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Atualizado em 7 DE maio DE 2016 ás 21:10

Karine Brito Beck da Silva

A obesidade é uma doença que costuma estar interligada a diversas outras doenças. Mas estar acima do peso não é sinônimo de estar doente: é possível ser um gordinho saudável. Do mesmo modo, ser fitness pode não ser considerado saudável. A nutricionista Karine Beck, professora substituta da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (ENUFBA), que realiza pesquisas na área de saúde e nutrição escolar, falou com a repórter Beatriz Bulhões, da Agência de Notícias Ciência e Cultura, e traçou um panorama da obesidade nos dias atuais

BEATRIZ BULHÕES*
biabulhoes_@hotmail.com

Ciência e Cultura: Quando a obesidade é considerada um problema?

Karine Beck: A obesidade, atualmente, é considerada um problema de saúde pública. Ela é um fator de risco para diversas outras doenças, as chamadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como a hipertensão, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. As doenças crônicas podem se desenvolver ao longo da vida, e não transmissíveis, já que não são transmitidas de uma pessoa pra outra.

Ciência e Cultura: Porque a obesidade é um fator de risco para tantas doenças?

Karine Beck: O tecido adiposo produz citocinas inflamatórias, que são pequenas células com a função de inflamar o corpo. Essas citocinas inflamatórias, ao serem transmitidas através da corrente sanguínea, podem migrar para o coração, fígado, rim, ou seja, podem ocasionar prejuízos em todas as partes do corpo. É por isso que a obesidade por si só já é considerada um fator de risco para várias doenças e considerada um problema de saúde pública.

Ciência e Cultura: Esses riscos têm relação com o estilo de vida atual?

Karine Beck: Sim, temos uma alimentação baseada em fast foods por conta do capitalismo, que trouxe essa necessidade de comer rápido, e também pela grande oferta de mercado alimentício. É complicado trabalhar nesse meio onde a indústria de alimento é muito forte e tem um poder muito grande. Os nutricionistas tem galgado um espaço muito importante também, por exemplo, nos fast foods, os brinquedos destinados ao público infantil vinham condicionados a venda do alimento. Essa venda condicionada foi proibida, agora os brinquedos podem ser comprados separados, isso pra mim já é um avanço. Além disso, tem também a fruta de sobremesa. Não é o ideal, a bebida ainda é um suco industrializado que não se sabe a procedência e é rico em açúcar, mas de qualquer modo, é um avanço. Mostramos que a obesidade infantil é um problema muito importante. Inclusive, segundo a pesquisa nacional de saúde do escolar realizada em 2010 pelo IBGE, 80% dos jovens obesos serão adultos obesos.

Ciência e Cultura: Como seria possível reverter esse dado? Com ajuda da família, da escola, da mídia?

Karine Beck: Na verdade, acho que precisamos unir forças para que isso possa se reverter. Políticas públicas nacionais também devem estar envolvidas. Mas eu vejo também que nós, nutricionistas, temos feito muitas campanhas. O Conselho Federal de Nutrição, por exemplo, adotou uma campanha interessante de alimentação saudável, o pacto do bem – a corrente da alimentação prática, adequada e saudável. Vejo que a mídia, a televisão e as revistas têm trazido também um apelo a uma alimentação mais saudável, mas não da forma adequada, com dietas mirabolantes sem propriedades científicas. Demos alguns passos, mas ainda existem algumas inadequações na alimentação adequada e saudável.

Ciência e Cultura: Ultimamente temos visto nas propagandas novos padrões de modelo, especialmente as modelos plus size. Há quem argumente que isso é bom, pois aumenta a autoestima de pessoas acima do peso, enquanto outros dizem que é um padrão que não deve ser seguido devido às doenças que acarreta. Qual a sua opinião sobre esse padrões?

Karine Beck: A gente acaba associando a pessoa com excesso de peso a uma pessoa doente e não necessariamente isso acontece. Tem pessoas que se alimentam de forma adequada, praticam atividades físicas e acabam tendo essa constituição corporal de excesso de peso. De certo modo, eu acredito que há um lado bom nessas propagandas que não trazem aquele padrão de magreza extrema, das passarelas e revistas, que também não é saudável. A gente fica nos contrapontos, mas nem a magreza extrema nem o excesso de peso, de uma obesidade grau 3, são interessantes. O que eu acho interessante seria trabalhar o caminho do meio.

Ciência e Cultura: Outro movimento que se vê nas mídias são as blogueiras fitness, que mostram seu estilo de vida saudável. O que você considera positivo e negativo nessa tendência?

Karine Beck: Eu considero positivo o incentivo a busca por uma alimentação mais equilibrada, mais saudável. Mas elas beiram o radicalismo, pois para ter saúde eu não preciso comer apenas frango e batata doce. Precisamos ter uma alimentação variada, com carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e minerais. Ser saudável, na minha opinião, é você comer de tudo sem restrições, mas cuidando da qualidade e da quantidade desses alimentos consumidos. Sem exageros, nem restrições, nem radicalismo. O radicalismo foge totalmente do padrão saudável.

Ciência e Cultura: Esse movimento fit, que está na moda, conseguiu diminuir os índices de obesidade?

Karine Beck: Eu percebo que há uma maior veiculação de artigos sobre saúde e alimentação, mas me preocupa a ligação de pessoas que não são da área de saúde a esses movimentos. Nesses caos você não tem assegurada a qualidade da informação que é transmitida. Acho que esse movimento é valido, porém é interessante reduzir isso aos profissionais de saúde, mais especificamente aos nutricionistas. Você vê profissionais de educação física e personal trainers, por exemplo, que indicam estratégias fitness sem ter o devido conhecimento. Tem pessoas que usam produtos porque algum colega está usando, sem saber se é bom para o seu corpo ou quais benefícios e malefícios isso lhe trará.

*Graduanda do curso de jornalismo da Faculdade de Comunicação e estagiária da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura Ufba

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