Newsletter
Ciência e Cultura - Agência de notícias da Bahia
RSS Facebook Twitter Flickr
Atualizado em 18 DE agosto DE 2012 ás 15:21

Gisele Nussbaumer

Gisele Nussbaumer é professora da Faculdade de Comunicação e ministra disciplinas na Graduação em Produção Cultural e na Pós-Graduação em Cultura e Sociedade do Instituto de Artes e Humanidades – IAH da UFBA. Nesta entrevista, fala sobre a necessidade de maior investimento em pesquisa no campo da cultura e afirma que os editais lançados pela Secretaria de Cultura tem por objetivo possibilitar maior incentivo na área e se consolidam como uma prática salutar na política cultural do estado.

POR ANA LUISA HILTNER*
analuisa@hiltner.com

Ciência e Cultura – De que forma a pesquisa acadêmica tem contribuído com a prática cultural?

Gisele Nussbaumer – Ainda existe uma carência grande de pesquisas e bibliografia na área cultural, quadro que vem se revertendo com os cursos de pós-graduação que tem sido criados nos últimos anos. Tivemos avanços, mas ainda há carência, sobretudo no que se refere a metodologias e indicadores que possam vir a servir de referência para a área.

Ciência e Cultura – Qual o papel da academia na formação de profissionais da área da Cultura?

Gisele Nussbaumer - A academia tem um papel fundamental enquanto formadora de profissionais para a área da cultura, em particular no caso da Bahia, estado que possui uma universidade pública federal pioneira na criação de cursos de artes no Brasil. As escolas de dança, teatro e música da UFBA destacam-se no cenário nacional e contribuem efetivamente para que a imagem da Bahia seja tão associada à área cultural. O Estado destaca-se também por seus cursos de formação em organização cultural, como os cursos de graduação em Produção e Gestão Cultural, além do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade e do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. É necessário, no entanto, um maior entrosamento desses diversos cursos e iniciativas. É preciso que eles atuem de forma mais colaborativa, que a UFBA discuta e participe mais efetivamente dos debates sobre as políticas culturais na cidade e no estado, conheça e contribua para a formação em áreas de conhecimento e regiões carentes de profissionais capacitados.

Ciência e Cultura – Em sua experiência como Diretora da FUNCEB, como você enxerga a relação da Cultura na universidade e na sociedade?

Gisele Nussbaumer - Uma das maiores carências detectadas no campo da cultura é a ausência de pesquisas e, também, de iniciativas na esfera da formação de pessoal para a área, tanto no que se refere às linguagens artísticas como no que se refere à organização e gestão cultural. E isso acontece apesar de a cultura estar assumindo um papel cada vez mais central na sociedade contemporânea, inclusive pela sua dimensão transversal, que a faz ter interfaces e poder contribuir com os mais diversos campos sociais e áreas de conhecimento.A necessidade de investimentos em formação de pessoal tem sido uma reivindicação em todas as conferências e encontros de cultura realizados no país. A questão está sempre presente, representa uma das principais demandas da área. A falta de pessoal qualificado acontece em praticamente todos os campos, em especial na gestão e na elaboração e execução de políticas públicas da cultura.

Ciência e Cultura – As Leis de Incentivo à Cultura e a abertura de editais são eficazes no estimulo à cultura? Esse sistema é satisfatório?

Gisele Nussbaumer - As políticas e as ações da Secretaria de Cultura do Estado vêm sendo formuladas e executadas por meio de editais, projetos e outras formas de incentivo e valorização das atividades culturais e a partir de uma compreensão abrangente de cultura, tendo como eixo norteador a busca por uma maior diversidade e abrangência em sua atuação, o desenvolvimento da cultura no Estado em seus diversos aspectos, a descentralização, o diálogo e a transparência.

Os editais são a forma mais democrática e transparente de incentivo a cultura, possibilitando aos artistas e produtores apoio para a viabilização de projetos artístico-culturais. Na contramão do clientelismo, a política dos editais garante a democratização dos recursos públicos investidos em cultura, ao invés de privilegiar alguns em detrimento de outros. Possibilitam ainda uma ampliação e diversificação do investimento, para além daquelas áreas tradicionalmente incentivadas, a partir de um conceito mais abrangente de cultura, que extrapola as linguagens artísticas incluindo as culturas indígenas, LGBT, conteúdo digital, intercâmbios, residências, etc.

As leis de incentivo cultural no Brasil acabaram por inibir uma participação mais efetiva da iniciativa privada no investimento em cultura, em termo de recursos próprios. É preciso rever esse mecanismo, que a iniciativa privada continue investindo, mas de outra forma, a partir de outros critérios, em parceria e em alinhamento com as políticas culturais contemporâneas.

*Ana Luisa Hiltner é estudante de Comunicação com habilitação em Produção Cultural da Facom-UFBA.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *