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Atualizado em 20 DE dezembro DE 2016 ás 11:00

Regina Gomes

Cinéfila de carteirinha, a professora Regina Gomes da Faculdade de Comunicação da UFBA é uma estudiosa dos Estudos de Crítica (Cinema e TV) e Recepção. Segundo a pesquisadora, os estudos sobre cinema estão sendo realizados em diversas instituições e com uma produção de qualidade no nordeste do país

POR RAFAELA SOUZA*
rafaelasouzaper@gmail.com

Ciência e Cultura: Como funciona o GRIM dentro do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporânea da FACOM-UFBA?

Regina Gomes: Vinculado à Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (PPGCCC/UFBA), o grupo parte de uma vertente-chave de reflexão de problemas relativos à estética, à recepção e à crítica da imagem, subdividindo-se em três categorias principais de pesquisa: 1) Estudos de crítica enquanto discurso avaliativo de produtos artísticos e midiáticos, 2) Estudos de recepção no cinema e no audiovisual e 3) Estudos sobre a recepção da imagem fotográfica. O grupo de Recepção e Crítica da Imagem é um grupo cadastrado no CNPq há cinco anos que reúne alunos de mestrado e doutorado. Nesse semestre temos oito/dez integrantes, o que é um número pequeno, pois muita gente se formou e tem aquela dinâmica de circulação, uns entram e outros saem. Para entrar no grupo não tem edital, basta o contato com o próprio professor. Um edital só seria necessário se a demanda de vagas solicitadas fosse muito grande. Quanto a produção, desenvolvemos bastante conteúdo para o site do GRIM. Lá disponibilizamos dissertações e as resenhas de produtos (séries, filmes) feitas pelos integrantes do grupo.

Ciência e Cultura: Como surgiu seu interesse pela pesquisa em Cinema?

Regina Gomes: Nos anos 90 eu fiz mestrado aqui na UFBA. Tinha acabado a graduação e resolvi fazer mestrado, inclusive na época que o projeto do PósCom estava começando. Fui da terceira ou quarta turma, naquele momento eu tinha interesse por cinema. Sempre fui cinéfila e sentia que eu iria trabalhar com isso. No mestrado, trabalhei com dois filmes Naked Lunch e Gêmeos Mórbida Semelhança, do cineasta canadense David Cronenberg. Era apaixonada pelo diretor e tinha uma relação muito mais próxima com o cinema autoral do que com o cinema mais particularizado. Eu fiz mestrado aqui na UFBA e me interessei pela análise fílmica e depois fui para Portugal, onde fiquei por quatro anos fazendo doutorado. A partir disso me interessei pelo cinema brasileiro, estudei o cinema brasileiro exibido em Portugal da década de 60 até a década de 90. Foi quando resolvi realizar uma análise das críticas e um trabalho de contextualização com que os portugueses divulgavam do cinema brasileiro. Retornei ao Brasil, era professora da Universidade Católica do Salvador (UCSAL) e lá fundei um grupo de análise de crítica em cinema. Então, a minha ligação com o cinema já vem de muito tempo.

“Os cortes não são bons para ciência, para a universidade e para ninguém. Não entendo essa lógica. É uma política de desmonte da educação.”

Ciência e Cultura: E como estão as pesquisas de Cinema no Brasil?

Regina Gomes: A pesquisa de cinema no Brasil tem crescido muito, desde os anos 90 para cá. Podemos dizer que antes disso poucas universidades brasileiras ofereciam linhas de pesquisa na área de cinema ou audiovisual nos seus programas de pós-graduação. Só tinha a ECA-USP e a UnB. Então, a partir dos anos 90 houve um crescimento, principalmente na região nordeste. Aqui no Nordeste temos a UFBA que tem uma linha de pesquisa chamada Análise de Produtos e Linguagens do Audiovisual, que não só inclui cinema, mas outros produtos como séries e televisão com o enfoque na análise. Teve uma espécie de espalhamento, um aumento no número de programas que abarcam a pesquisa de cinema. Hoje o aluno que se interessa por cinema não teria dificuldade em escolher projetos nacionais para estudar e fazer pesquisa. No entanto, é uma pesquisa muito fragmentada dentro do campo. O GRIM, por exemplo, tem componentes que trabalham especificamente com cinema brasileiro, o que eu gosto muito também. Outros já se interessam mais por cinema internacional. Dentro do campo você tem uma diversidade de pesquisas, tanto no cinema nacional quanto no internacional.

Ciência e Cultura: Qual a importância de estimular a pesquisa dentro da academia?

Regina Gomes: A pesquisa na universidade é extremamente importante. A universidade não é só ensino, ela se funda naquele triângulo de Ensino, Pesquisa e Extensão. Sem pesquisa nem a universidade e nem o país anda. Na área de humanas é muito difícil se trabalhar com pesquisa, porque geralmente as pesquisas não tem um resultado tão efetivo, tão operacionalizado como o caso das ciências exatas. Não estou aqui fazendo comparações, mas são tipos de pesquisas diferentes. É um tipo de pesquisa que você percebe o retorno ao longo do tempo. É uma produção de conhecimento fundamental para o campo das ideias. Não digo só do campo humanístico da universidade, mas de uma maneira geral, serve para a integralização do ser humano. Você não vive só de pesquisa prática, você se alimenta também de outras formas de saber.

Ciência e Cultura: Quais são os reflexos dos recentes cortes feitos pelo CAPES e CNPq na pesquisa?

Regina Gomes: No GRIM, particularmente, ainda não interferiu em nada. Os alunos de mestrado e doutorado da Pós em Comunicação e Cultura já tem uma quantidade de bolsas. Embora, a universidade determinasse um corte de bolsas na pós, todos os alunos são bolsistas. No caso da iniciação científica, teve um problema no semestre passado em que o próprio reitor anunciou os cortes que seriam feitos pelo governo e, eles de última hora teriam que pagar os bolsistas que foram selecionados. Isso não afetou particularmente o meu grupo, pelo menos por enquanto. No futuro, certamente vai afetar. É um péssimo reflexo para a pesquisa. Acho que as pesquisas que estão em andamento são interrompidas, pois os alunos participam do grupo, mas tem algumas funções da iniciação científica. Não tem pesquisa que funcione sem bolsa no mundo. As consequências são as piores possíveis. Ainda mais na área de ciências humanas, o que já é uma área secundarizada em relação as outras. Os cortes não são bons para ciência, para a universidade e para ninguém. Não entendo essa lógica. É uma política de desmonte da educação.

*Estudante do curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA.

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