Reitora da Ufba entende que universidade deve estabelecer relação de parceria com os meios de comunicação com o objetivo de levar conceitos científicos e discussões controversas para o grande público. Ela defende também a ampliação na mídia dos espaços destinados ao Jornalismo Científico e vê na Agência Ciência e Cultura um importante instrumento de democratização do conhecimento
Por Mariana Alcântara e Wagner Ferreira
alcmariana@hotmail.com / wagner.ferreira@ufba.br
Ciência e Cultura – Para a Ufba, uma das universidades que mais produz pesquisa no Nordeste, o que falta para que os resultados destas pesquisas sejam de conhecimento do grande público?
Dora Leal Rosa – Do ponto de vista acadêmico, a Ufba é altamente reputada dentro do estado da Bahia, no Nordeste e no Brasil. Esse reconhecimento é traduzido por meio de convites a bancas e grandes eventos acadêmicos. Neste momento, nós temos dois pesquisadores que integram comissões da Capes, nas áreas de Artes Cênicas e Psicologia. Dificilmente dois integrantes da mesma instituição fazem parte de uma entidade como a Capes.
Mas o foco da sua pergunta é na divulgação, não pelos pares, e sim para um público mais amplo. Mas será que a nossa sociedade conhece a Ufba para além de seus cursos de graduação? Acho que a Ufba é conhecida pela comunidade não acadêmica pelo ensino de graduação e pouco se conhece das outras atividades que fundamentam o ensino de graduação que é a pesquisa e a extensão. Estas não se traduzem tão facilmente para a população; o que nós temos na área da Educação, da Biologia, da Saúde. Acho que temos uma limitação na divulgação desses resultados. Então, uma Agência, como a que vocês estão propondo construir, é importante, principalmente, por ser voltada ao Jornalismo Científico.
Acho que a mídia, os grandes jornais do nosso estado e a televisão, precisam ter um caderno, uma página dedicada ao Jornalismo Científico, traduzindo para a população esse conhecimento que é gerado pela Universidade em suas pesquisas. Nós temos uma área de Saúde que é altamente reputada, mas a população não conhece o resultado de pesquisas nesta área. Na minha área, que é a Educação, nós temos trabalhos importantíssimos na Faculdade de Educação, por meio de nossos pesquisadores que integram o programa de pós-graduação. Acredito que boa parte da nossa população não conheça esses resultados, porque eles são publicados em revistas da nossa área, mas não são apropriados para os meios de comunicação.
Ciência e Cultura – Então esses resultados ficam restritos ao ambiente acadêmico?
Dora Leal Rosa – Muito restrito. Eu acho que para que esse conhecimento gerado pelas pesquisas seja empregado em nossas vidas, é preciso traduzi-lo para uma linguagem apropriada pelo conjunto da população. Eu me recordo de um livro de Carl Sagan, que foi uma pessoa que trabalhou muito pela divulgação do conhecimento científico. Ele falava da importância da divulgação cientifica para que tivéssemos a nossa formação, nossa educação científica. Ele dizia que o pleno exercício da cidadania só poderia existir se o cidadão compreendesse a sociedade contemporânea e, principalmente, que tivesse informação para que participasse desses debates. Temos agora uma grande discussão sobre energia nuclear. É preciso que a gente entenda como cidadão o impacto da energia nuclear em um país como o Brasil; como deve ser definida a sua matriz energética e como se proteger dela.
Ciência e Cultura – Em muito dos casos, o incentivo à divulgação científica não parte dos órgãos responsáveis pela qualificação de programas de pós-graduação e pesquisadores. Atividades de extensão, que visem a popularização da ciência por meio de publicações em livros e revistas, têm peso menor no Lattes do que a produção de artigos. Como mudar isso?
Dora Leal Rosa – Acho que são dois planos de discussão. O primeiro dentro da universidade, aonde nós já vínhamos avançando e visa a contabilizar essas atividades de extensão, e a discussão extra-universidade, junto às agencias, como a Capes, que é quem avalia nossos alunos. Por isso se faz necessária a discussão, representada por nossos pares nas agências de fomento em prol da valorização das atividades de extensão.
Ciência e Cultura – Voltando à questão da divulgação científica, para a senhora, que já tem uma trajetória importante na área da Educação, como é possível um país como o Brasil, que não tem um retrospecto de investimento maciço na Educação, faça que a educação científica se torne algo mais concreto?
Dora Leal Rosa - Esse é um desafio que a Universidade tem que colocar como objetivos institucionais. Quando eu estava na Fapesb, nós estávamos investindo cerca de R$ 1 milhão em projetos que tivessem como foco a educação científica. Eu acho que a Universidade também precisa fazer esse esforço, que virá através da extensão, de forma que a gente possa contribuir para a educação básica com foco na educação científica. Devemos conduzir as ações de forma paralela, então vamos esperar que aumente os recursos para a Educação para que tenhamos tal tipo de atividade. Há muitos outros editais contemplados pela Ufba, não só das engenharias, mas que englobam o uso de tecnologias sociais, a exemplo da Escola de Administração, que tem programas que utilizam essas tecnologias.
Ciência e Cultura – O Departamento de Popularização da Ciência, desde 2004, com o professor Ildeu de Castro Moreira, fez com que o tema entrasse para a agenda política por ser um instrumento de inclusão social. Como a senhora vê na Ufba a inclusão social aliada a uma educação científica voltada para a popularização da ciência?
Dora Leal Rosa – Eu acho que, com o advento da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, deve-se pensar Ciência e Tecnologia na perspectiva da inclusão social. A população não pode ficar fora dos benefícios gerados pelo conhecimento. No caso da Ufba, eu estava na Fapesb quando lançamos vários editais que tinham essa perspectiva de desenvolver o conhecimento e promover a inclusão e a Universidade participou de muitos editais. Um deles foi um edital voltado para o semiárido, assunto de importante inovação tecnológica.
Ciência e Cultura – É comum ouvir que a ciência é masculina, a senhora é a segunda reitora da universidade. Então, a ciência é masculina?
Dora Leal Rosa – A ciência não escolhe gênero. Ao longo da história, existiram muitas mulheres pesquisadoras importantes. Fomos convencidas que tínhamos um melhor desempenho em atividades domésticas, mas, na verdade, a própria ciência já nos sinalizou que nós mulheres temos o mesmo potencial. É preciso que sejamos preparadas para tal atividade.
Ciência e Cultura - Gostaríamos que a reitora fizesse suas considerações finais em relação a Ufba como Universidade Nova e suas perspectivas
Dora Leal Rosa – A nossa Ufba, hoje, tem muita clareza com o seu compromisso com a sociedade. Todo esse movimento que a Ufba fez no sentido de incorporar segmentos que estavam excluídos do ensino superior é um ponto importantíssimo de abrir-se cada vez mais para a sociedade; interiorizando com dois campi, em Vitória da Conquista e Barreiras. Eu vejo com muito otimismo. Sinto-me profundamente honrada por ter sido escolhida como reitora dessa universidade, reconhecida e aplaudida pelo nosso estado. Estou muito orgulhosa por estar aqui.
Obrigado a vocês e espero que a Agência se torne mais que um projeto acadêmico de um curso e passe a integrar de forma definitiva a nossa universidade.
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Perfil do Pesquisador – Dora Leal Rosa
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