Pesquisadores debatem como a ciência e tecnologia propiciam a inclusão social na América Latina
ANALÚ RIBEIRO E NAIRA DINIZ*
Durante o painel Atividades de Comunicação da Ciência para Inclusão na América Latina do PCS12014, pesquisadores do Brasil e México debateram os desafios da integração entre a inclusão social e a popularização da ciência. Eles defenderam o tema, através da apresentação de diferentes experiências desenvolvidas nos dois países latinos.
“No geral, ciência e tecnologia não são usadas na inclusão digital, por isso temos um grande desafio de mudar esse cenário”, acredita o pesquisador Douglas Silva, diretor do Departamento de Popularização e Difusão da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins do Rio de Janeiro. Desde 2006 o pesquisador desenvolve um projeto que leva famílias de baixa renda do município de Alcântara, localizado a 427 km da capital do Maranhão, São Luis, para participar de atividades de iniciação científica e oficinas sobre diversos temas, como por exemplo, reciclagem. São estudantes de escolas públicas e agentes de saúde.
A maioria da população do munícipio de Alcântara tem origem quilombola, 80% vive na zona rural e sobrevive de atividades como o extrativismo praticado de forma artesanal, pesca e agricultura. Embora tenha uma base para lançamento de foguetes em seu território, Alcântara possui um dos maiores índices de analfabetismo do estado. Diante desse contexto social, tornou-se essencial levar a comunidade informações sobre os impactos provocados pela estação espacial.
Outra experiência apresentada durante o painel foi trazida pelo pesquisador Noboru Takeuchi, da Universidade Nacional Autónoma do México. Ele debateu sobre a importância do projeto de popularização da ciência para o público infantil em comunidades indígenas. No México, 10% da população é composta por povos e comunidades indígenas. Muitas dessas comunidades vivem em situação de pobreza. De acordo com o Plano Nacional de Desenvolvimento do governo do México as comunidades indígenas, devem ser ajudadas no combate ao atraso social e esta é uma das áreas de maior relevância pública para o desenvolvimento do país. Por isso é importante divulgar a ciência e a tecnologia entre os povos indígenas.
O trabalho é desenvolvido através da confecção de livros escritos pelo próprio pesquisador e outros parceiros nas línguas indígenas e espanhol, que são distribuídos para as comunidades indígenas, principalmente para as crianças, já que grande parte dos integrantes dessas comunidades além de falarem a língua de sua comunidade, utilizam o espanhol como segunda língua.
Além de livros, são utilizados vídeos, sites, jogos e visitas guiadas ao Centro de Nanociências e Nanotecnologia da Universidad Autónoma do México (CNyN) para gerar nas crianças o interesse pelos temas ligados à ciência e tecnologia.
A terceira pesquisadora que apresentou outra experiência exitosa foi a professora Maria Helena Steffani, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que também defende a necessidade de tornar o conhecimento científico mais acessível. “Todas as pessoas têm direito ao acesso à ciência, cultura e arte”, frisa.
Maria Helena é autora do projeto “Astronomia com Arte”, que esclarece temas da astronomia por meio da arte. As reuniões do grupo são realizadas no Planetário Prof. José Baptista Pereira, no qual a professora é diretora. A ideia surgiu a partir de uma experiência com idosos e deficientes interessados em ciência. Hoje, ela desenvolve trabalhos com cerâmica através de um grupo de pesquisa e extensão intitulado Cerâmica e Inclusão que procura aproximar deficientes visuais do universo acadêmico. São eles que confeccionam os objetos de cerâmica, que representam os planetas do Sistema Solar. Quando as peças estão prontas, uma camada de tinta texturizada é utilizada para que através do toque e da percepção sensitiva eles possam conhecer os planetas.
A professora reconhece a importância destas atividades para a difusão do trabalho científico e defende que os pesquisadores devem ter interesse em disseminar a ciência.“Os pesquisadores precisam refletir sobre fazer cientifico e ir de encontro à população”, conclui Maria Helena.
*Estudantes de Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba e colaboradoras da Agência de Notícias Ciência e Cultura.