Com o objetivo de desenvolver fitoterápicos originários de plantas da Chapada Diamantina e que sejam acessíveis para a população, o professor Eudes da Silva Velozo do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UFBA comenta o desenvolvimento das pesquisas na Bahia
LUANA VELLOSO*
luanavelloso16@hotmail.com
Ciência e Cultura – Quais os objetivos do seu projeto de pesquisa?
Eudes da Silva Velozo - Este é um projeto da FAPESB em parceria com o Ministério da Saúde, com pesquisa SUS no sentido do aproveitamento da flora do semiárido para a produção de fitoterápicos mais baratos e acessíveis para a população. O objetivo da pesquisa é estudar a flora do semiárido voltado para o estudo de plantas que possuam substâncias com alguma atividade biológica ou farmacêutica. Nesse projeto nós trabalhamos basicamente com três plantas, o Ocimum gratissimum, conhecida popularmente como Quioiô, que é uma planta utilizada pela medicina tradicional e pelo candomblé. A Alpinia zerumbet, conhecida popularmente como Colônia, que é uma planta exótica usada popularmente e também pelo candomblé. E as passifloras, mais conhecida como maracujá, principalmente passifloras nativas.
Ciência e Cultura - Mas o que são fitoterápicos e quais tipos de doenças podem ser tratadas com este tipo de medicamento?
Eudes da Silva Velozo – Fitoterápicos são medicamentos produzidos a partir de plantas medicinais com o estudo da eficácia e possíveis riscos do seu uso. Esses fitoterápicos podem ser utilizados no tratamento da hipertensão, ansiedade e alguns distúrbios do sono.
Ciência e Cultura - Por que estudar a flora do semiárido?
Eudes da Silva velozo - Apesar de o semiárido ser um dos ecossistemas mais importantes do Brasil é um dos menos estudados do ponto de vista químico. Existem estudos químicos bastante elaborados da mata atlântica, da região amazônica, mas o cerrado em comparação aos outros ecossistemas é ainda muito pouco estudado. Nosso objetivo aqui é procurar plantas no cerrado que possam vir a se transformar em fitoterápicos ou ser inspiradoras para a produção de novas substâncias.
Ciência e Cultura - Qual a importância de estudar as passifloras nativas do semiárido? O que elas têm de vantajoso em relação às passifloras comumente utilizadas?
Eudes da Silva velozo - Nós temos mais de 47 espécies de passifloras (maracujá) nativos e a maioria deles sem nenhum estudo. E existe uma rede produtiva local do fruto do maracujá, onde somente o fruto do maracujá é utilizado e as folhas e o caule da planta são desperdiçados. É exatamente o que é desperdiçado que possui a substância calmante maracujina. A maioria das pessoas acha que o fruto do maracujá é calmante, mas o calmante são as folhas e o caule, mais especificamente as folhas. Então a gente está procurando ver se essas passifloras que ocorrem no semiárido podem substituir as passifloras normalmente utilizadas com funções fitoterápicas, e dessa forma agregar valor a produtos que as pessoas normalmente vendem nas beiras das estradas sem maiores conceitos.
Ciência e Cultura - Existem atividades de campo, para colher as amostras que serão analisadas?
Eudes da Silva Velozo - Sim, existem atividades de campo, uma equipe composta por biólogos e farmacêuticos vai a campo semestralmente coletar as plantas. Outras são obtidas em comunidades.
Ciência e Cultura - Em que fase o projeto se encontra? Já existe algum resultado?
Eudes da Silva Velozo - O estudo de Passifloras e Alpinia são objetos de dissertação de mestrado com defesas previstas para o segundo semestre de 2012 e primeiro semestre de 2013.Nesse trabalho não tem nada pronto ainda, mas estamos terminando uma dissertação de mestrado, que tem apresentado algumas respostas muito interessantes. A gente trabalha em um local com tradição de pesquisa ainda muito nova, muito recente na área, claro que trabalhamos buscando resultado, mas esse resultado vem depois da criação de uma infraestrutura, a criação de uma cultura de pesquisa, a formação de pessoas, então são aspectos tão ou mais importantes que os resultados. Nós não temos a pretensão de ter resultado imediato nisso, a gente quer na verdade é criar essa infraestrutura e desenvolver isso e talvez a próxima geração esteja mais a frente e possa dar continuidade.
Ciência e Cultura - A falta de investimentos para este tipo de pesquisa no estado atrasa os resultados?
Eudes da Silva Velozo - A falta de investimentos não pode ser responsabilizada pelas dificuldades. Eu acho que as questões culturais, de tempo, de infraestrutura é que são os grandes problemas. Infraestrutura e pesquisa são coisas que demandam tempo, não tempo para o resultado, mas tempo para que as coisas se consolidem se estabeleçam. Outros lugares da região sudeste, por exemplo, tem estudos de plantas que tem apoio da FAPESP, com infraestrutura e tempo muito maior e mesmo assim tem um resultado muito pequeno a titulo de comparação.
*Luana Velloso é estudante de Jornalismo da Facom/UFBA