As organizações se estruturam em torno de objetivos, missões e valores. Logo, estabelecem relações intra e inter-institucionais para garantir a conquista de interesses comuns àqueles que se associam em redes e se fortalecem para atingir seus fins também comuns. Para que isso aconteça, é preciso auxiliar a organização a encontrar formas e meios de potencializar ações de cooperação entre seus agentes de modo a solidificar as redes e conseguir maximizar resultados positivos. Essa é a proposta do grupo Redes Bahia de pesquisa da Escola de Administração da UFBA, quem tem como um de seus colaboradores o professor Horacio Nelson Hastenreiter Filho, ao qual entrevistamos. O projeto tem o financiamento da Petrobras, de onde também parte o objeto central de análise das redes identificadas nos Estudos Organizacionais de seus membros.
DEIVSON MENDES SANTOS*
dvsonmendes@gmail.com
Ciência e Cultura – O que é o projeto Redes Bahia e como ele se desenvolveu?
Horácio Nelson – Surgiu, inicialmente, através de uma pesquisa com ações de cooperação em organizações. Dentro da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (EAUFBA), o Redes Bahia está inserido no grupo de Estudos Organizacionais. À princípio, o grupo estudava ‘como uma organização poderia desenvolver e gerir práticas coletivas’. Desde então, mapeávamos as redes em seus centros de excelência, redes temáticas, redes de inovação, redes que envolvam cooperativas e cooperativados – enfim, diversos pontos que giram em torno da Rede e estão em volta da Petrobras, que é a financiadora do projeto. Depois, passamos a pesquisar sobre aprendizagem vivencial e, atualmente, nos debruçamos sobre responsabilidade social – nosso foco de análise. Minha agenda está atrelada à esse projeto, que também tem sido minha agenda de pesquisa, basicamente.
Ciência e Cultura – Qual a ideia de estudar redes partindo de um “centro-objeto Petrobras”?
Horácio Nelson – Primeiramente, identificávamos os Centros de Excelência. Há um grupo de estudos que atua em áreas de interesses da Petrobras. Então, identificávamos o conjunto de atores mais relevantes para o desenvolvimento de pesquisa naquela área em que a Petrobras iria explorar para si – que se abrangia e se caracterizava com maior força em universidades e centros de pesquisa. Em seguida, desenvolvíamos um processo metodológico para auxiliar essas entidades na sua formação e estruturação. Mas, infelizmente, esses centros da empresa caíram bastante. Então, migramos de temática. Mas, a área era a mesma: observar como se estrutura uma rede em seus diversos estágios de maturação; como motivar pessoas a participar de uma rede e manter esse vínculo; como criar e desenvolver mecanismo de perpetuar uma rede; de que forma elaborar uma padronização e regras de conduta de uma rede – que determina o que é ou não pode ser aceito em uma rede. Ou seja, nosso objeto de estudos está focado na aplicação do conjunto de procedimentos de e práticas de Planejamento, Desenvolvimento, Controle e Avaliação de ações de uma organização até que ela se constitua como uma rede.
Ciência e Cultura – Qual a relação dessas redes pesquisadas com o objeto de estudos do grupo, que é a responsabilidade social?
Horácio Nelson – Se os temas são de interesse da Petrobras, então o processo de colaboração e estruturação de redes é estudado nas linhas de atuação interorganizacional, ou seja, a Petrobras com outros atores. Tentamos identificar os aspectos de cultura organizacional dentro das organizações e avaliar as implicações disso com as relações institucionais para as quais se conferem a responsabilidade social de uma empresa.
Ciência e Cultura – Como o senhor consegue delimitar uma rede específica no processo de gestão?
