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Atualizado em 16 DE agosto DE 2011 ás 14:51

Yvonilde Medeiros

Nesta entrevista, a doutora em Hidrologia pela Universidade de Newcastle e líder do Grupo de Recursos Hídricos (GRH), fala como surgiu o Grupo e da sua relação com o Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Ações Integrados no Semiárido (Nieais). A também docente da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba), na área de Engenharia Ambiental, ainda apresenta pesquisas desenvolvidas pelo grupo

Por Marina Teixeira*
marina90st@hotmail.com

Ciência e Cultura - Você é formada em Engenharia Civil. Qual foi o motivo que a fez focar seus estudos na questão hídrica?

Yvonilde Medeiros – Quando eu fiz o curso de engenharia, estagiei em uma empresa de consultoria, que trabalhava com projetos de saneamento, abastecimento de água, tratamento de esgoto. E nesse estágio, um dos trabalhos que eu comecei a ajudar era de um engenheiro hidrólogo, que fazia alguns estudos na área durante a implantação de indústrias na bacia do Rio Inhambupe. Fui solicitada a fazer alguns cálculos estatísticos e verificar a vazão daquela região.

Achei muito interessante, mexer com água, com clima, me encantei com a disciplina e decidi que queria trabalhar com hidrologia a partir dali. Algum tempo depois, fiz mestrado em Recursos Hídricos em São Carlos e quando voltei já trabalhava nessa área, com projetos, com barragens.

Passei a me envolver em trabalhos com comunidades; saber como os recursos hídricos influenciavam na vida das pessoas, pois o planejamento vai muito nessa linha – não apenas das coisas físicas, materiais, mas também trabalhar com as questões sociais, porque a água representa a vida das pessoas, a forma delas se desenvolverem, crescerem; também o impacto que a falta dela pode implicar nas suas vidas.

Depois fui trabalhar na Bacia do Salitre, participei da construção da Lei de Recursos Hídricos, nos anos 80. Logo veio a questão do São Francisco, me envolvi também, fui membro do comitê do São Francisco, entrei nas lutas contra a transposição; voltei à universidade e agora entrei de novo no trabalho sobre a Bacia do Salitre.

Ciência e Cultura – Como surgiu o Grupo de Recursos Hídricos?

Yvonilde Medeiros – O grupo veio do envolvimento multidisciplinar com recursos hídricos. A ideia não era só trabalhar com as disciplinas que englobavam engenharia, mas eu precisava ter sociólogos, biólogos, num grupo tratando da temática água – não apenas com a questão quantitativa da água, mas também com aspectos sociais e ambientais. Então, houve a necessidade de um grupo, para ter outras informações, outros conhecimentos; e não só com especialistas, professores, pesquisadores, mas a possibilidade de interação com a sociedade. No grupo, tem pessoas da biologia, administração, áreas sociais e química, além de engenharia.

Ciência e Cultura - Em que momento o seu grupo e o Nieais começaram a trabalhar juntos?

Yvonilde Medeiros – A ideia do Nieais é ter um lócus de discussão na Bahia dentro da Ufba sobre o semiárido. Nos vários congressos e seminários em que participei, sempre que se falava em semiárido, se falava da Paraíba, Ceará, Pernambuco. A Bahia nunca aparecia como um centro onde se desenvolvia pesquisas. No máximo Feira de Santana era citada, mas na Ufba, temos muitos pesquisadores em semiárido que estão muito dispersos. Quando perguntamos quem está trabalhando com esse assunto na Ufba, ficamos sem resposta para dar. Então, começamos a conversar: Aurélio (Gonçalves de Lacerda, o coordenador atual do Núcleo), outros professores, e pensamos em formar um grupo de pesquisa sobre o semiárido. Aurélio ficou à frente, e fomos reunindo pessoas de várias áreas: humanas, biologia, veterinária; o professor Ricardo Albinati participou muito dessas discussões, e assim fomos nos consolidando.

Hoje temos o Núcleo, que é uma referência dentro da Universidade, ainda que incipiente, e o seminário ocorrido em junho teve esse objetivo; para que no próximo, que parece ser em setembro ou outubro deste ano, a gente possa trazer pesquisadores do estado ou de fora da Bahia para achar um entendimento maior: ver as nossas afinidades, como a gente pode se ajudar, cooperar juntos, e termos na Ufba um lócus para se pensar o assunto, porque em 70% da Bahia tem semiárido.

