáveis em pacientes e ampliar a produção de células-tronco.

A área contém um sistema de manutenção da qualidade do ar interior, controlando os níveis de contaminantes. Partículas dentro deste espaço aumentam as possibilidades de estudo e produção de células-tronco usadas para fins clínicos. “O ar que se respira dentro da Sala passa por uma filtragem, é mais limpo, e poucas pessoas podem trabalhar lá. Como lidamos com células que serão recolocadas nos organismos dos pacientes, temos que baixar ao nível mínimo o risco de rejeição. A manipulação deste material exige muitos cuidados”, explica a coordenadora do CBTC, Milena Botelho Soares.

Milena Botelho Soares, uma das coordenadoras do CBTC

O Centro conta ainda com o Biocore de ressonância de superfície, onde são preparadas células-tronco retiradas da pele humana: o Laboratório de Pesquisas, onde são experimentadas tecnologias do estudo de biologia celular, microscopia, citogenética e ensaios imunológicos, além de um Biotério, local que mantém roedores para testes de segurança e eficácia.

A estrutura e os equipamentos do CBTC são considerados bastante modernos, mas se analisado o investimento feito pelo governo e parceiros – cerca de R$ 10 milhões – comparados com os valores recebidos por institutos de pesquisa e universidades nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, é irrisório. “É uma casinha comparada a um grande condomínio, mas para o Brasil e América Latina representa um grande avanço, pois o Centro é ezequível”, avalia Milena Soares.

A coordenadora do Centro ressalta a importância do núcleo de pesquisas para as investigações relativas a doenças negligenciadas pelos grandes laboratórios, que geralmente acometem a população mais pobre e não geram retorno financeiro para a indústria farmacêutica.

De acordo com dados da Fiocruz, das 1393 novas drogas desenvolvidas entre 1975 e 1999, menos de 1,1% foram dirigidas para doenças tropicais e tuberculose. Para se ter uma idéia, as drogas mais usadas para tratar pacientes com a forma crônica da Doença de Chagas ainda são as mesmas há mais de 30 anos, o benzinidazol e o nifurtimox. Os medicamentos não são considerados ideais porque tem uma eficácia limitada, exigem longos períodos de administração supervisionada por médicos, além de apresentarem sérios efeitos colaterais por conta da alta toxidade.

Com projeto de pesquisa “Identificação de marcadores de progressão da forma indeterminada para a cardiopatia chagásica crônica e desenvolvimento de novas terapias para a Doença de Chagas”, Milena e o pesquisador Ricardo Ribeiro dos Santos, outro coordenador do CBTC, querem identificar a razão pela qual a maioria dos pacientes de Chagas não apresenta sintomas ao longo da vida. Este estudo pode contribuir para o desenvolvimento de terapias que evitem a evolução da doença para a forma cardíaca, que muitas vezes leva o paciente a óbito.

No caso específico da Doença de Chagas, no CBTC estão sendo realizados estudos para o desenvolvimento de novos fármacos para a eliminação do parasita causador da enfermidade, o Trypanosoma cruzi e terapias celulares com o intuito de melhorar a função cardíaca dos chagásicos, o que já mostrou resultados.

Em um estudo realizado por Soares e Santos no Hospital Santa Izabel, em Salvador, portadores de insuficiência cardíaca decorrente do Chagas selecionados tiveram 50 ml de medula óssea aspirados por punção. O material foi isolado e enriquecido e depois injetado nas coronárias dos pacientes. Seis meses após o procedimento, estes apresentaram melhora na função cardíaca.

Esperança

No Hospital São Rafael, já há grupos de pacientes sendo acompanhados em ambulatório por médicos-pesquisadores ligados ao CBTC, onde são realizados os exames laboratoriais de alta complexidade. Esta é a esperança de Rosalina Santana Santos, 50, que trabalha como faxineira em casas de família em Salvador. Nascida na zona agrícola da cidade de Cachoeira, na região do Recôncavo baiano, Rosa, como é conhecida, veio pequena com a família para a capital baiana, mas sempre passou períodos de tempo na roça com os avós maternos. Dos nove aos 11 anos de idade, ela foi morar nesta região e acredita que foi lá que “pegou” a Doença de Chagas.

