Acontecerá no dia 25 de julho, durante o CBH 2013, o simpósio Biogeografia de serpentes neotropicais: integrando evolução e conservação. Coordenado pelo pesquisador Ricardo Jannini Sawaya, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o encontro trará resultados de análises relativas aos padrões de distribuição de grupos de serpentes da região neotropical. O simpósio contará ainda com as participações dos pesquisadores Thaís Guedes, do Instituto Butantan, que falará sobre Biogeografia Histórica e evolução das biotas Neotropicais, e Cristiano Nogueira, do museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, que discorrerá sobre a Diversidade Filogenética e Biogeografia da Conservação. A seguir Ricardo Sawaya, em entrevista, fornece informações sobre o tema do simpósio.
* EMILE CONCEIÇÃO
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Agência Ciência e Cultura – Qual a importância do estudo sobre a biodiversidade de serpentes neotropicais para a sociedade?
Ricardo Sawaya - Para que possamos proteger e conservar de forma adequada a biodiversidade precisamos, em primeiro lugar, ser capazes de reconhecer cada espécie e compreender a sua distribuição geográfica. Além das serpentes serem importantes nos diversos ecossistemas, elas produzem vários tipos de toxinas e outros compostos que compõe o seu veneno. Várias dessas toxinas já são utilizadas em medicamentos importantes para o ser humano e muitas outras são objetos de pesquisas por serem potencialmente úteis. Assim, conservar e compreender a biodiversidade de serpentes, além de ser importante para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, pode trazer benefícios diretos e imediatos para a sociedade.
Agência Ciência e Cultura – Existem muitos pesquisadores na área de serpentes neotropicais?
Ricardo Sawaya - Felizmente, hoje em dia são tantos, que é até difícilenumerá-los rapidamente. A cada ano cresce o número de herpetólogos e especialistas em serpentes da Região Neotropical, o que é uma ótima notícia.
Agência Ciência e Cultura– Quais os objetivos dos estudos sobre a biodiversidade de serpentes neotropicais?
Ricardo Sawaya - Os objetivos mais básicos incluem a descrição da diversidade e a compreensão das relações de parentesco das serpentes. Embora seja estimado que mais de 80% dos vertebrados já seja conhecido, ainda há muitas espécies de serpentes desconhecidas na Região Neotropical. Vários gêneros ou mesmo grupos mais inclusivos ainda estão insatisfatoriamente descritos e devem ser revisados. Outro objetivo importante é a caracterização criteriosa da distribuição geográfica das espécies, que é a base da biogeografia descritiva. Somente a partir disso é possível desenvolver estudos de biogeografia analítica, que permitem o reconhecimento de padrões e processos envolvidos na distribuição e evolução da biodiversidade.
Agência Ciência e Cultura– De forma geral, o que será tratado no simpósio Biogeografia de serpentes neotropicais: integrando evolução e conservação do CBH 2013?
Ricardo Sawaya - Apresentaremos os primeiros resultados de análises relativas aos padrões de distribuição de alguns grupos de serpentes que ocorrem na região neotropical. Estou iniciando um estudo de biogeografia baseada em eventos, que explora o efeito dos eventos de dispersão, vicariância e extinção nos padrões atuais de distribuição de espécies a partir da reconstrução da distribuição geográfica ancestral. A Dra. Thais Guedes apresentará os primeiros resultados de um estudo que realiza de biogeografia baseada em padrões, no qual analisa o relacionamento entre áreas biogeográficas a partir de hipóteses filogenéticas. E por fim, o Dr. Cristiano Nogueira apresentará um estudo recente de biogeografia da conservação, no qual explora a distribuição não apenas de espécies, mas também da diversidade filogenética de um clado neotropical de serpentes. Acreditamos que a integração da biogeografia de eventos e de padrões com estudos sobre distribuição da diversidade filogenética corresponde à melhor abordagem para conservar a biodiversidade de forma adequada.
Agência Ciência e Cultura– Qual é o público-alvo do simpósio?
Ricardo Sawaya - O simpósio é dirigido a estudantes de graduação e pós-graduação, profissionais e demais interessados em biodiversidade, serpentes, biogeografia e/ou conservação.
Agência Ciência e Cultura – Atualmente, quais são as maiores contribuições atribuídas às pesquisas na área de biodiversidade de serpentes neotropicais?
Ricardo Sawaya - As contribuições atuais da pesquisa sobre biodiversidade de serpentes neotropicais mais imediatas correspondem às avaliações do status de conservação de serpentes brasileiras, às quais temos colaborado diretamente. Mas, considerando que esses trabalhos enfocam as serpentes, o potencial de tais estudos pode ser ainda bastante relevante para áreas tão diversas quanto a epidemiologia e a biotecnologia. Além disso, tais estudos podem contribuir de forma importante para a compreensão da origem e evolução da grande biodiversidade encontrada na região neotropical.
* Estudante de jornalismo da Faculdade de Comunicação da UFBA, estagiária da Agência de Notícias Ciência e Cultura e colaboradora do Congresso Brasileiro de Herpetologia 2013.