Ciência e Cultura – No GRH, vocês produziram três projetos que aparecem encerrados em seu site: rede uso eficiente, ecovazão e reuso. Nesse momento, tem outro projeto em andamento?

Yvonilde Medeiros – Sim. Tem a continuidade do reuso – a gente continua com alunos de mestrado fazendo pesquisas no campo experimental perto de Valente – na verdade no município de São Domingos, acima de Feira de Santana. Na pesquisa de ecovazão, acabou uma fase, mas já iniciamos outra no Rio São Francisco. Em vazão ecológica estamos começando uma pesquisa na bacia do rio Paraguaçu, na jusante próxima a Cachoeira.  Estamos participando da construção do plano da bacia do Salitre, que envolve os municípios de Morro do Chapéu, Juazeiro; esse é o projeto que está tomando mais o nosso tempo, estamos fazendo junto com a iniciativa privada, que foi contratada pelo órgão gestor, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema).

O plano da bacia visa racionamento e preservação de uso de água; além do projeto de reuso em colaboração com outras universidades, e uma cooperação com outros institutos de pesquisa nos EUA, Portugal, Cabo Verde, Ufba, Ufal, as duas de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Esse projeto tem mais de cinco anos. Antes, englobava universidades do Nordeste, agora ampliou para outros lugares do Brasil. Nós temos mais um projeto envolvendo universidades como a USP, a São Carlos e Santa Maria, sobre vazão ambiental, retomando o projeto de ecovazão, que anteriormente englobava a Bacia do Rio São Francisco.

Ciência e Cultura - No projeto de ecovazão, por exemplo, vocês buscavam articular respostas sobre definir o regime de vazão que poderia atender às demandas tanto ambientais quanto sociais no Rio São Francisco. Quais foram os resultados?

Yvonilde Medeiros - Chegamos a uma definição preliminar sobre as necessidades hídricas do ecossistema. Esse ecossistema aquático possui uma quantidade de água demandada, que tem de levar em consideração as demandas econômicas, de abastecimento; mas o objetivo do projeto é dar respostas à questão do ecossistema. Dentre todas as necessidades, quais são as do ecossistema? Chegamos a uma resposta e como isso aconteceria – a questão da sazonalidade, que é a variabilidade dessa quantidade de água ao longo dos meses. Essa resposta precisa ser discutida com outros usuários: com os que geram energia, além daqueles que são do setor agrícola. Precisa definir quanto cada um será impactado com a quantidade que será destinada para o ecossistema e qual é a implicação disso para os outros usos – essa é a continuação do projeto que estamos desenvolvendo agora: o impacto da vazão ambiental para os outros usos da Bacia do Rio São Francisco.

Ciência e Cultura – Como acontece o saneamento ecológico?

Yvonilde Medeiros - Saneamento ecológico é falar de saneamento que não impacte o meio ambiente.  Produzimos o resíduo e ele é aproveitado, não produzindo lixos aqui ou ali. Ocorre um reaproveitamento de acordo com que a natureza deixa em constante ciclo. Uma das pesquisadoras do grupo, Marta Schaer, liderava um grupo sobre este assunto, buscando fazer pesquisa nessa área para apresentar o saneamento ecológico como uma solução, principalmente no semiárido. O grande problema é que os rios onde são lançados os esgotos, muitas vezes tratados, outras não, têm que ter capacidade de depuração ou diluição desses resíduos. Mas, como diversos rios do semiárido têm pouca vazão, quando se lançam esgotos, mesmo que tratados, não têm possibilidade nenhuma de depurar ou assimilar esse esgoto; assim, é necessário uma solução particular para o semiárido.

Ciência e Cultura – Qual é a diferença desse saneamento para o tradicional?

Yvonilde Medeiros - O que ocorre nas cidades que tem resíduo. O ecológico não gera resíduos que venham a comprometer a qualidade de água dos rios, e ainda é aproveitado, como o reaproveitado nas plantas, por exemplo.

*Estudande de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba – Facom

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