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Atualizado em 6 DE agosto DE 2013 ás 17:22

Ivan Sérgio Nunes Silva Filho

No dia 22 de julho, o pesquisador Ivan Sérgio Nunes Silva Filho, do Museu Zoológico da Universidade Federal da Bahia, coordenou o minicurso Taxonomia integrativa e a classificação dos anuros neotropicais no CBH 2013. Durante o minicurso, os participantes tiveram acesso a informações como introdução a “Taxonomia Integrativa” sob o ponto de vista da abordagem integrativa, bases de dados disponíveis para estudos comparados (morfologia, genética, acústica, comportamento etc) e como usá-las, classificação dos grandes grupos (Familias) atualmente reconhecidos filogeneticamente e suas respectivas diagnoses sinapomórficas e putativas. A seguir, o pesquisador responde algumas perguntas relacionadas ao tema do minicurso.

* EMILE CONCEIÇÃO
ej_jornalista@hotmail.com

Agência Arte e Cultura - O que é taxonomia integrativa?

Ivan NunesEm 2005, o pesquisador Benoit Dayrat escreveu um artigo onde delimitou um guia para o desenvolvimento de trabalhos científicos de “taxonomia integrativa”. Este trabalho foi criticado pela ineficiência prática das orientações estabelecidas. Entretanto, o termo “taxonomia integrativa” virou moda na Herpetologia, pois a ideia era boa. Ao estudarmos termos mais antigos como a “evidência total” ou mais recentes como o “taxonomia bem feita”, observamos que os trabalhos visam mostrar que todos os tipos de dados são importantes para estudos taxonômicos da biodiversidade. Simplificando: onde um determinado tipo de dado se mostre ineficiente para diferenciar as entidades estudadas você pode obter sucesso usando outro tipo de dado. Ainda, se uma ampla e multidisciplinar base de dados não mostre diferença entre as entidades estudadas, você pode concluir que elas pertencem ao mesmo nome científico.

Agência Arte e Cultura – Qual a importância dos estudos sobre anuros neotropicais para a sociedade?

Ivan Nunes – Nós somos um país que se autodenomina “biodiverso”. Mas conhecemos apenas uma pequena parcela desta biodiversidade. Os anfíbios anuros não fogem à regra. Além dos anfíbios serem conhecidos como bioindicadores de qualidade ambiental por suas características anátomo-fisiológicas, o Brasil é o país com o maior número de espécies conhecidas e este grupo necessita de um grande esforço em estudos taxonômicos para que possamos conhecê-lo. O problema é que os especialistas apontam para um ritmo de perda desta biodiversidade mais rápido que nossa capacidade de estudá-la, o chamado “impedimento taxonômico”. Resumindo: espécies podem estar entrando em extinção antes mesmo de serem estudadas e os taxonomistas são essenciais para evitar isso.

Agência Arte e Cultura – Quais são os grandes nomes das pesquisas sobre anuros neotropicais?

Ivan Nunes – No Brasil, falando dos pesquisadores mais antigos, podemos citar os de Ulisses Caramaschi, José Pombal Jr. (ambos do Museu Nacional/UFRJ), Carlos Cruz (UFRJ, posteriormente Museu Nacional/UFRJ) e Célio Haddad (Unesp – Rio Claro) como os quatro grandes líderes de grupos especialistas nesta área de pesquisa. Pode-se citar também o Miguel Rodrigues (USP) que, apesar de ser um especialista em répteis, tem uma importante e produtiva linha de pesquisa com sistemática de anfíbios. Entre os sulamericanos podemos citar Esteban Lavilla e Julián Faivovich, na Argentina, Luis Coloma, Santiago Ron e Juan Guayassamin, no Equador. São muitos nomes nos outros países da América do Sul, além de Europeus e norte-americanos, que tradicionalmente trabalham aqui. Destaque para o pesquisador W. Ronald Heyer, que atua no Smithsonian Institution, Washington-DC, Estados Unidos, e certamente é o que possui uma produção de destaque em taxonomia na América do Sul, especialmente no Brasil.

Agência Arte e Cultura – Quais os objetivos dos estudos sobre a taxonomia integrativa e a classificação dos anuros neotropicais?

Ivan Nunes – Os alunos devem conhecer as bases de dados multidisciplinares e seus usos. Conhecer as metodologias possíveis para os diversos tipos de estudos descritivos e de relacionamento. Quais destes métodos podem ser aplicados às perguntas oriundas de hipóteses pré-estabelecidas? Entender o reflexo dos estudos “integrativos” no reconhecimento e nas classificações dos grupos taxonômicos atuais.

Agência Arte e Cultura – De forma geral, o que será tratado no minicurso Taxonomia integrativa e a classificação dos anuros neotropicais do CBH 2013?

Ivan Nunes – Devemos ser capazes de usar, ou buscar usar, todas as bases de dados multidisciplinares disponíveis para alcançar o resultado mais acurado possível sobre os relacionamentos de um determinado grupo em estudo, ou para responder alguma pergunta que permeia o conhecimento sobre um determinado grupo. Muitas vezes, isso não é feito e o reconhecimento dos grupos fica comprometido pela fragmentação das informações disponíveis. Obviamente, não vivemos em um mundo perfeito e nem sempre isso é possível de ser realizado, ou, novos dados estão sempre sendo gerados pelo natural avanço da ciência e vão moldando diferentes conclusões ao longo do tempo. No minicurso do VI CBH, mostrei aos alunos a importância de se trabalhar com todas as evidências disponíveis e o reflexo deste pensamento no reconhecimento e nas classificações dos grupos taxonômicos atuais.

Agência Arte e Cultura – Atualmente, quais são as maiores contribuições atribuídas às pesquisas na área de anuros neotropicais?

Ivan Nunes – Um tema que tem estado em evidência e ainda carece de um maior esforço de pesquisadores são as pesquisas relacionadas aos compostos químicos de anfíbios anuros. Tais compostos podem ser aplicados em pesquisas de âmbito completamente diferente, desde pesquisas de taxonomia às pesquisas voltadas para bioquímica e farmacologia. Estas últimas têm feito os anfíbios saírem nos noticiários recentes.

Agência Arte e Cultura – Demais considerações.

Ivan Nunes – O minicurso foi pautado em temas muitas vezes complexos, mas foram explicados em linguagem também acessível para o nível da graduação. Nós tivemos dinâmicas e debates onde os estudantes tentaram alcançar informações sobre os problemas e métodos propostos para resolvê-los. Cada um que esteve no minicurso, inclusive, teve sua própria experiência e pode nos contar como foram conduzidos os trabalhos na sua própria instituição durante estes debates. Todos aprendemos juntos com isso. Debater os pontos positivos e negativos de cada metodologia foi importante para que cada um, dentro de um critério bem estabelecido, fizesse suas próprias escolhas sobre como trabalhar cada tema cientificamente.

* Estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba, estagiária da Agência Arte e Cultura e colaboradora do CBH 2013

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