Horácio Nelson – Cada rede tem o seu objetivo. O importante é conseguir, nesse processo de montar a rede, ajudar a estruturar um objetivo comum entre os agentes que a compõem. E é esse o papel de um pesquisador/facilitador, que é construir uma agenda que leve os agentes a um interesse comum de permanecer na rede. Sempre é uma questão de Trad Off para quem está numa zona de conforto de representação de seus interesses e que, portanto, às vezes não quer perder e se associa para defender os frutos de seus objetivos e metas. O meu objetivo como pesquisador também é colaborar para que as pessoas consigam enxergar aquilo que elas podem ganhar se estiver vinculada à uma rede e atribuir valor aquilo que elas estariam perdendo. Assim, numa rede, é possível desenvolver instrumentos para fazer com que as pessoas garantam seus ganhos a curto, médio e longo prazo, no sentido de mantê-las estimuladas. Então, não é um processo que se repete; depende das características de cada rede, dos tipos de conexões que se fazem dela e dos tipos de atores que se interagem nesse compartilhamento.
Ciência e Cultura – Como se organiza o Grupo Redes Bahia?
Horácio Nelson – É formado por seis pesquisadores, uma estagiária e uma auxiliar administrativa. Cada qual com seus perfis diferenciados, mas que se somam em torno dos objetivos comuns do grupo. Temos reuniões semanais e aquelas específicas que acontecem eventualmente quando estamos desenvolvendo um produto.
Ciência e Cultura – Quais as principais metodologias utilizadas para auxiliar agentes em seus processos de interação em Redes?
Horácio Nelson – É preciso conhecer a organização sistematicamente. Inicialmente, focamos na divisão do trabalho para que encontremos a cooperação. Se o trabalho está dividido, se tem interdependência entre as pessoas, entre os processos e entre as tecnologias. Então, o objetivo de se trabalhar por uma rede é alavancar a qualidade das interações cooperativas. Então, temos que entender as variáveis que interferem nos fenômenos de cooperação, tais como motivação, liderança, confiança, entre outras. Uma das propostas nossa é criar modelos que explique o processo cooperativo e desenvolver ferramentas que interfiram em cada uma das variáveis do modelo. Então, se melhoramos a confiança e a motivação das pessoas nas organizações, aumenta-se a cooperação. Tornando uma liderança mais efetiva, para que as pessoas tenham legitimidade no líder para depositar a responsabilidade de orientar o processo de cooperação, é mais eficaz a obtenção e cumprimento de objetivos comuns.
Ciência e Cultura – Professor, o projeto Redes Bahia já realizou um mapeamento de redes na Universidade Federal da Bahia para identificar e trabalhar nos arranjos de colaboração? Como isso pode acontecer?
Horácio Nelson – Não. Eu sempre tenho falado: universidade é o lugar que mais se fala em cooperação, principalmente aqui na Escola de Administração. Porém, nas universidades brasileiras, como um todo, a cooperação efetiva é algo que precisa ser muito bem trabalhado. As coisas e os setores são muito estanques, muito autônomos, trocam muito pouco entre si e as complementariedadades não são muito aproveitadas.
Ciência e Cultura – Quais as sugestões que o senhor dá para que haja uma maior colaboração e otimização de resultados da UFBA a partir de possíveis interações de suas unidades?
Horácio Nelson – Aqui na universidade, da forma como os gestores são cobrados e analisando aquilo que eles têm que apresentar como resultados, o que efetivamente pode ser cobrado dos gestores, o que vai até ser resultados positivos para eles, pensando na lógica do tomador de decisões, levando-os a trabalhar em redes, é uma visão objetiva que cada um estabelece para si. Em empresas, essa visão objetiva leva em conta a relação de lucros e resultados de modo muito delineado. Na universidade, essas funções objetivas são ainda meio fluidas, não muito claras – tem decisores que tomam suas decisões baseados naquilo que podem trazer conhecimento aos alunos para melhorar a formação para prover a sociedade e outros gestores que tem outras aspirações. Então, não conseguimos uma uniformidade de interesses claros, segundo critérios individuais de cada um. Há zonas de conforto, onde professores se disfarçam apenas de pesquisadores e que, até para justiçar esse ofício, suas responsabilidades são delegadas a órgãos distantes da realidade específica dessa universidade, dessa cidade e dessa região.
*Deivson Mendes Santos é estudante de graduação em Comunicação Social – jornalismo, da Faculdade de Comunicação da UFBA.