Lílian Mota é mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal da Bahia, e integrou o grupo de pesquisa em Análise de Telejornalismo, coordenado pela Profª. Drª. Itania Gomes. Na pesquisa que teve como fruto a sua dissertação de mestrado, ela abordou o tema da convergência e da interatividade entre os produtores e consumidores de dois programas de TV da Rede Globo: o Fantástico (TV Globo) e o Urbano (Multishow).
RENATO OSELAME*
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Ciência e Cultura - Para o seu trabalho, é muito caro o conceito de convergência midiática, desenvolvido pelo autor norte-americano Henry Jenkins. Como este conceito é apropriado na sua pesquisa, o que ele significa?
Lílian Mota – Creio que a digitalização foi um marco no jornalismo, ao permitir que um mesmo produto circule em várias mídias. Texto alfanumérico, gráficos, imagens e sons são transformados em bytes e fluem por várias plataformas, sendo facilmente reconfigurados em diferentes contextos. Ou seja, a digitalização dos meios permitiu o armazenamento, a manipulação e a veiculação da informação em um único sistema integrado. Dessa forma, jornal, rádio, TV e internet convergem. Além disso, a digitalização leva a portabilidade, mobilidade e interatividade. Os consumidores de informação passam a ser também produtores de informação. Como afirma Jenkins, “ a convergência altera a lógica pela qual a indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento. Ela também opera dentro de cérebro do consumidor ”. Com a ajuda da orientadora Itania Gomes, procurei observar como este fenômeno se comporta na TV brasileira.
Ciência e Cultura - Como é possível perceber esse fenômeno em produtos telejornalísticos? O que levou você a selecionar edições do Urbano para analisar na sua dissertação?
Lílian Mota – A internet ampliou o alcance do telejornalismo, desde que cada produto passou a ter um site na internet com conteúdo ampliado e espaço para o telespectador não apenas se manifestar, mas também enviar textos, fotos, vídeos. Selecionei o Urbano por ter sido o programa pioneiro na TV brasileira no formato transmídia , e o Fantástico por ser considerado o balão de ensaio da Rede Globo em experimentações com novas linguagens, tecnologias e formatos.
Ciência e Cultura - Você estabelece uma diferença entre a participação dentro do conteúdo do programa e nas redes sociais em seu trabalho.
Lílian Mota – Sim, pois dentro do conteúdo do programa há o filtro dos editores, enquanto que nas redes sociais a intervenção do telespectador é mais livre e espontânea.
Ciência e Cultura - Em qual dos programas há maior participação do público e porque isso se dá? Isso tem relação com o modo de endereçamento deles? Como?
Lílian Mota – Em ambos os programas, guardadas as devidas proporções, é grande a participação do público, mas em Urbano o público pauta o programa, ao contrário do Fantástico, onde a participação do telespectador funciona mais como uma estratégia de audiência. Isso tem a ver com o modo de endereçamento dos programas, uma vez que o Urbano tem um público mais homogêneo, antenado e crítico.
Ciência e Cultura - A partir de sua análise, você acredita que os programas se propõem, de fato, a interagir com o telespectador?
Lílian Mota - O Urbano conseguiu uma real interação, dentro da comunidade de telespectadores a que era endereçado. Já o Fantástico até hoje tenta, mas a meu ver a interação é “fake” (“falso”, no inglês), embora o programa utilize recursos técnicos sofisticados.
Ciência e Cultura – Como a interatividade pode contribuir, num contexto de democratização da Comunicação, para a cidadania?
Lílian Mota - Acredito que quanto mais o telespectador tiver canais acessíveis para participar dos programas, mais a comunicação brasileira tende a se democratizar, embora não seja esta a única questão quando se fala em democratização dos meios. Há outros fatores em jogo, como a exclusão social e digital, o baixo nível educacional da população e o jogo político. Porém, à medida que novos olhares se afirmam através das redes sociais e outros mecanismos de participação, as grandes empresas são obrigadas a modificar suas abordagens e se aproximar de um jornalismo voltado para a cidadania.
*Renato Oselame é estudante de Jornalismo da Facom-UFBA.