Rosa conta que, algum tempo depois de deixar Cachoeira, teve uma crise de dor de cabeça intensa e febre, provavelmente a fase aguda da doença, em que o corpo reage à infecção causada pelo parasita. Foi levada ao médico e lembra dele dizendo para sua mãe que ela tinha uma doença sem cura, mas que ele não explicou o que era. Daí em diante, foi morar no Rio de Janeiro e passou por alguns episódios parecidos. Era muito magra e constantemente sentia cansaço. Porém, somente aos 22 anos, de volta a Salvador, é que ela veio saber que era portadora de Chagas, quando teve seu primeiro filho.

Por conta dos sintomas, os médicos fizeram exames de sangue e diagnosticaram a Doença de Chagas. Ela, que nunca tinha ouvido falar da enfermidade, não pôde amamentar o bebê (por ser esta uma das formas de transmissão da doença). Rosa, então, foi informada de como o Barbeiro era o principal transmissor da doença. Associou, então, a morte de vários de seus parentes, ainda jovens, com o que ela tinha: “Quando ouvi tudo aquilo, me lembrei das histórias de minha família, de tios, primos e até sobrinhos que morreram muito novos, sentindo as mesmas coisas que eu”.

Rosa passou a tomar medicamentos para as dores de cabeça, mas nunca deixou de sentir cansaço. Desesperada, aos 36 anos, tentou ajuda com outros médicos e de um deles ouviu que deveria fazer amigos, aproveitar a vida e me divertir “porque eu podia estar viva hoje e morta amanhã. Fiquei muito angustiada, mas não perdi a cabeça e até hoje, estou aqui”, conta.

Desde então, a faxineira tem procurado não pensar muito na doença e busca apoio na religião para superar os momentos mais difíceis. Até hoje ela não sabe exatamente quais as consequências da doença para o seu organismo e nem se seus filhos são chagásicos ou não. “Se eles não sentem nada é porque não têm Chagas, né?”, conclui. Sua família nunca recebeu qualquer tipo de orientação ou acompanhamento do Sistema Único de Saúde (SUS), por conta da enfermidade.

Rosalina sente taquicardia, mas o transplante de coração não foi indicado a ela, segundo conta. A faxineira queixa-se de problemas intestinais, como constipação de vários dias e inchaço abdominal. Talvez ela tenha desenvolvido dilatação do cólon, uma das possíveis conseqüências da infecção. Quando soube de “umas pesquisas” que estão sendo feitas nos Hospitais Santa Isabel e São Rafael sobre Chagas, ela se animou: “não sei direito o que é, mas vou tentar uma vaga”. Os pacientes interessados em participar dos grupos de pesquisa no CBTC fazem a inscrição e passam por uma espécie de triagem.

A coordenadora do CBTC, porém, lembra que todos os estudos com células-tronco ainda são experimentais e embora as observações feitas no estudo clínico apontem para um futuro promissor no tratamento da cardiopatia chagásica crônica, ainda há uma longa caminhada pela frente. Ainda é preciso se estabelecer padrões sobre o melhor tipo de célula, a quantidade de doses a serem aplicadas, além de precisar a forma como a terapia celular atua.

Equipamentos do CBTC são considerados de alta tecnologia

Terapia celular

Os estudos sobre terapia celular que estão sendo desenvolvidos no CBTC utilizam células-tronco adultas e não células-tronco embrionárias. Estas são retiradas de tecidos humanos, especialmente da medula óssea, e tem capacidade de multiplicação e diferenciação menor que as células-tronco embrionárias, porém são potencialmente mais seguras quanto à geração de tumores e causam menos rejeição. Nos casos de cardiopatia chagásica, em que muitos pacientes dependem de um transplante de coração para continuar vivendo, a regeneração do órgão por meio da terapia celular pode ser uma opção de tratamento.

Saiba mais:

Doença de Chagas

2 comentários para Sala Limpa possibilita aumento da produção de células-tronco

  1. douglas zotarelli de oliveira disse:

    Parabéns á vcs belo belo trabalho!
    comunique-se comigo tenho um primo paraplégico, levairei-o aí.
    queria saber qual seria o procedimento para leva-lo até o hospital queria saber como que funciona se no caso precisaria de um agendamento antecipado.
    bom dia a todos, aguardo resposta.

  2. Flavio Santos Fonseca disse:

    Pergunta a Doutora Milena: Doutora a que pé estão as pesquisas relacionadas a regenereção do figado através das celulas tronco?

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