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Atualizado em 8 DE maio DE 2011 ás 03:48

Linda Rubim

Após três décadas da morte do cineasta baiano Glauber Rocha, a professora da Faculdade de Comunicação da Ufba - Facom, Linda Rubim, acredita que ele ainda influencia a forma de fazer cinema. Ela dedicou sua pesquisa de doutorado à representação do feminino nas obras do cineasta e desde então preocupa-se com a questão do gênero no campo midiático

Por Vitor Andrade*
vitorjornalismoufba@gmail.com

Ciência e Cultura – Depois de trinta anos de sua morte, a senhora acredita que Glauber ainda influencie a forma de fazer cinema?

Linda Rubim - Eu acredito que sim. Glauber, como integrante do Cinema Novo, se tornou referência do bom cinema, do cinema consequente. Ele deve continuar influenciando a forma de fazer filmes, acho que se deve buscar novas formas de fazer cinema. Acho que Glauber está presente nas obras como personalidade histórica, que conseguiu fazer com que o cinema brasileiro pensasse o Brasil, que buscasse temas que são caros à sociedade do país.

Ciência e Cultura - A senhora focou seu estudo na figura feminina nas obras de Glauber. Fale um pouco sobre isso.

Linda Rubim – Assim que comecei a ver o Cinema Novo, o cinema brasileiro, passei a me interessar pela representação das mulheres. Tinha interesse de entender, até porque eu sou mulher e naquela época estava construindo minha identidade; qual era o trânsito das mulheres nas mídias, qual era o papel da mulher no campo da comunicação, que era um campo que estava se desenvolvendo cada vez mais na conformação do mundo. Lembro de uma feminista muito conhecida no país que, quando eu disse que iria estudar a representação da mulher nas obras de Glauber Rocha, ela me disse que não existia mulher no filme de Glauber. Eu já via nos filmes algumas janelas que me diziam que aquelas mulheres estavam passando por um momento de transformações. A partir da análise que fiz das personagens percebi que elas tinham um além, fugiam do estereótipo de santa ou de puta. Glauber, como homem de vanguarda, que tinha informação que as mulheres estavam mudando, tinha um discurso racional sobre elas.

Cena do filme: "O dragão da maldade contra o santo guerreiro", de Glauber Rocha

Ciência e Cultura - Por que estudar Glauber Rocha no seu doutorado?

Linda Rubim – Estudar Glauber Rocha é estudar o cinema brasileiro, apesar de hoje não ser tão lembrado. A minha relação coma a vida acadêmica começou trabalhando cinema brasileiro. Ficava encantada com o cinema europeu, mas queria saber quais eram as possibilidades do cinema no Brasil. Cheguei em Glauber porque era o nome mais conhecido e foi com quem o cinema brasileiro ganhou notoriedade fora do Brasil. Queria saber como uma pessoa que nasceu e teve uma formação na Bahia, se tornou muito importante para a construção da história do cinema no estado. Também escolhi Glauber como objeto de estudo para entender os afluxos e refluxos do cinema brasileiro.

Ciência e Cultura - Glauber dizia que fazer cinema era fazer política. O que tinha de política nas obras do cineasta baiano?

Linda Rubim – Tudo. O filme Terra em Transe é uma bela mostra da História do Brasil. Ele mostrou o desencanto dos intelectuais contra as políticas vigentes. Eles acreditavam que o imperialismo americano era o inimigo. Depois viram que o capitalismo, as desigualdades, podiam existir tanto fora quanto dentro do Brasil.

Ciência e Cultura – A senhora acredita que Glauber fazia revolução para uma população que não estava preparada para a revolução?

Linda Rubim – Fala-se muito que o Cinema Novo foi um projeto de filme que não falava para o povo, que eram filmes feitos pra a classe média. Eu acho que o Cinema Novo não chegou a ser exibido para a população.

Ciência e Cultura – Quais pesquisas a senhora está orientando no momento?

Linda Rubim – Pesquisas que realizam a interlocução entre mídia, cultura e gênero. Desde a cobertura do dia internacional da mulher nos jornais A Tarde e Folha de São Paulo; o empoderamento da mulher do campo e a agricultura familiar, a representação da mulher idosa no cinema; a representação da mulher no desenho animado, na telenovela; mulher e grafite dentre outras.

Ciência e Cultura - Qual sua visão de cinema hoje?

Linda Rubim – Eu acho que é uma mídia e expressão artística ainda muito consequente e criativa. Além disto é uma linguagem que tem se desenvolvido de forma muito significativa em países tidos como periféricos a exemplo de diversos países da América Latina, Ásia e África.

Ciência e Cultura - O que o novo curso de cinema pode contribuir com o fortalecimento dos grupos de pesquisas nessa área na Ufba?

Linda Rubim – Acho uma excelente oportunidade para criar na Bahia, particularmente na Ufba, um centro de reflexão nesse campo do conhecimento. Leve-se em conta que há muitas gerações existe uma demanda por um curso de cinema na universidade e agora isso acontece.

Ciência e Cultura - Glauber Rocha aparece nos trabalhos do seu grupo de pesquisa do ponto de vista teórico?

Linda Rubim – Sim, aparece nas questões referentes às realidades em desenvolvimento de cinema, novas linguagens.

Linda Rubim é professora do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Faculdade de Comunicação da UFBA. Pesquisadora da área de Cinema atuando com Mídia, Cultura e Gênero. Ela, que focou seu doutorado na representação do feminino nas obras do cineasta baiano Glauber Rocha, dedica também seu estudo ao cinema brasileiro, em especial no cinema baiano.

*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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